1) Lembrando a definição de Platão. O que é a obra de cada ser?
Que obra se exige a cada um, a cada vivo?
A resposta de Platão (que, como diz Agamben, se pode referir a um humano ou “a um cavalo ou a qualquer outro ser vivo”): a obra de cada ser vivo é “aquilo que ele é o único a fazer ou faz de modo mais belo do que os outros”.
Platão, depois destes anos todos, a colocar-nos a exigência extrema, o primeiro dos deveres. Faz o que ninguém fez ou faz de forma mais bela o que os outros fizeram.
Viver não é assunto fácil.
Tudo o que um ser vivo faz e não merece a sua assinatura ou não faz de forma mais bela que os outros, não é obra, é uma forma de sobreviver.
2) A ler, a ler: O Uso dos Corpos, Giorgio Agamben, editora Boitempo. A ler ainda: Erwin Goffman, Manicómios, prisões e conventos, editora Perspetiva.
3) A oração é uma síntese, uma grandiosa síntese. Mesmo quem não é religioso percebe que há ali o vestígio de uma grande fala. Um grande discurso que vai diminuindo de tamanho, uma longa argumentação que vai prescindido, um a um, dos argumentos até se fixar numa espécie de entrega. Uma fala que é uma disponibilidade.
4) Uma velhice doce ou uma velhice que não se dobra diante de um argumento. Uma velhice que se vira para trás quando ouve o seu nome; ou uma velhice que fraqueja, já ouve e anda mal, mas nunca se vira para trás.
Já virou em definitivo as costas a tudo.
Nos seus Apontamentos, para mim a grande obra de Elias Canetti, ele escreve: “Na velhice, o ser humano tem que decidir entre converter-se em madeira ou em pedra. A madeira é aromática, mas a pedra é mais dura.”