Ouviu-se ladrar do outro lado da porta, mal soou a campainha. Era de esperar. Maria Velho da Costa gosta de cães. A sua cadela, uma carlino pug, faz as honras da casa. O velho gato preto, mais tímido e reservado, só se dará a ver mais tarde. E os bichos só vêm ao caso porque também ‘falam’ no novo romance da escritora, Myra, que agora publica oito anos depois de Irene ou o Contrato Social, que lhe valeu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de escritores (APE).
O livro começou pelo ‘conto’ de uma menina imigrante russa que foge de casa e dos maus-tratos familiarese que encontra um cão de luta, abandonado num barracão depois de um combate de morte. A partir daí, como diz, foi só puxar os fios. Da narrativa e da sua escrita. Que são sempre os mesmos os fios que tecem a sua ficção.
Nascida em Lisboa, em 1938, Maria Velho da Costa, filha de uma catequista e de um oficial da GNR, passou a infância entre os quartéis onde pernoitava, como afirmou ao JL em 1994, e o colégio de freiras onde estudou. Faria o curso de Filologia Germânica, e ainda chegou a dar aulas de Português e Inglês, mas o seu ‘quartel-general’ seria a escrita. Publicou o primeiro livro, Lugar Comum, em 1966, seguindo-se romances fundamentais como Maina Mendes ou Casas Pardas e, mais tarde, Lúcialima ou Missa in Albis. Também contos e outras obras como O Cravo, Rosa Fixa, Corpo Verde, Dores ou O Amante do Crato.
Para a história da Literatura, do feminismo, da censura durante o fascismo e das mentalidades no país contribuiu, por outro lado, com as Novas Cartas Portuguesas, que Maria Velho da Costa escreveu com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno. Uma pedrada no charco no Portugal marcelista que havia de levar as autoras ao banco dos réus, sob a acusação de ofensas à moral e aos bons costumes, em 1972: o famoso processo das «Três Marias», que desencadearia uma onda de solidariedade internacional. Recentemente, teve outra experiência epistolar mais pacifica, uma parceria com armando Silva Carvalho que resultou n’O Livro do Meio.
Maria Velho da Costa foi leitora no King’s College, em Londres, a convite de Helder Macedo, nos anos 80, e posteriormente adida cultural da embaixada portuguesa em Cabo Verde. De regresso a Lisboa, na década de 1990, trabalhou na Comissão dos Descobrimentos e no Instituto Camões. Também foi presidente da APE, entre 1976 e 1978, após ter sido da direcção de José Gomes Ferreira, logo a seguir ao 25 de Abril. Distinguida, em 2002, com o Prémio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa, a escritora experimentou ainda a ‘casa do palco’ com Madame, peça encenada por Ricardo Pais, em 2000, e representada por duas actrizes, a portuguesa Eunice Muñoz e a brasileira Eva Wilma. E escreveu para cinema: Veredas, de João César Monteiro, Mal, de Alberto Seixas Santos, e Rosa Negra, de Margarida Gil, entre outros filmes. Nada de estranhar, já que é «visual» a sua escrita. Porque Maria Velho da Costa vê antes de escrever. «Alucino », diz, com um sinal de humor que também assinala o que escreve. Sempre num caderno A4, só do lado direito da folha.
Jornal de Letras: Myra tem uma dimensão multicultural muito forte. Quis reflectir a realidade da sociedade portuguesa contemporânea?
Maria Velho da Costa: … A intenção não era essa, mas acabou por impor-se. É o ar do tempo. Sabemos que este país está cheio de gente de outras partes e que a maioria vive em estado de alto risco. Não queria que se tomasse como uma intenção moralista…
E política?
Política, é. Espero é que não seja vista como um inventário das desgraças em Portugal. Impôs-se como tal. Começa no ponto de partida: se a criança é uma imigrante e o cão um banido, basta puxar os fios.
É a actualidade que entra Literatura dentro?
