O JL, como de hábito, associa-se ao considerado festival literário mais importante do país. Aqui no site antecipa o essencial da programação. Na edição em papel entrevistaalguns autores que apresentam novos livros no encontro: Germano Almeida, João Melo, Juan Gabriel Vásquez, Ana Cristina Silva, Francisco Duarte Mangas, Ricardo Fonseca Mota. Ainda na edição em papel pré-publica o curto prefácio de Mia Couto ao livro de poemas de Hirondina Joshua, assim como o texto de Francisco Vale e o poema de Ana Luísa Amaral integrados na Revista das Correntes, que este ano homenageia Hélia Correia
Se todos os anos a organização das Correntes d’Escritas procura alcançar uma edição “maior e melhor”, Luís Diamantino (LD), vice-presidente e vereador da Cultura da Câmara da Póvoa de Varzim, acrescenta outro objetivo essencial: “Queremos chegar a novos públicos.” “Desenvolvendo experiências de anos anteriores, este ano as Correntes vão além do que é habitual”, diz ao JL. Um foco na literatura catalã, sessões em freguesias fora da cidade, ações de formação para professores bibliotecários, residências literárias, mais exposições, sessões de cinema e teatro, a par de visitas a escolas, são alguns dos exemplos dessa vontade. “Pretendemos reforçar o nosso estatuto de cidade criativa”, afirma o responsável do encontro, que tem a sempre louvada coordenação de Manuel Ribeiro, diretor do Cine-Teatro Garrett, palco das Correntes entre os dias 19 e 23, com atividades a partir de dia 15. “Também por isso convidámos representantes de Óbidos e de Barcelona para trocar experiências e unir esforços”, esclarece LD.
Najat El Hachmi, Marta Orriols, Tina Vallès e Melcior Comes são os quatro escritores que vão representar a Catalunha nesta edição das Correntes. É o primeiro foco dedicado a uma língua minoritária do vasto espaço ibero-americano. “Ao longo de 20 edições, passaram pelas Correntes numerosos escritores catalães, mas também do País Basco, da Galiza e de outras expressões culturais de Portugal, Espanha e da América Latina”, sublinha o vereador. “Com este foco especial na Catalunha, queremos mostrar a diversidade que compõe o mundo ibero-americano e, sobretudo, a liberdade de que são feitas as Correntes. Qual o segredo da Póvoa de Varzim? Ser um espaço de liberdade, no qual todos os autores podem dizer o que pensam, sem reservas.”
A atenção dada à literatura catalã é o resultado de uma parceria do festival com o Instituto Ramon Llull (IRL). Fundado pelos governos da Catalunha e das Ilhas Baleares e pela autarquia de Barcelona, este organismo tem como objetivo a promoção da língua e da cultura catalãs em Espanha e no estrangeiro. Homenageia um dos fundadores da identidade da região, o teólogo, filósofo e poeta Ramon Llull, que marcou o século XIII ibérico. Com a mediação do agora delegado da Catalunha em Portugal, Rui Reis, que por acaso é poveiro, a parceria avançou – “com o entusiasmo de todos”, assegura LD. Para Izaskun Arretxe, diretora do IRL, que também estará presente na Póvoa, esta é uma oportunidade para “fomentar a literatura catalã entre o público português e incrementar o número de traduções para português”. Atualmente, estão publicados entre nós cerca de 200 títulos de escritores catalães, a que se somam os que vão ser lançados este ano nas Correntes com a presença dos autores. Aprender a falar com as Plantas, de Marta Orriols, foi um dos livros mais falados em 2018. Entre a ficção e a autoficção, narra a experiência de luto da narradora, confrontada com a morte do marido e com o desfazer dos sonhos futuros. Tina Vallès, em A Memória da Árvore, toca em outro assunto atual: a perda da memória e o Alzheimer vistos através do olhar de uma neta. A representação catalã mostra também a sua diversidade, com Najat El Hachmi, de ascendência marroquina, e Melcior Comes, herdeiro da cultura balear (de onde Ramon Lluul também era originário).
De Siza e outras artes
“Mais do que um arquiteto, é um grande artista”, diz LD do convidado para a Conferência de Abertura das Correntes. Álvaro Siza fará a intervenção inicial e estará à conversa com José Carlos de Vasconcelos (dia 19, às 15), sobre arquitetura e outras artes, incluindo a literatura. Será certamente um dos momentos altos do encontro, dadas as pouquíssimas intervenções públicas do arquiteto português, consagrado internacionalmente e já distinguido com os mais importantes prémios mundiais, incluindo o Pritzker, em 1992. É o início de um programa intenso que convocará cerca de cem escritores de 14 nacionalidades. Estarão em diálogo em dez mesas com temas inesperados e improváveis (ver programa na página 20) e visitarão escolas. Na secção Correntes Itinerantes, alguns visitam a freguesia de São Pedro de Rates, num dos limites do concelho da Póvoa de Varzim, e em Navais, mais a norte. Nas Correntes em Rede, Luís Carmelo, Mafalda Milhões, Possidónio Cachapa, Isabel Rio Novo, João Tordo, Isabel Bezelga e Ana Margarida de Carvalho, entre outros, integram a formação para professores bibliotecários. As residências artísticas de um dia realizam-se em quatro espaços da Póvoa de Varzim – Museu de Etnografia e História, Fundação Dr. Luís Rainha e Casa Manuel Lopes – pontos de partida e inspiração para 20 autores.
Numa parceria renovada com Serralves, as Correntes inauguram no Cine-Teatro Garrett a exposição Língua Cega – A Oficina Arara na Coleção de Livros e Edições de Artista da Fundação. A esta juntam-se as que estão patentes nas renovadas Galerias Euracini2, antigo espaço comercial convertido pela câmara em polo cultural. Em antevisão, Miguel Gonçalves Mendes apresenta excertos do seu próximo filme, O Sentido da Vida (dia 18, às 17h), e Mário Lúcio, escritor, músico e anterior ministro da Cultura de Cabo Verde, e Karyna Gomes, da Guiné-Bissau, sobem ao palco para cantar sons dos seus países (dia 19, às 22h). A 15, a poesia sai à rua, com disseurs a percorrerem várias artérias da cidade. “Com mais de 30 lançamentos, um prémio literário único e muitos diálogos com outras artes, as Correntes são uma plataforma para encontros à volta do livro e da literatura”, sintetiza Luís Diamantino. “Queremos continuar a marcar o início do ano editorial.”