“Finalmente, livre!” Muito emocionado, Behrouz Boochani, o refugiado curdo-iraniano e jornalista que se tornou a voz dos migrantes detidos pela Austrália na Ilha de Manus (na Papua Nova-Guiné), desembarcou na passada quinta-feira, 14, na Nova Zelândia. O seu “voo para liberdade” só foi possível depois de meses de negociações com as autoridades australianas, debaixo de uma grande pressão internacional.
“Quando cheguei a Auckland foi muito estranho, porque pela primeira vez olhei para Manus à distância”, disse ao jornalista do The Guardian que o esperava no aeroporto. “Lá eu pensava sobretudo em sobreviver. Hoje estou feliz por ter sobrevivido.”
A situação desumana em que este refugiado se encontrava há mais de seis anos ganhou exposição quando ele ganhou, em janeiro deste ano, o maior prémio literário da Austrália, com o livro No Friend But the Mountains: Writing from Manus Prison. O editor que o publicou, em julho de 2018, recebeu o manuscrito em fragmentos, por mensagens de WhatsApp.
E foi um convite para participar num festival literário, na Nova Zelândia, que permitiu acelerar a sua saída de Manus, que se arrastava há mais de seis anos. Boochani aterra em Auckland com um visto de um mês, mas, contando com o apoio das Nações Unidas e da Amnistia Internacional, só sairá daquele país para outro onde lhe possa ser concedido asilo político. Não há como voltar a prender numa gaiola um pássaro que voou para a liberdade.
A ilha de Manus, tal como a ilha de Nauru, e outras que a Austrália vem utilizando para colocar os milhares de migrantes que tentam chegar de barco à Austrália “em processamento”, já não é o inferno que Boochani conheceu, quando ali foi detido, em 2013.
O centro de detenção de refugiados em Manus foi fechado no final de 2017, e Boochani foi levado para uma prisão, com outras três centenas de pessoas. Desde então, cerca de 70% dos detidos enviados pela Austrália para a Papua-Nova Guiné nos últimos anos já saíram do local. Os restantes permanece presos, por terem tentado entrar na Austrália de forma ilegal.