E à 19ª edição, a 10 de novembro de 1981, um grande poeta do Brasil e da nossa língua faz a capa e as três primeiras pp. do JL. No que, além do mais, constitui um “furo”, por se tratar de uma entrevista de alguém – Carlos Drummond de Andrade – que, como nela se assinala, tendo 75 anos não teria dado uma dúzia de entrevistas em toda a vida. O “entrevistador”, nosso colaborador, que no Rio de Janeiro a conseguiu, teve para isso, entre outros, um trunfo especial: prof. de Literatura Brasileira, a sua tese de licenciatura já fora sobre o autor de A rosa do povo, e no Brasil preparava a tese de doutoramento sobre o modernismo brasileiro e o modernismo português, ou seja: um tema em que o poeta e a sua obra eram “centrais”.
Saliente-se, já agora, que infeliz e incompreensivelmente Drummond há 16 anos não era editado em Portugal, desde que em 1965 saiu na excelente coleção Poetas de Hoje, da Portugália, uma sua antologia, da responsabilidade de Massaud Moisés. Por isso, em 1985, após incríveis 20 anos sem ser publicado no nosso país, eu pedi/convidei o Arnaldo Saraiva, quem haveria de ser?, para organizar uma antologia (bastante mais completa do que aquela), para editar com a chancela, que eu criara em 1982, de O Jornal. Excelente, intitulou-se Carlos Drummond de Andrade – 60 Anos de Poesia; e teve uma 2ª edição, atualizada, em 1990, incluindo poemas póstumos (o poeta morreu em 1987), assim passando a chamar-se Carlos Drummond de Andrade – 65 Anos de Poesia.
Bom, mas continuando neste nº 20, a segunda matéria é uma inédita “Carta a um jovem poeta”, de Jorge de Sena. E, depois dela, muito diferente, um extenso texto, “Notas acerca de Diogo de Sousa Camacho e da sátira na século XVII”, por João Palma Ferreira, o escritor, historiador e ensaísta ao tempo diretor da Biblioteca Nacional (da qual transitaria para presidente da RTP). A que se seguem: “Um soneto de Antero”, analisado por António Coimbra Martins, e “Adorno versus Goldman”, por Isabel Pires de Lima (curiosamente, dois futuros ministros da Cultura…); “O problema luso-espanhol” (“nós consideramos os espanhóis antipáticos, os espanhóis vão ainda mais longe e desconhecem-nos”), por Miguel Viqueira; Júlio Cortazar no “Zona Tórrida” de Irineu Garcia, e o inquérito à edição em Portugal; “Rodrigues Miguéis, Portugal em Manhattan”, por Onésimo Teotónio Almeida; “Brassens, no caminho mais longo”, por Kelly Basílio; entrevista com o bailarino e coreógrafo Gigi Caciuelanu, por Pedro Vieira, e o Congresso dos Arquitetos, por José Manuel Pedreirinho (que viria a ser – o anterior – bastonário da sua Ordem); o Cascais-Jazz, por José Duarte, e o padre Fontes, “um etnólogo de Barroso” (então ainda não houvera o primeiro Congresso de Medicina Popular, de 1983, que o celebrizou…), apresentado por Manuel Vilas Boas.
Mas basta, já foi demasiada esta “enumeração. Que como é óbvio não pode ser feita quanto às notícias, aos comentários, ao “Debate-Papo” – de que destaco apenas a crónica de Jorge Listopad sobre a Feira do Livro de Frankfurt. Na área de crítica textos de João de Freitas Branco, Regina Louro, Miguel Esteves Cardoso, João Mário Grilo, Guilherme Ismael ou Maria João Brihante, entre outros. Com uma nota particular para a de fotografia, de página e meia, por António Sena. Tudo e ainda mais o “O guarda livros”, o “Escrituralismo”, de José Sesinando, “Ao pé das letras”, de Augusto Abelaira, a “Escala de Richter”, de Agustina Bessa-Luís.
Palavras-chave:
