O romantismo na literatura foi um período de sentimentos exagerados e macambúzios, elevados a um extremo doentio. Certo que o poeta é o fingidor, e parte destes sentimentos correspondiam apenas a uma encenação do ofício. Eles houve que levaram a fundo o compromisso do estilo, e fizeram disso uma forma de estar na vida. Taciturnos, esquálidos, vestidos de negro até aos confins da alma. Jessica Rainser, uma das mais badaladas realizadoras austríacas pós-Michael Haneke, recupera uma das grandes figuras do romantismo, o poeta Heinrich von Kleist. Amor Louco baseia-se na sua história, concretamente no suicídio coletivo (dele e da sua amante Henriette Vogel) num filme de época fora das convenções, onde sobretudo se debatem conceitos filosóficos. A ação fica assim retirada para um plano secundário. E até simples dentro da sua impossibilidade utópica: Heinrich predispõe-se a almejar o suprassumo da convenção do romantismo, levando-a à prática, que nem um herói do romantismo. Procura uma alma gémea. Não para partilhar consigo um amor terreno ou uma aventura espontânea e intensa, mas antes alguém que aceite morrer o seu lado.
Esse esplendor absurdo do romantismo torna-se absurdo aos nossos olhos. Se morrer de amor já não se usa, menos ainda morrer em nome do amor que tem todas as condições para ser vivido. Porque a questão que move Heinrich não é o desespero pela não correspondência da mulher amada, mas antes uma enorme melancolia ou o apelo da própria morte. E, consequentemente, quer arrastar para esse abismo, supremo ato de amor, uma carametade.
No meio deste extremismo encontra-se acidentalmente o humor que calha bem porque, Heinrich, um dos grandes escritores alemães, era também autor de comédias como na cena de engate, em que ele pede um pequeno favor à pretendida: matar-se a seu lado. Ou seja, ele dar-lhe-ia um tiro na cabeça e, de seguida, matar-se-ia a si próprio.
Acaba por encontrar, mais à frente, a tal alma gémea. Só que desconfia, pois trata-se de uma mulher a quem foi diagnosticado um cancro, pelo que o heróico ato de romantismo resumirse-ia a apenas a uma breve antecipação da morte, e a causa não seria o amor.
A atração pela morte é assim tratada pela realizadora alemã, tendo como pretexto estas personagens históricas, um pouco como fez Bruno Dumont em Camille Claude 1915 (2013): em que a loucura e a clausura das personagens são pretexto para um debate filosófico mais geral. Aqui o campo das ideias torna-se fascinante, não fosse Von Kleist um autor controverso que é simultaneamente um dos pioneiros de um drama moderno e um defensor de conceitos proto-nazis, segundo algumas análises.
Do filme, com uma austeridade típica do centro da Europa, sobra ainda a construção do cenário e do ambiente. Por um lado, uma simplicidade sóbria, próxima do teatro, estruturando-se dos diálogos, e exibindo em fundo um despretensioso retrato da França e Alemanha da viragem do século (XIX-XX).