Crónicas
Um médico que deixa morrer à fome
É a senhora matos do 3º esquerdo? Trago aqui as suas compras, pode abrir? Deixe-se estar, não precisa de sair à rua que lhe entrego tudo separadinho por caixas, como pediu: os vegetais, o peixe, a carne, os sumos dos seus netos, as bolachinhas, os sabonetes, as revistas, e ainda lhe trago duas botijas de gás. O elevador não funciona? Não se preocupe senhora, eu subo a pé e levo-lhe todas as caixas lá acima. Vai levar só mais um bocadinho, são muitas caixas. Se tivesse dito que não tinha elevador tínhamos trazido ajuda, hoje sou só eu. Sim, compreendo, não sai de casa há um mês, não reparou no elevador. Já só falta mais uma caixa, pode deixar a porta aberta que eu subo já, já já.
A inútil e lúcida autocrítica
É assim que eu vejo a vida, devíamos ser todos livres em vez de nos estarmos para aqui a debater por isto ou por aquilo, a criar conflitos e confusão, quando na verdade nem estamos convictos do que realmente queremos
Infiltrados
Os autores, quando não são o tema central, infiltram-se nas obras, como Hitchcock nos seus filmes, como um deus passeando na sua criação
E o Brasil aqui tão perto
O desejo de tais "apoiadores", que Bolsonaro estimula, é um regresso, sem máscara, à ditadura
O Dia Mundial da Língua Portuguesa
Num mundo globalizado, não falamos da língua portuguesa como uma realidade fechada, mas de uma realidade aberta e em movimento, e aí estão a sua riqueza e as suas virtualidades
Cárcere com Caetano Veloso
Primeiro plano para lidar com o desafio, sua voz abrindo na casa, como se pássaro subitamente cantasse pelo interior, mas sem perder voo nem o céu inteiro
Homem do Leme: Armistício
No dia do armistício, Cláudio permaneceu encerrado no seu minúsculo apartamento. Ainda tinha atum e feijão para mais três dias.
O aperto de mão
Um Presidente que nos encosta a todos à parede imóveis, para depois nos perguntar porque não avançamos com ele
Rosa Lobato Faria, dez anos depois
No aniversário da sua morte, Eugénio Lisboa recorda a obra de Rosa Lobato Faria
O Primo Basílio, em bailado
Nesta sua crónica, o grande queirosiano comenta a adaptação de O Primo Basílio ao bailado, por Fernando Duarte
Por um 2020 verde
Num domínio decisivo para o futuro de todos nós, 2020 começa muito bem para Lisboa. E começa muito bem para Portugal, porque sendo uma caricatura sem graça e um dislate sem nome aquela frase feita "o país é Lisboa e o resto é paisagem", certo é que Lisboa é a capital do país - e além disso, também por isso, uma espécie de seu símbolo. Sublinho-o sem esconder a minha qualidade de "nortenho" - militante
Evo Morales: O índio fora do lugar
Os acontecimentos dramáticos ocorridos na Bolívia seguiram um guião imperial que os latino-americanos começam a conhecer bem: preparar a mudança de regime de um governo considerado hostil aos interesses dos Estados Unidos (ou melhor das multinacionais norte-americanas)
Segunda oportunidade
Depois de ter sido perseguido pelos carabineros em Santiago, junto com um amigo, e de me terem queimado a cara com disparos de gás lacrimogéneo lançado a poucos metros, como contei na crónica anterior, lembrei-me de que esse mesmo amigo, um ano antes, me tinha oferecido uma garrafa de mescal artesanal, destilado por um seu companheiro, cuja marca era: Llorarás. Não poderia ter sido mais profético.
A obra de um humano
"Tudo o que um ser vivo faz e não merece a sua assinatura ou não faz de forma mais bela que os outros, não é obra, é uma forma de sobreviver", diz Gonçalo M. Tavares em Diário, a sua crónica no JL
O melhor dos contentores possíveis
Os sonhos e os dilemas e as desgraças da casa da Dona Glória, em Na Hora de Comer o Treinador, a crónica de Patrícia Portela