Desde a Magna Carta (1215), passando pela Bill of Rights (1689), a história inglesa e britânica é marcada por um apego à liberdade e à independência que se traduzem na exaltação do autogoverno em bases firmemente representativas. Ainda hoje, a Grã-Bretanha constitui um regime de parlamentarismo puro. Para se ser alguém na política britânica, para se chegar a qualquer ministério, é preciso passar pelo crivo da tarimba parlamentar. O Brexit talvez cause mais admiração pelo método do que pelo resultado. A ideia de fazer um referendo sobre questões de política externa com relevância estratégica fundamental significa uma desconfiança essencial na capacidade de discernimento dos deputados, e uma confiança jacobina na sabedoria das massas mobilizadas para um voto, dominado por uma lógica emocional e demagógica. Estou certo de que a melhor tradição britânica, do sábio Edmund Burke ao arguto Winston Churchill, consideraria este gesto de David Cameron como lhe sendo totalmente alienígena. Um verdadeiro sinal do populismo “continental” que, pelos vistos, já chegou ao comando do Partido Tory.
O Brexit é um acontecimento histórico, que agora apenas começou a produzir impacto. A incerteza reina sobre o médio e o longo prazo. Se Londres partilhasse a moeda comum, isso seria de imediato catastrófico para o conjunto da UE. Mas, como existe a libra, as consequências serão mais moderadas no curto prazo, não deixando, contudo, de contribuir para o aumento do caudal de desconfiança que vai corroendo os alicerces do projeto europeu. Contudo, em matéria de política ambiental, com ou sem Brexit, Londres vai continuar a depender do acervo comum de legislação e de estratégias desenvolvidos no trabalho conjunto dentro da União ao longo de mais de quatro décadas. Os perigos ambientais são um desafio para a unidade de esforços. São um fator de coesão e de solidariedade. Ao contrário do medo e da demagogia, a dura verdade dos riscos e ameaças ambientais não cessa de nos recordar que só em conjunto poderemos, nós europeus, vencer os enormes obstáculos que nos afastam do futuro.
Ecologia: O Brexit e o ambiente
302251 Clodagh Kilcoyne / Reuters
"O Brexit é um acontecimento histórico, que agora apenas começou a produzir impacto. A incerteza reina sobre o médio e o longo prazo. Se Londres partilhasse a moeda comum, isso seria de imediato catastrófico para o conjunto da UE. Mas, como existe a libra, as consequências serão mais moderadas no curto prazo, não deixando, contudo, de contribuir para o aumento do caudal de desconfiança que vai corroendo os alicerces do projeto europeu."
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