“Foi uma verdadeira surpresa. Esforçámo-nos, concorremos, mas nunca pensámos ganhar”, diz, com um sorriso satisfeito, Fábio Brás, 14 anos, aluno do 7.º F, da Escola Básica 2, 3, Luís de Sttau Monteiro, em Loures. A sua turma acaba de receber o primeiro lugar do prémio EU Bookshop, atribuído pelo departamento de publicações (Publications Office) da União Europeia (UE). O objetivo do concurso era a criação de um vídeo, de um minuto, que explicasse as funções desta ferramenta – o EU Bookshop disponibiliza on-line todos os documentos que são publicados na UE sobre temáticas tão variadas como Agricultura, Educação, Saúde, Serviços, etc. (www.publications.europa.eu/eu_bookshop/index_pt.htm).”Quando vi o e-mail a dar-nos os parabéns nem queria acreditar. Não fui capaz de ler tudo até ao fim”, conta Carlos Rodrigues, 35 anos, o professor de Produção Multimédia responsável pelo projecto. “Este é o primeiro ano que a disciplina existe na escola e pensei que seria interessante concorrer a algo que pudesse motivar os alunos”, refere o professor que dá aulas há 13 anos, estando há dois na Sttau Monteiro. Não se enganou. “Trabalhamos bastante, mas valeu a pena”, diz ao JL/Educação, Miguel Carrilho, 12 anos. Tudo começou em novembro de 2010 quando a direção da escola autorizou que o projeto avançasse. “Para lá dos planos curriculares que queremos cumprir, damos toda a autonomia aos nossos professores para iniciativas que possam criar nos alunos a vontade de ir mais além”, diz Maria Eugénia Coelho, diretora da escola, em cujo agrupamento (N.º 1, de Loures) trabalha há mais de 20 anos.A primeira aula de Produção Multimédia foi dada a 15 de novembro e, a 18 de janeiro de 2011, o upload do filme para o site estava feito. “Foram dois meses e meio muito intensos. Deparamo-nos com alguns problemas técnicos, mas tivemos todo o apoio da escola e da organização do concurso”, explica Carlos Rodrigues.Depois de muito brainstorming entre os 10 alunos da turma (o 7.º F tem 20, que se dividem, por semestre, entre as disciplinas de Produção Multimédia e Educação Tecnológica) a ideia para o filme partiu do aluno Francisco Marques, 12 anos: “Se este é um site sobre livros que estão num computador, porque não criarmos um computador feito de livros!?” A partir daqui o projeto foi avançando, ainda que nem sempre concordassem com o caminho a seguir. Mas como refere, diplomático, o aluno Miguel Carrilho: “Fomos procurando consensos”.
Livros como tijolos
O filme começa com uma série de livros que parecem formar uma cidade, esta vai-se alargando para se transformar num mapa da Europa. Em som de fundo, ouve-se a Marcha Turca, de Mozart. De repente há um clique num rato de computador, a Marcha recebe acordes metálicos e, a uma velocidade estonteante, os livros começam a formar a torre de um computador. Depois aparece o teclado e finalmente o ecrã onde figura o logótipo do EU Bookshop – uma das condições do extenso regulamento do concurso. “Foi muito útil termos o CEF [Curso de Educação e Formação] de Marcenaria cá na escola. Trabalhamos em conjunto com eles”, explica Paulo Santos, 14 anos. As ‘personagens’ do filme – mais de 500 miniaturas de livros feitas em madeira – foram concebidas pelos alunos de marcenaria, aos quais o prof. Carlos Rodrigues também dá aulas.Depois dos livros prontos, coube à turma do 7.º F, pintá-los e decorá-los. Cada livro foi forrado com papéis de revistas coloridos. Em seguida, os alunos colaram-lhes as palavras que indicam os temas abordados no EU Bookshop, escritas em todas as línguas da união. Além disso, cada livro tinha também, na lombada, a bandeira da UE. “O filme é tão rápido que estes pormenores quase não se veem, mas está tudo lá”, diz o professor. Para a montagem do storyboard (palavra que passou a integrar o vocabulário dos alunos) usaram a fotografia digital e a técnica de stop motion. “Tirámos mais de 1000 fotografias. Construímos o filme como se os livros fossem tijolos, frame a frame. Cada vez que púnhamos um livro em cima de outro, tirávamos uma fotografia. Depois juntámos tudo no programa moviemaker“, explica Francisco.Todas estas matérias integram o programa curricular da disciplina, mas como a carga horária é de apenas 90 minutos por semana, o tempo não chegava para que tudo ficasse pronto a horas. “Os alunos foram incansáveis. Trabalharam em horas de furo e mesmo nas férias do Natal”, lembra Carlos Rodrigues que não hesitou em dar só boas notas. “Eles mereceram”, acrescenta, explicando que, para o trabalho final da disciplina, cada aluno teve que mostrar ter aprendido todas as etapas de montagem do filme.
