“As artes e a crise económica: Uma oportunidade para o terceiro setor?” Este é o tema da 21.ª John Hopkins Fellows Conference, que decorre, em Lisboa, dias 5 e 6 de julho, na Fundação Calouste Gulbenkian e conta com a presença de alguns dos mais reputados estudiosos da área. O JL falou com Jorge Barreto Xavier, o coordenador português da conferência.
Jornal de Letras: Numa época de grande crise, porque é que a cultura é importante?
Jorge Barreto Xavier: Vivemos num paradigma errado sobre a presença da cultura na vida das diferentes sociedades. Pensamos e agimos como se a cultura fosse algo que só se pudesse cumprir quando outras coisas estão alcançadas. Hoje a coesão social exige e necessita como prioridade a construção de identidades e perspetivas societárias comuns. E isso só pode ser conseguido através da cultura. Esta não pode ser vista como algo que se dá quando tudo está resolvido. Aliás, se pensarmos assim, nem resolvemos as outras coisas. A questão da cultura, independentemente de ser política e pública, deve ser vista como preponderante no debate público.
Mas se não há dinheiro para essas outras prioridades, como pode haver para a cultura?
Julgo que esse tipo de argumentação é errado. Organizámos a nossa vida nas últimas décadas a pensar na relação com o dinheiro. O dinheiro é fundamental, sobretudo numa altura em que vivemos num período de escassez, em que temos de encontrar caminhos para alcançar uma maior estabilidade económica e a prosperidade. Há milhões de pessoas em dificuldades. Por isso, pode parecer que argumentar a favor da cultura é argumentar a favor de uma impertinência num momento de urgência social. Mas se nós olharmos para a resolução dos problemas meramente na perspetiva daquilo que é urgente, corremos o risco de não resolver aquilo que é urgente nem dar a desejável estabilidade à sociedade. O nosso olhar tem de estar sempre no curto, médio e longo prazo.
Tudo isto vai ser debatido nas conferências?
O objetivo desta conferência é reposicionar o setor artístico sob a sua capacidade argumentativa, não numa perspetiva simplista de que se quer mais dinheiro para a cultura, mas perceber a importância da presença da cultura na sociedade portuguesa e os modos diversificados que devem ser pensados num contexto internacional de forma não muito premente, para garantir que a presença da cultura na sociedade contemporânea seja possível e relevante. Não podemos esquecer que os custos inerentes às operações culturais são muito baixos e a criação de riqueza material pela atividade cultural cobre amplamente esses custos. Ou seja, o retorno do investimento em cultura é favorável. A cultura gera emprego, visibilidade, competitividade económica e riqueza. Se assim não fosse, a União Europeia não teria apresentado uma proposta para aumentar em 37 por cento o investimento nesta área.
A cultura gera emprego, visibilidade, competitividade económica e riqueza