Sempre foi um pouco assim em tudo o que escrevi. Este livro não é diferente. Manuel Gusmão que o leu ainda manuscrito, diz que é o tema da catástrofe. E é a catástrofe da maioria das vidas que aqui se acolhem. Devo dizer que há várias semanas que não pego no livro. Não sinto necessidade por enquanto de estar a reflectir muito sobre ele. Espero fazê-lo no diálogo com alguns amigos mais próximos, que já o leram.
E importa-lhe também a opinião da crítica?
Os que estudam os textos têm sido fundamentais para todo o meu trabalho. Há pessoas que se queixam muito da incompreensão dos críticos. Eu tive sorte, porque há pessoas que ajudando-me a entender o que fiz, apontam-me direcções para o que vou fazer. A minha relação com a crítica ajudame a entender melhor de onde venho e para onde vou, em termos de Literatura e mesmo de estar no mundo. Salvo raras excepções, não tenho pedras no sapato em relação à crítica.
Mas por que razão já se ‘separou’ de Myra?
Tenho dificuldade em meter-me novamente dentro de um livro, que foi feito num tempo relativamente curto.
Quando começou a escrevê-lo?
Em Fevereiro. E acabei-o em Julho. Foi um livro que me exigiu muito. De momento, prefiro deixá-lo um pouco em pousio.
Costuma ser assim com todos os romances?
Não. É especialmente com este, mas não sei dizer porquê. Talvez pelo tema em si.
É um livro sobre a crueldade e a violência?
A crueldade, mas também a compaixão. Armando Silva Carvalho diz que é sobre a lealdade. Também há de facto bastante violência. A cena de carjacking é crueldade pura. Mas passa por todo o livro, desde o primeiro capítulo, que foi escrito muito antes.
Como surgiu?
É muito curioso. Foi ao meu neto Afonso, agora com 13 anos, mas nessa altura ainda pequeno, que contei ao deitar a história dessa menina russa e do pit bull. Acabei por escrever esse conto, cuja primeira versão foi oral e que surgiu porque ele me fazia muitas perguntas sobre o que eram os cães de combate. O meu neto gosta muito de cães, aliás como todos nós, na família. Uma vez, Agustina Bessa-Luís disse-me uma coisa extraordinária: «As pessoas que gostam de cães são profundamente egoístas». E acrescentou: «Eu adoro cães». É mesmo dela. De facto nunca estávamos juntas sem que perguntasse pela minha cadela.
Que é?
Uma pug. E Sophia uma vez disse-me: «A Maria gosta tanto de cães que eles ficam com cara de pessoas». Fiz mais do que uma versão desse conto. Uma para as Ficções, de Luísa Costa Gomes, outra para a revista Egoísta, de Patrícia Reis, e uma terceira para uma antologia chamada Cartas da Europa, com prefácio de Eduardo Lourenço. Pensei entretanto escrever um livro de contos, mas não me apetecia. Esta história começou a absorverme imenso.
Prefere escrever romances?
Não sei. O conto é um repouso. O romance exige uma total dedicação. Entra-se num estado de obsessão de tal forma que vamos na rua e temos necessidade de tomar nota de uma ideia que passa pela cabeça. Há uma ferocidade com o romance, uma avidez na construção ficcional. E são meses. Ainda mais quando, como no caso de Missa in Albis, há um lado obsessivo de pesquisa. Lembro-me que li muitíssimo sobre Timor. Quando escrevi Irene ou o contrato social, foi a obra de Irene Lisboa. Aí foi precioso o auxílio de Paula Morão, que me deu imensas sugestões e livros para ler, inclusivamente os Contarelos. No caso de Timor foi Rui Cinatti que me deu uma grande ajuda e muita informação.
E para Myra?
Aqui foram apenas memórias. Da Rússia, onde estive em 1976, com o José Gomes Ferreira e a mulher, e mais tarde quando já era presidente da APE. Foram visitas oficiais, mas daquelas que dão para ver, ouvir, cheirar e sentir muita coisa.
E também de Cabo Verde?
Aí estive mais tempo. É uma cultura rara que dá muito valor não só à música como à palavra.
Como é que esse conto inicial passou a primeiro capítulo de um romance?
