Foi neste nº 18 (27/10/1981) que pela primeira vez tivemos um “Tema” substancial numa edição. No caso, um “caderno especial” de 16 páginas. E, também pela primeira vez, um centenário a ser pretexto e justificar tal larga atenção. Como ao longo do tempo aconteceria, e continua a acontecer, muitas vezes: ainda este ano aqui assinalaremos, os centenários de Bernardo Santareno, Cruzeiro Seixas, Clarice Lispector…
Bom, mas naquela altura tratou-se de um genial artista, nascido a 25 de outubro de 1981: Pablo Picasso. Em toda a história da arte terá havido muitos poucos com uma obra tão vasta e tão universalmente famoso (falado, filmado, seguido pelos media mesmo na vida privada), tão polémico, influente, interveniente. A sua foto preencheu quase por inteiro a capa e as 16 pp. que lhe dedicamos abriam com um texto de José-Augusto França, e incluíam ensaios de Rui Mário Gonçalves, com três pp., e, de quase duas, de Fernando Pernes, Maria João Ferandes e Silvia Chicó; mais textosainda de de José Luís Porfírio, Eurico Gonçalves e Manuel Lopes. Uma cronologia, profusamente ilustrada, e poemas de grandes poetas sobre o pintor, duas pp. cada, completavam o Tema.
Já agora: o poema de Éluard era traduzido por Ramos Rosa e o de Jacques Prévert por José Saramago. E sobre Saramago saía neste nº 17 o que julgo terá sido pelo menos das primeiras críticas de fundo, ou ensaios, sobre um seu romance: da autoria de Maria Lúcia Lepeki, com o título do nome do livro, Levantado do Chão, e depois “História e pedagogia”. Também em quase duas pp., a autora, brasileira mas bem conhecida e respeitada profª da Faculdade de Letras de Lisboa, contra o seu costume, como salientava, não se eximia a afirmar: “…abre novos caminhos no quadro geral da narrativa portuguesa dos nossos dias. Um livro empolgante, comovedor, de extrema beleza…”; “na escrita, na linguagem, no modo do imaginário, um livro profundamente inovador, revolucionário…”
Ainda na área da crítica, além da p. do fundamental “O guarda-livros”, Ana Hatrerly analisa os 56 poemas, de Ruy Cinatti, sobre filmes escrevem Miguel Esteves Cardoso e Mário Jorge Torres, sobre fotografia António Sena, sobre música João de Freitas Branco e Trindade Santos, sobre teatro Maria João Brilhante. Ao inquérito sobre a edição em Portugal respondem Francisco Espadinha (Presença) e João Carlos Alvim (Assírio & Alvim), crónicas de Alexandre Pinheiro Torres e Augusto Abelaira. Em matéria de exclusivos, Elis Canetti, “uma voz de Viena”, por Ilse Pollack, e “Ives Montand reencontrado”, por Françoise Giroud, a admirada escritora e jornalista, também política, que ao tempo já tinha sido ministra da Cultura de França.
A edição abre, porém, com uma carta inédita de Camilo para A. P. Lopes de Mendonça, revelada e pormenorizadamente analisada por Alexandre Cabral, o escritor, devotado estudioso do autor de Amor de Perdição, que ao tempo já trabalhava no seu fundamental Dicionário de Camilo Castelo Branco, que sairia em 1989. Entre as notícias, a de um econtro entre editores portugueses e brasileiros, patrocinado pelo JL, e mais um eco da repercussão do aparecimento do nosso jornal entre os lusófilos espalhados pelo mundo, num artigo de Juan Manuel Bonet no diário madrileno Pueblo. “O principal instrumento de difusão internacional da cultura portuguesa”, sublinha o muito destacado intelectual, ensaísta, crítico de arte e literatura, poeta, que entre o muito mais foi diretor do Museu Rainha Sofia e diretor do Instituto Cervantes (em 2017/18, após o ter sido em Paris), e ainda o ano passado interveio na inauguração da Arco, de Madrid, com Mario Vargas Llosa.
JL 18: Sob o signo de Picasso
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