César Prata tem vindo a desenvolver um trabalho extraordinário na recuperação e retratamento da música popular de tradição oral, especialmente no interior centro e norte do país. Faz parte daquele conjunto de músicos que não olha para a tradição como algo cristalizado no tempo, mas como matéria dinâmica e fluída em que, apesar da autoria desconhecido e a apropriação coletiva, se encontra espaço para a leitura individual. É o que faz neste Rezas, Benzeduras e outras cantigas, em que se junta à voz de Vânia Couto. Por um lado há um trabalho de recolha, com descobertas notáveis, de canções e orações tradicional, onde se descobre versos como este “Tenho sede Amor dá-me água/ Não me dês da panela/ Dá-me pela tua boca/ Que não tenho nojo dela”. Por outro lado há um trabalho ao nível dos arranjos notável. Por vezes, como no início da Oração a Santa Bárbara, até lembra as experiência mais radicais de Magafone (João Aguardela), mas em geral a reconstrução faz-se dando primazia aos próprios instrumentos tradicionais no contexto, servindo-se na sua facilidade multi-instrumentista, tocando, entre outros, adufe, bandolim, caxixe, guitarra, ukelele, mas servindo-se também, sem preconceito nem receios, das programações do seu laptop. Rezas, Bezedouras e Outras Cantigas é um verdadeiro disco de fusão, no melhor sentido do termo, construído em camadas, que o tornam interessante para diferentes públicos. É preciso apenas saber ouvi-lo.
César Prata – Tradição 2.0
Rezas, Benzedouras e outras cantigas, o novo disco de César Prata e Vânia Couto inventa a sua própria tradição
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