Na Costa Rica, não é permitido beber álcool no dia de reflexão nem no dia de eleições. Como bons latinos que são, os costa-riquenhos contornam a questão, vendendo cerveja em copos de Coca-Cola. A polícia finge não saber, e não aplica as multas aos infratores. Mas a mensagem está lá: eleições é uma coisa séria, o voto faz-se sóbrio.
Em alguns países, como a Itália, o voto não só é um dever cívico, como um dever legal. Embora não haja notícia de coimas ou prisões para quem não vota. Em Portugal, à medida que a democracia vai deixando de ser questionada, ou seja à medida que nos distanciamos temporalmente da ditadura do Estado Novo (já lá vão quase 40 anos), a abstenção vai aumentando.
Muitos cidadãos não ‘celebram’ a democracia porque esta não está em perigo. Ou, como dizia a velha máxima anarquista, “o voto é do povo, não votes se não ficas desarmado”. O problema, já se sabe, vem noutra máxima democrática: “Podes não querer saber de política, mas o problema é que a política depois também não quer saber de ti”. A abstenção contínua altíssima, não só em Portugal mas em todas as democracias consolidadas, tal significa que os eleitos não representam necessariamente todos, mas apenas aqueles que querem saber. Os outros apenas se deixam representar (podermos sempre argumentar que a inação é uma forma de agir).
Entre os votantes, duvido que alguém reflita grande coisa no dia de reflexão, que está consagrado na lei. Quem não fez as suas escolhas ao longo do tempo de campanha, não será na ‘meditação’ de sábado que irá fazer. Contudo, é positivo que não se ouçam até à véspera os gritos eufóricos das claques, ou as promessas de última hora dos candidatos. É bom que se pare, para deixar a poeira assentar e, já agora, dar alguma solenidade ao ato.
Polémica da cobertura mediática das campanhas à parte, a Comissão Nacional de Eleições foi exemplar na informação aos eleitores. Muitos receberam em casa o novo número e a forma como votar. O que não se percebe é como Portugal, que está na vanguarda da utilização informática em tantos domínios (Via Verde, ebanking, caixas multibanco, finanças…) continua a ser tão arcaico no ato eleitoral. Tudo continua demasiado parecido com 1975, apenas as filas serão mais curtas, todavia mal distribuídas. Acontece regularmente, onde voto, no Liceu Camões, algumas mesas têm fila, enquanto outras estão completamente vazias. Quando entro, já se sabe, há todo aquele ritual que até acho graça – entrego-lhes o meu cartão do cidadão, leem em voz alta o meu nome completo, conferem o nome nos cadernos e assinalam com um V.
O voto eletrónico, que acontece em países como o Brasil e os Estados Unidos, facilitaria em muito o processo. Mas nem era preciso tanto. A informatização dos cadernos eleitorais nas mesas de voto agilizaria a própria votação. Permitiria, por exemplo, que fosse possível votar em qualquer uma das secções. Enfim, para certas coisas, custa demasiado confiar nas máquinas.