Logo que contei a história ao meu neto, ele perguntou: «E depois, o que aconteceu?». Acho que foram duas criaturas que se apropriaram do meu imaginário, aquela rapariguinha e a relação de afectividade e de cumplicidade com um cão que é banido em muitos países e considerado de alto risco. Mas é-o como qualquer outro cão. Um chihuahua não tem a boca de um pit bull, mas pode ser extremamente agressivo.
Escreve a certa altura no seu romance que uma «raça não é um destino». Quis também abordar a questão do racismo?
Sim, também tem a ver com o problema das etnias. Na espécie humana, não há raças, mas etnias. E cão é cão, como dizia Manuel Alegre. Vêm todos do lobo. É um animal que foi manipulado geneticamente. A própria agressividade também tem a ver com a manipulação do animal em pequeno. O pit bull é um animal territorial, mas isso todos os mastins o são. Aliás, foi criado a partir do bulldog, que se for bem tratado é um dos cães mais doces da Terra. Não é necessariamente perigoso, e todos os cães o podem ser, se forem maltratados e rejeitados. O treino desses cães é uma coisa monstruosa.
Perigosos são então aqueles que os treinam?
Se calhar, quem devia andar açaimado eram eles. Usam esses cães para o combate para terem lucro, porque as lutas de cães têm uma componente financeira. Mas o pit bull é um cão muito popular entre os marginais, como defesa, contra outros marginais, dealers contra dealers, contra a polícia. Porque atiçado e treinado para isso é de facto um animal temível. Nós, porém, também somos um primata superior muito perigoso. Provavelmente o mais perigoso de todos. Nenhum outro fez o que nós fizemos ao cimo da Terra. E o que somos capazes de fazer uns aos outros.
Como cresce ao correr da escrita uma personagem como Myra?
Há uma parte do trabalho de ficção que nós controlamos. Sabemos que queremos uma determinada personagem, que não está certo uma coisa que escrevemos. Mas como em qualquer arte, por vezes sentimos que falta não sabemos o quê. É uma das coisas mais excitantes e, por outro lado, mais angustiosas do trabalho artístico. Por exemplo, quando se quer criar as «cenas fulgor», como chamava a Maria Gabriela Llansol, por vezes só se chega lá com uma mistura de angústia e de inconsciência.
Menciona no seu romance um livro de Llansol, Amar um cão…
É um livro extraordinário.
Convoca de resto para a sua narrativa vários escritores, cineastas. É uma homenagem aos ‘seus’ autores?
Tenho os meus cultos, como suponho que qualquer artista tem seja em que área for. Podem variar consoante a época em que estou, mas não muito. E nunca tive a angústia da influência. O que tenho é a angústia da incompetência, da ineficiência.
Em que sentido?
Ler uma coisa que me maravilha tanto que penso que nunca chegarei lá. Sinto isso desde os 16 anos, quando comecei a tentar escrever. Foi o que senti quando li pela primeira vez Virginia Woolf ou, no caso português, a Maria Gabriela, a Agustina, e muitos outros. Quando li as suas obras pensei que aquilo era inultrapassável. E era. E é. Só que há outros caminhos, como a Casa do Senhor que tem muitas moradas … Não temo influências. Se for de alguém que respeito muito, tanto melhor: deixa entrar.
Quando começou a escrever?
Antes da 4ª classe. As minhas redacções eram muito apreciadas. Acho que compensava uma grande dificuldade na área da aritmética com a facilidade em escrever, nas línguas em geral. Uma aura cultural
O seu romance está cheio de línguas. Continua a ser forte esse seu interesse?
Sim, interesso-me muito por questões linguísticas. Às vezes, até penso se em vez da Filologia Germânica, que era um curso muito fraco na altura em que estudei, não teria sido melhor para mim fazer uma formação em Linguística. O português, com as suas variantes, é apaixonante. Também insiro no livro o crioulo cabo-verdiano, que é outra língua, mas entronca directamente na nossa.
Aprendeu crioulo quando esteve em Cabo Verde?
