O poeta olhava compenetradamente os lírios do campo, tentando a todo o custo extrair das flores a sua essência poética. Avançou decidido até ao canteiro e distraído pisou uma copiosa bosta de vaca que por ali pastava.
Pela primeira vez na sua vida literária o poeta osou uma genuína exclamação poética, uma sonora verdade que nunca antes descortinara no seu floreado de palavras vagas, angustiosas e mundanamente enconadas.
O poeta declamou alto e em bom som:
– Que bela merda.
E os lirios aplaudiram comovidos a exuberância de um lirismo murcho.
Nada como ter um bocado de bosta na bota para encontrar a poesia das pequenas coisas.