É sob o signo da Língua Portuguesa que nasce a Cena Contemporânea de Matosinhos em Português, que arranca amanhã, quinta-feira, 18, no Teatro Constantino Nery (TCN). É uma declaração de amor e um encorajamento à escrita para palco em português, com todos os sotaques, como adianta ao JL, Luísa Pinto, diretora artística do TCN e do festival, uma iniciativa da Câmara Municipal de Matosinhos. Até 30, apresenta-se uma dezena de espetáculos, concertos e debates, nesta primeira edição, que homenageia com uma exposição a atriz e encenadora Fernanda Lapa, nos seus 50 anos de carreira. O escritor Ondjaki vai estar presente para apresentar o seu novo livro. A abertura cabe a Aldeotas, do ator e dramaturgo brasileiro Gero Camilo, e do Brasil vem ainda Deus lhe dê em dobro, pelo Grupo Dragao7. De destacar também a conversa-concerto de Sérgio Godinho, Conta-me histórias, Ode Marítima, por João Grosso, Caso Hamlet, pelo Peripécia Teatro de Vila Real, a estreia de O meu país é o que o mar não quer, de Ricardo Correia e Um dia, os réus serão vocês, da Companhia de Teatro de Almada. E ainda o ensaio aberto de Breviário Gota D’Água, adaptação de Heron Coelho, a partir de Eurípedes e de Chico Buarque, com encenação, cenografia e figurinos de Luísa Pinto, a nova produção doTCN, a estrear em outubro.
JL: Vai nascer em Matosinhos um palco para a Língua Portuguesa?
Luísa Pinto: Sim. Este festival tem como objetivo o estímulo à escrita de palco em português e levar os nossos textos além-fronteiras. É lusófono, mas está aberto a todos os que escrevem e trabalham em teatro em português em todos os países. Queremos tornar a dramaturgia portuguesa conhecida no mundo e que os encenadores estramgeiros tenham vontade de levar à cena textos escritos na nossa língua. É preciso termos orgulho no nosso património cultural. E não pensarmos que o que vem de fora é que é bom.
Como surgiu a ideia?
É de alguma maneira uma sequência do meu percurso enquanto encenadora, visto que procurei sempre levar à cena textos originais em português. E desde 2008, como diretora do TCN, continuei a fazer encomendas a dramaturgos portugueses.
Em defesa da Língua Portuguesa?
Sim. O teatro tem essa função. E eu gosto de palavras, tenho um enorme amor pela Língua Portuguesa. É das mais ricas do mundo. Tenho pena quando levo os meus espetáculos lá fora, ao constatar que é pouco conhecida a nossa dramaturgia. Sobretudo a mais nova. Mesmo no Brasil, onde tenho apresentado nos últimos seis anos as produções do TCN.
A presença de companhias brasileiras promove o intercâmbio teatral?
Só foi possível trazer estes dois espetáculos porque é uma primeira edição, com um orçamento reduzido. Oitenta mil euros, totalmente da Câmara Municipal de Matosinhos. Mas o festival tem de facto a intenção de promover o intercâmbio e a troca de experiências. Houve também a preocupação de fazer debates, por exemplo, uma mesa-redonda com escritores, que também têm escrito peças, como Manuel Jorge Marmelo, Pedro Eiras e Carlos Tê. E haverá leituras encenadas das suas obras.
O festival não se limita ao teatro, aposta também nas artes performativas?
Vamos ter, por exemplo, um projeto muito inovador com uma violinista da orquestra da Casa da Música, Ianina Khmelik, em parceria com um investigador da Faculdade de Engenharia do Porto, António Silva Ramos, um concerto clássico e multimédia com projeção na fachada do teatro. Também um concerto performativo do João Garcia Miguel. E teremos, por outro lado, uma oficina de escrita para palco. Pretendemos no futuro, lançar um prémio para um texto que depois será encenado no nosso Teatro. Mas temos que ir devagar para que a Cena se torne possível durante muitos anos. M.L.N