Tem essa facilidade de aprender outras línguas e linguarejares. É um pouco como Borges? Guimarães Rosa aprendeu 18 línguas, entre elas o russo, para poder ler os autores russos no original. Confesso que sinto mais a aura de Guimarães Rosa do que a de Borges. Penso que os mais altos cumes da Língua Portuguesa são Guimarães Rosa e Camões. Depois há quem faça com a língua outro tipo de trabalho, como por exemplo o Herberto Hélder. É simultaneamente um trabalho sobre a língua e sobre a alma. Para certas pessoas é aterrador, para mim é exaltante.
Também faz uma alusão a Herberto em Myra evocando Os passos em volta.
É uma referência que aparece em itálico, quando eles circulam na costa atlântica, vão ao promontório e voltam ao casebre do marinheiro. Tudo isso é muito herbertiano. Todas as referências que faço no livro são homenagens e aparecem sempre em itálico. Ainda pensei pôr uma lista dos referidos, mas fizeram-me ver que isso não se faz em ficção, só num ensaio ou numa obra académica.
Essas referências literárias fazem parte da composição de Myra enquanto personagem?
E não só da Literatura, mas também do cinema, da pintura. Myra é uma criança-mulher, mas não tem nada de Lolita. Não é perversa. Uma das suas características é a avidez cultural. É uma criatura cheia de curiosidade, até certo ponto procura uma ‘aura’ e o que lhe resta dela é a memória da infância com a avó, em Moscovo. Daí a obsessão de voltar para Leste. Os encontros que tem, todos inverosímeis, têm que ver com isso. Aliás, ela própria é inverosímil. Procura um sentido através da arte e do amor, mas reserva-se, mesmo quando encontra….
O seu príncipe encantado?
Sim, há um lado de conto de fadas, fantástico. Aquela casa encantada é como a de A Bela e o Monstro. Também há uma referência a Cocteau. E todas as pessoas dessa casa têm um segredo, mas não me apeteceu entrar em pormenores. É uma casa secreta, com pessoas secretas. Só a garota e o garoto se revelam o suficiente. Aliás, esse jovem cabo-verdiano que Myra encontra é uma personagem que vem de Irene ou o contrato social. Só que tem mais uns anos.
Acontece-lhe muitas vezes as personagens movimentarem-se de uns romances para os outros?
Mais do que uma vez. Em Irene, há uma personagem, Elisa, que vem das Casas Pardas. Tem uma certa graça, essa auto-referência.
Myra é uma fábula dos tempos que correm?
Sim. E os animais falam. Acho que é um livro para crianças velhas, para pessoas com alguma maturidade, mas que mantêm certos sonhos e encantamentos infantis.
E de alguma maneira a sua infância passa por este romance?
Não. Não me identifico com esta rapariguinha. Não sou eu. Com certeza tem facetas minhas como todas as personagens. «Madame Bovary c’est moi» e outros lugares comuns. Mas o cão também sou eu. Acho que há uma altura em que a rapariga diz isso mesmo. É a manifestação do que existe de fusional em todo o amor.
Que relação pode existir entre esta Myra e as suas outras grandes personagens femininas?
A Myra é uma Maina que fala. Tem certas características da Maina como a tenacidade ou a rebeldia, mas fala e é competentíssima a usar várias formas de linguagem, até o português. Isso não é inverosímil, porque uma das características dos imigrantes do Leste é que são extraordinários a nível escolar e aprendem rapidamente novas formas linguísticas.
Também há um matiz comum a todas as personagens?
Mesmo as presenças portuguesas são figuras relativamente mal consigo. São pessoas em estado de deslocação, todos estão em trânsito, mas não se resignaram a não encontrar poiso. Outro dos temas do livro é a deriva.
Essa é a condição humana?
Mas escusa de ser um holocausto. Não gosto dessa palavra que está muito gasta e centrada na II Guerra Mundial, mas como digo no livro o holocausto é todos os dias. Ovos de oiro
Myra tem pinturas de Ilda David. Como surgiu essa ligação?
