JL: Fundaram a Associação cultural Galandum Galundaina. Qual foi o propósito?
Paulo Meirinhos: Criámos a associação com o intuito de recolher, investigar e divulgar a música mirandesa. Organizamos festivais e apoiamos grupos. E divulgamos a música através do grupo.
Como é o trabalho de recolha e investigação?
Paulo Preto: Já fizemos trabalho de microfone, mas hoje em dia, quando encontramos uma cantiga bonita pedimos que nos cantem e gravamos num telemóvel.
PM: É mais do convívio do dia-a-dia. Volta e meia, cantam-nos uma música. Sem estar com a intenção de recolha.
PP: A mãe dos meirinhos teve bastante importância na recolha. Outras canções já toda a gente conhece, fazem parte do reportório tradicional.
Constroem os instrumentos. Está-lhes no sangue?
PM: O meu avô era carpinteiro. Tocava caixa e fazia pandeiros, mas deixou de fazer há 30 anos. A certa altura andei à procura de instrumentos só que não existiam em lado nenhum e acabei por me dedicar à construção. Faço as rabecas, o Paulo Preto tamboris, o Alexandre caixas, o Manuel flautas pastoris, a partir de osso de aves.
Os instrumentos são inspirados em ilustrações medievais?
PM: Sim, desenho a partir das pinturas, além disso enquadram-se perfeitamente no ambiente que pretendemos, um instrumento rústico, com som arcaico.
Qual é a diferença entre as rabecas que faz e aquelas que se encontraram nos países do leste, por exemplo?
Paulo Preto: Não sei ao certo. Há quem se dedique a investigar o purismo, mas eu acho que a tradição se faz todos os dias.
PM: A música tradicional sempre serviu os interesses da época. Tentamos tornar a música mirandesa actual e moderna, para que se identifiquem, com o que estamos a fazer.
PP: A nossa música é tradicional, mas tem uma dinâmica moderna, senão estaríamos lá em cima a tocar nas festas ou para os estudiosos que são contra esta vertente contemporânea.
Para colocar a música numa torre do tombo?
PM: É mais ou menos isso. Não estamos a cortar na tradição, baseamo-nos muito nela. Temos é um pouco mais de nós.
Além de os construírem, modificam-nos, escolhem as afinações…
PP: Escolhemos materiais e sonoridades que possam dar um brilho distinto. Uma corda de nylon, metal ou de tripa tem um timbre diferente, embora seja a mesma nota. São os casamento timbricos que nós procuramos.
No último álbum recorrem ao legado oral. O profano e o sagrado andam lado a lado…
PM: Apercebemo-nos depois que muitas das músicas no disco eram de crítica ao clero. A escolha foi pela beleza das músicas.
PP: É a tradição. As pessoas ao mesmo tempo tinham uma religiosidade fervorosa e um paganismo incrível. Por exemplo, depois do terreiro cantavam as versões brejeiras da dança O Senhor Galadum:
– A tua mãe disse-me que tu não ias ter filhos, que podia estar à vontade, (…), mas depois saíste-me prenha, …
Quem está na capa do álbum?
PM: Um deles é meu avó, o padre Mourinho é outro. Ele foi um grandes divulgadores da cultura mirandesa. Uma partiu da nossa ideia de Senhor Galadum, significa uma pessoa bem parecida, galã, e que penso que tinha tudo a haver com a ideia do título.
Não editavam há cinco anos. A que se deveu essa demora?
PP: Todas as coisas têm um certo tempo. Gostamos de fazer com calma e bem feito. O próximo disco provavelmente, não irá demorar tanto. Mas nunca é tarde, o Modas i Azonas demorou cinco anos a ser consumido.
PM: O que nos falta é disponibilidade é total. Para além do trabalhamos cada um tem os seus afazeres, família….
Armando Carvalhêda, em Viva a música, da RDP, refere-se a Senhor Galadum como um disco da década…
PP: Fiquei extremamente admirado. Se me disse-se só uma vez estava a ser simpático, mas repetiu-o. Eu fico extremamente preocupado porque, provavelmente os outros grupos não vão gostar da brincadeira (risos). Modas i Anzonas, também ficou classificado como um dos discos da década (em 4º segundo o Ípsilon, do Público). Temos intenções de continuar a ser os melhores e os mais modestos (risos). Não queremos de ser um grupo de consumo imediato. É um dos segredos.
PM: Mas, acima de tudo, fazemos isto com muito gosto.