Provocar criatividade
Depois da euforia da vitória, o grupo teve que escolher quem ia ao Luxemburgo receber o prémio [a entrega oficial decorreu na Casa da Europa, a 16 de março]. Só poderiam ir dois alunos. Democraticamente a turma votou e os eleitos foram o Francisco Marques e o Pedro Teixeira. “Foi justo porque trabalharam mais. Tínhamos votado primeiro no Francisco e no Paulo, mas ele não pode ir porque não tinha o passaporte em dia, depois votamos no Fábio, mas o pai não o deixou ir. Em quarto lugar estava o Pedro”, explica Eduardo Rodrigues, 14 anos. “Foi uma experiência espetacular. Eu nunca tinha saído de Portugal e adorei. Também gostei de ir representar a escola”, revela Pedro Teixeira, 12 anos. Além do reconhecimento do prémio e da viagem para dois alunos e para dois professores, a escola recebeu um cheque no valor de cinco mil euros. “O dinheiro vai ser totalmente utilizado em materiais para a disciplina de Produção Multimédia. Não podia ser de outra maneira. Todo este trabalho foi feito com muito poucos meios e é imperativo que os aumentemos”, explica a diretora da Luís de Sttau Monteiro, Maria Eugénia Correia. “Fiquei muito contente por termos ganho, mas acho que percebi porque nos escolheram. Penso que o nosso filme, mesmo sem palavras, explica muito bem o trabalho do EU Bookshop”, diz, convicto, Francisco, que sonha em ser pediatra. “Em segundo lugar ficou uma escola de Malta e em terceiro, uma da Eslovénia. Eram todos mais velhos que nós, mas foram muito simpáticos”, conta Pedro, um futebolista em potência. Ao concurso do Publications Office concorreram escolas e universidades de 14 países da UE. “O furor que vivemos por causa do concurso e da vitória é, obviamente, bom, mas também é mau. Os outros alunos ficaram a achar que era tudo muito fácil e agora, esbarram com a parte teórica da matéria e pensam que é tudo muito complicado. Esquecem-se de que os colegas que receberam o prémio também passaram por muita teoria”, reflete o professor. Para já, Carlos Rodrigues, que tem sete turmas com a disciplina de Produção Multimédia a seu cargo, não está à procura de mais concursos. Agora é preciso tempo para conhecer os alunos que estão a começar a disciplina. Sabe que lhes terá que ensinar a trabalhar com fotografia digital, com editores de imagem e de vídeo, mas neste momento ainda não vislumbra qual será o trabalho final. Os conteúdos estão planificados e vai ser no desenvolvimento das aulas que tudo vai desenrolar-se. Para já tem algumas certezas: “Quero contribuir para alargar os horizontes dos meus alunos, provocar-lhes a criatividade. Para mim, a escola não faz sentido de outra maneira”.