Foi uma daquelas coincidências felizes. Conheci a Ilda David e o Manuel Rosa [editor da Assírio & Alvim] através do Armando Silva Carvalho, quando fiz com ele O Livro do Meio, editado pela Caminho. Foi um encontro feliz. Não só como editores, mas também como artistas são pessoas excepcionais. De uma grande simpatia e generosidade. Interessamse genuinamente por uma obra. Vão sair oito pinturas da Ilda David, além da capa. Mas ela pintou muitas mais e são extraordinárias, feitas do lado de dentro do livro.
Há oito anos que não publicava um romance. Porquê esta demora?
Passo a vida a ‘ameaçar’ que me despeço da escrita. No início d’ O Livro do Meio, digo que perdi o impulso, que tenho medo do tumulto. E a verdade é que digo muitas vezes: «Não mais musa. Acabou». Só que depois vêm estes ‘repentes’. Não sou o tipo de escritor que põe um ovo todos os anos, por mais que seja o ovo de oiro… Não tenho essa capacidade poedeira. Há escritores que escrevem compulsivamente e dizem que se não o fazem se sentem muito mal. Eu sinto-me mal quando não escrevo e às vezes também quando escrevo.
A escrita é para si sempre sofrida?
Tenho dias e momentos. Mas nunca escrevo sem ansiedade. E custa-me entender os que dizem que adoram escrever. E isso não acontece apenas com os escritores, mas com os outros artistas. Uma vez Menez, que era uma pintora extraordinária, deixou-me vê-la pintar. Às tantas, abstraiu-se que eu estava lá e ouvi que rangia os dentes de tensão, enquanto pintava.
E reescreve muito o que escreve?
Nem sempre. Até certo ponto da minha vida, até à Irene, fiz reescrita. Neste romance andei foi a remexer no manuscrito. E fiz várias versões de cada capítulo.
Escreve sempre à mão?
Não escrevo em computador, mas em cadernos. Não é com uma Bic Cristal, como o Herberto, mas com uma lapiseira Caran d’Ache. E deixo o lado esquerdo do caderno sempre limpo para fazer deduções, saídas. E tenho um caderninho à parte para as anotações.
E quando sabe o fim da história?
Neste livro, soube como iria acabar quando se chega ao Porto. Mas lembro-me que estava na cozinha quando ouvi a fala final do cão. Não sou muito chorona, mas comoveu-me, quase como se fosse uma alucinação auditiva.
Já se tinha comovido com outra das suas personagens?
Já. Com o discurso da Mary, nas Casas Pardas. Foi escrito a chorar.
Esse O Livro do Meio não terá continuidade?
Nem eu, nem o Armando sabemos. Mas não é nada com que não brinquemos de vez em quando. Foi uma experiência extraordinária. Aí a ansiedade era protegida, porque todas as semanas mostrávamos um ao outro o trabalho escrito. Nas Novas Cartas Portuguesas também era mais protegido por essa razão. É completamente diferente escrever com outras pessoas ou a sós. Sobretudo porque sabemos que vamos ter uma resposta imediata do outro ou dos outros
E teatro?
Depois da experiência de Madame não teve vontade de voltar a escrever para o palco? Essa foi uma encomenda generosíssima de Ricardo Pais, que queria fazer um espectáculo com uma actriz brasileira e outra portuguesa. Foi a Eunice e a Wilma. Trabalhámos durante uma semana num hotel do Porto e elas colaboraram no próprio texto. Foi fantástico trabalhar para o teatro com o teatro. Mas escrever para a ‘casa do palco’ também é um treino que eu não tenho. Para cinema, sim, fiz muita coisa. Umas que foram aprovadas e filmadas, com o César Monteiro, com Seixas Santos e com a Margarida Gil. E outras que estão na gaveta. Pelo menos uns dois ou três guiões, como por exemplo, A Cama do Gato, que escrevi para a Margarida. E gosto muito de trabalhar para o cinema.
Porquê?
Porque é tudo logo muito visualizado. Aliás, tudo o que escrevo é muito visual. Antes de escrever, alucino. Depois, fica sempre aquém, porque o que escrevo é sempre menos do que aquilo que vi.