O nosso nº 12 (4 de agosto de 1981), o segundo sem capa e ilustrações de João Abel Manta, tem, no entanto, na capa, como destaque principal, outro Manta – Abel. Um excelente pintor, dos nomes cimeiros da primeira geração modernista, então com 92 anos, casado com outra pintora, dez anos mais nova, Clementina Carneiro de Moura – os pais de João Abel. Na capa o “mestre” Manta, como lhe chamavam, com um dos seus mais famosos quadros, em que retrata 12 figuras da tertúlia do consultório do prof. Francisco Pulido Valente, a que também pertencia, e entre as quais estão Aquilino Ribeiro, Fernando Lopes Graça ou Manuel Mendes. O texto, de duas pp., com um perfil/percurso do artista e entrevista, com ele e a mulher, é da jornalista Maria Armanda Passos (casada com António Vitorino d’Almeida, pais das futuras artistas Maria e Inês de Medeiros, que viviam num andar do prédio dos Mantas, onde se fizeram, no bele andar de João Abel, algumas reuniões antes do lançamento do JL). A essas duas pp. se acrescentam outras duas, meia com um texto sobre a sua pintura, por Nelson di Maggio, e uma e meia com “historietas” da sua vida escritas pelo próprio Abel Manta, homem de fino humor e a elas muito dado, sendo a última de uma proposta que Raúl Brandão lhe fez para trocar uma pintura sua (RB) por uma dele (AM).
Mas, antes, a edição abre com um texto de Luís Augusto da Costa Dias sobre Almeida Garrett quando jovem – e nada mais nada menos do que dois poemas inéditos do autor das Viagens na Minha Terra. Depois, entre os ensaios: “A Economia está voltada para o ‘ter’, a Ecologia para o ‘ser’”, por um pioneiro destas questões entre nós, e grande figura de cidadão, que foi Henrique de Barros – além do mais o presidente da Assembleia Constituinte, que após o 25 de Abril elaborou e aprovou a que continua a ser a nossa Lei Fundamental; “Acerca do empirismo lógico em Portugal”, por Norberto Cunha; e ainda, sob a forma de sugestão de livro a traduzir, “A nomadologia de Deleuze e Guattari”, por Emídio Rosa de Oliveira.
Em altura de férias, num tempo em que nos agostos ainda não havia covides, seria natural recorrer mais a “exclusivos”, mesmo que em outras circunstâncias eles porventura não fossem utilizados. O que não era aqui o caso, sobretudo com o primeiro deles, do genial escritor que foi colaborador constante do JL nesta fase: Gabriel Garcia Marquez. Com a mais valia ainda de a sua estupenda crónica ser sobre um dos seus escritores preferidos, intitulando-se “O meu Hemingway pessoal” – e nela começar por contar a história da única vez que, de súbito, o viu em Paris, em 1957. Foi num dia chuvoso de primavera, o autor de Por quem os sinos dobram caminhava em direção ao Jardim do Luxemburgo, e não tendo tido a ousadia de se lhe dirigir Gabo apenas lhe gritou, do outro lado do passeio: “Maeeeeeestro!” – ao que ele respondeu, também gritando, “Adiooooós, amigo”. Também o outro exclusivo é muito interessante: uma longa entrevista de José Luís Rubio ao grande guitarrista, decerto o mundialmente mais famoso, Andrés Segovia.
Depois, como de hábito, há bastante e bom em sede de crónicas, comentários, críticas, notícias, etc. Como, por exemplo, Mário Cláudio a escrever sobre Mstislav Rostropovitch, Manuel Castro Caldas sobre “o mito Sinatra”, Irineu Garcia sobre José Lins do Rego – e, só na área da crítica literária, Rebordão Navarro sobre Augusto Abelaira, Miguel Serras Pereira sobre Jorge Luís Borges, Paula Morão sobre Gastão Cruz. No seu espaço, Agustina começa bem à sua maneira: “As pessoas escrupulosas (que algumas são precisas e muitas são escusadas) meditam nisto da ‘Escala de Richter’ (título geral da sua crónica) e depreendem que proponho terramotos e outras catástrofes”…; e, por baixo da sua prosa, A. Campos Matos denuncia como um atentado contra o património cultural a demolição da casa de Antero em Vila do Conde.
Em matéria de notícias fala-se da consagração internacional de Manoel de Oliveira, de Namora (e do JL) numa exposição em Tóquio, de Régis Debray em Lisboa , etc. E no Debate-Papo temos desde cartas de Fernando Gusmão e Luiz Francisco Rebello, a propósito de um espetáculo do Cénico de Direito, até meia página, com duas grandes fotos, sobre um almoço do JL com Jorge Amado e Zélia Gattai, no qual, além de muita gente da casa, participaram João Ubaldo Ribeiro, nessa época em Portugal, Álvaro Salema, Alçada Baptista, Namora, Lima de Carvalho. (Já não tenho a certeza, mas pela descrição dos petiscos que se comeram, a prosa deve ser do Assis…).
E, enfim, referência ainda a mais duas entrevistas: uma a Lopes-Graça, por Pedro Vieira, e outra, extensa (uma p. e uma coluna) a Luna Andermatt, a primeira peça aqui assinada por uma jovem jornalista, que viria e continua a ser bem conhecida e em geral admirada, que foi a nossa primeira estagiária/redatora, por mim convidada no próprio dia em que a conheci, no 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades – nesse ano de 1981 comemorado no Funchal, onde ela estava pelo Correio da Manhã: Clara Ferreira Alves.
JL 12: De Manta (pai) a Hemingway por Garcia Marquez

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