O filme foi realizado pelo americano Richard Fleischer em 1966, chama-se Fantastic Voyage (Viagem Fantástica) e é um autêntico tesourinho kitsch, que merece ser revisto numa tarde descomprometida. A sinopse é bastante original e tem aquele ar tosco, ed-woodiano, fruto do nível de desenvolvimento das técnicas de efeitos especiais, que até lhe dá alguma graça. E é um bom ponto de partida para refletir sobre a forma como o conceito de futuro vai mudando ao longo dos tempos.
Associamos frequentemente as conquistas futuristas ao desenvolvimento tecnológico ligado à informática ou à engenharia aeroespacial. Esquecemo-nos de outros passos essenciais ao bem estar e à longevidade do homem, sobretudo no domínio da saúde.
Fantastic Voyage, na sua ingenuidade dos anos 60, junta esses dois mundos, ao imaginar uma nave miniaturizada, ao ponto de entrar no organismo humano e curar uma lesão grave. Tudo se assemelha a uma aventura espacial ou submarina, em que em vez de nebulosas e buracos negros, há micro-organismos coloridos, que tornam o cenário, bastante artificial, num banho psicadélico. Quando, através de uma seringa, a nave chega finalmente à veia pretendida e a tripulação depara-se com uma paisagem magnífica, o comandante exclama: “O homem é o centro do universo”. Mas, ao longo do caminho, as referências espaciais são substituídas por outras de teor bélico, fruto da relativa proximidade da II Guerra Mundial (não se fala do Vietname nem da Coreia). O próprio comandante leva uma arma de raio laser que deve utilizar para combater a lesão encontrada.
Otto Klement e Jerome Bixby, os criadores da história, acertaram onde Arthur C Clarke (2001: Odisseia no Espaço) se enganou: o futuro desenvolveu-se através de microchips e não de máquinas gigantes. Mesmo na Medicina, as técnicas por sonda revelaram-se triunfantes. Contudo, nada se aproximou da fantasia carrolliana de encolher pessoas e objetos. Algo poderia ser simultaneamente útil e perigoso. Mas fica a ideia de que tanto pode haver mistérios insondáveis nos confins do universo como na ponta de um cabelo.
Fleischer terá ficado tão encantado com a ideia em si, que descurou quase tudo em volta. Inclui um agente infiltrado, para dar um remate à história, e uma mulher-tripulante, que serve para sugerir uma tensão sexual entre personagens, mas que, seguindo os princípios moralistas da época, não vai além disso.
O futuro hoje já não se desenha assim. Há efeitos espaciais, tecnologia 3 D, já não nos deixamos enganar tão facilmente com os cenários virtuais. Talvez a ficção científica se tenha tornado mais realista. O tempo o dirá.