A eleição de Marinho Pinto para o Parlamento Europeu surpreendeu todos aqueles que não veem os programas da manhã. Hoje, cada vez mais, vivemos em guetos de informação, direcionados a públicos progressivamente mais estanques, que não se deixam contaminar por guetos vizinhos. Muitas vezes são micro-ondas de impacto direcionado e localizado, sem ter necessariamente uma explosão mediática. Tal provoca graves erros de perceção do mundo. Tomando-se a parte pelo todo. Por exemplo, uma minoria intelectual-urbana acreditou que o Livre poderia eleger pelo menos um deputado, a avaliar pelas intenções das pessoas em seu redor. De pouco valem as sondagens feitas lá no bairro. Rui Tavares ficou muito longe de ser eleito.Esses microcírculos mediáticos aumentam o risco da sociedade andar desfasada do mundo real. Muito provavelmente nem os eleitores de Marinho Pinto nem os de Rui Tavares saberão quem é o Nurb. Nurb é um anagrama incompleto de Bruno, um miúdo do liceu de Almada que todos os meses lança um vídeo no youtube, onde diz umas larachas, imitando o estilo de Bruno Nogueira – é natural que os miúdos imitem os mais velhos. Acontece que os seus vídeos chegam a ter 500 mil visualizações. Este número é bastante superior ao conseguido por qualquer programa de televisão, salvo raras exceções, como os últimos episódios das novelas ou transmissões de alguns jogos de futebol. Só que Nurb não está na televisão, apenas na Internet. Os seus vídeos são realizados pelo próprio, em casa, com a ajuda de uma webcam. E têm mais audiência do que programas televisivos sofisticados, feitos por profissionais, onde se gastam milhões. Quando Nurb vai ao Curto Circuito, programa de televisão da SIC Radical, dedicado a um público mais jovem. Obviamente, que este adolescente ídolo de adolescentes tem muito mais audiência do que o próprio programa. Pelo que, de certa forma, se pode dizer que o Curto Circuito é que vai ao Nurb, já que a sua partilha do programa no youtube faz com que a sua audiência aumentasse exponencialmente. Nurb revelou-se com a simplicidade e humildade possível de um miúdo de 17 anos que tem o rei na barriga. Entre outras coisas, explicou que as pessoas concordavam com ele mesmo quando estava a ser irónico, o que, concorde-se, é um pouco desconcertante.Já se sabe que os miúdos deixaram de ver televisão, agora veem programas avulsos que encontram na Internet que nem precisam de ser produzidos pelos canais tradicionais. Cada um cria o seu próprio universo, tendência, fenómeno. É um admirável mundo novo com que os adultos têm que aprender a lidar. Para o ano, o Nurb já terá 18 anos. Em quem irá votar? Talvez forme um partido.
O Homem do Leme: Vota Nurb
Mais na Visão
Parceria TIN/Público
A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites