JL: Qual foi o ponto de partida deste disco?
Tó Trips: Antes de começarmos a trabalhar nele, pensámos no que poderíamos fazer para não nos repetirmos. Tínhamos umas malhas antigas de sonoridade africana (que acabámos por não usar) e, há dois anos, quando fomos ao Brasil, vimos alguns concertos de músicos africanos. Achámos, então, que este era um caminho possível: tocar a África do nosso imaginário. Não somos os tipos ideais para tocar mornas, e já há quem o faça muito bem, por isso, os temas surgiram da nossa ideia do que seria uma sonoridade africana.
Daí a ideia de mistura, presente no título Lisboa Mulata…
Sim. Também porque quando tocamos lá fora, fazemos questão de dizer que somos de Lisboa, e não tínhamos “Lisboa” sequer no nome de uma música, então, desta vez, quisemos pô-la na capa e no nome do álbum. Entretanto, deu-se uma bela coincidência: o Pedro trouxe para a garagem uma guitarra acústica, mas mais pequena do que o normal, que era da mãe dele. Tinha sido fabricada em 1969 por um tal de Duarte Costa. Fomos ‘investigar’ e descobrimos que este senhor, já falecido, abriu uma escola de guitarra clássica, em Lisboa e Coimbra, entre os anos 50 e 60, e criou este modelo chamado Mulata, que eram guitarras acústicas, mas mais pequenas por serem para os miúdos. Como a usámos na maior parte dos temas, surgiu-nos o nome “Lisboa Mulata”, que traduz a própria ambiência do disco. Uma Lisboa de mistura.
Este disco tem uma letra de Sérgio Godinho, dita por Camané, e a participação do Marc Ribot em quatro temas. Como aconteceram estas colaborações?
Queríamos uma voz para uma das malhas e lembrámo-nos do Camané, que eu conheço bem antes de ser ‘o Camané’. Fizemos a tropa juntos! E como ele não escreve, o Pedro lembrou-se de pedir um texto ao Sérgio, com quem já tinha tocado. O Ribot é uma grande referência para nós, aliás, o tema ‘Ribot’ do nosso primeiro disco é dedicado a ele. Gravei as primeiras malhas de Dead Combo graças a ele: quando ouvi os álbuns
Cubanos Postizos e
Marc Ribot Plays Solo Guitar Works of Frantz Casseus, pensei “Aqui está o que eu gostava de fazer”. Sempre tivemos este sonho, que ele trabalhasse connosco. Já o tínhamos contactado há dois anos, mas não se avançou, então, em março deste ano, quando ele veio tocar ao São Jorge, fomos lá ter, conversámos, e ele aceitou.