O bullying não é uma novidade. Mas em Tenho Medo de Ir à Escola, Tânia Paias procura um novo olhar sobre o fenómeno. Trata-se de uma análise “mais abrangente”, que parte do bullying para abordar também questões relacionadas com a adolescência, as relações entre os jovens e a amizade. “O intuito é revisitar alguns conceitos fundamentais para a prevenção de problemas relacionais das crianças e dos jovens”, diz, ao JL/Educação, a autora, de 36 anos, licenciada em Psicologia Clínica, mestre em Saúde Escolar, e que está a terminar o doutoramento em Ciências Forenses, sobre os comportamentos dos jovens face à violência em contexto educativo.
De que forma a comunidade educativa e os pais podem evitar situações de bullying? Acima de tudo é preciso estar atento ao estilo de comunicação e de consciência entre os jovens. O espaço escolar congrega jovens com personalidades e temperamentos distintos, que nem sempre se encaixam da melhor maneira. Ou seja, as formas de ver, sentir e pensar o que os rodeia podem colidir com questões afetivas, emocionais e relacionais. Em cada faixa etária, os jovens e as crianças têm certas necessidades e interesses, sendo necessário trabalhar determinados conceitos com eles para que se possa evitar, na adolescência, este tipo de situações.
Quais os sinais apresentados por quem é vítima? Variam consoante a circunstância e a criança. Mas, normalmente, revelam que a criança sente falta de liberdade naquilo que faz: as suas atitudes mudam, tornam-se mais apáticos, temerosos, inseguros, manifestando ansiedade ou irritação. São na maioria sinais de introversão, deixando perceber que há algo que não os deixa estar à vontade.
Como se explica este tipo de comportamento por parte do agressor?Normalmente, tem a ver com o próprio temperamento da criança. São crianças mais impulsivas, com dificuldades na gestão do impulso, com um estilo de comunicação mais aguerrido, e que não se sabem colocar no lugar do outro. Devemos ficar em alerta quando começam a andar com coisas que não lhes pertencem (basta uma simples caneta, dinheiro, telemóveis…). Ou se passam a comunicar de forma mais agressiva, impondo a sua vontade à dos colegas, de forma continuada, sem fazerem um esforço para entender o outro.
Criou recentemente o PortalBullying. No que consiste? Nasceu em janeiro de 2010, para mostrar aos jovens vítimas de bullying que devem denunciar, porque o medo faz com que não o façam. Este é um lugar onde podem falar e colocar dúvidas, para aos poucos se sentirem capazes de contar a alguém da esfera mais privada. No fundo, é uma ferramenta com técnicos especializados que esclarecem algumas questões e os ajudam a reagir.
Depois de diagnosticado o problema, o que fazer?Em primeiro lugar, os pais devem falar com os filhos para que em conjunto tomem decisões e estratégias alternativas. Porque, geralmente, a criança tem medo que os pais contem na escola e se torne um ciclo vicioso. Os pais devem limitar esta progressão do medo e fazê-los perceber que é preciso atuar, mas que o jovem estará sempre a par e nunca farão nada sem o seu conhecimento.
E por parte das escolas? As escolas estão cada vez mais habilitadas para lidar com estas situações. Mas é preciso, acima de tudo, trabalhar na prevenção. Dispor de técnicos especializados que possam intervir na convivência e ir ‘ajustando’ constantemente as diversas personalidades.