A Praça Central do Colombo encheu para ouvir os convidados do Portugal Pop, o evento de encerramento da 8ª edição da iniciativa “A Arte Chegou ao Colombo. A VISÃO preparou uma tarde divertida de conversas sobre o mundo da Cultura Pop em Portugal, com duelos criativos de celebridades que fizeram as delícias da assistência.
No primeiro painel, “Pim, Pam, Pop: O que Mexe com as Pessoas?”, o cantor José Cid e a escritora Margarida Rebelo Pinto explicaram que ambos são vistos nas suas áreas como populares, com muito orgulho. Com 76 anos, José Cid tem mais de 40 anos de carreira e ainda move multidões, como recentemente aconteceu em Cascais, onde mais de 70 mil pessoas o ouviram na festa do Mar. Margarida Rebelo Pinto está a chegar à marca de 1,5 milhões de livros vendidos, o que faz dela a escritora portuguesa para adultos que mais livros vendeu, e celebra para o ano 20 anos desde o seu primeiro sucesso de vendas, o “Sei Lá”.
Existe uma fórmula para chegar às pessoas, questionou Ana Rita Clara, apresentadora, host deste evento e moderadora do debate inicial. “Acho que não. A intuição é o olhar do coração, como diz o Saint Exupery, é uma ferramenta fundamental de qualquer artista plástico, músico ou escritor como eu. Penso que os escritores escrevem sobretudo para si próprios e para as pessoas mais próximas. Mas os sentimentos humanos são todos universais: o medo, o sonho, o desejo, a raiva, a tristeza, a felicidade…”
“As letras de José Cid são muito parecidas com os meus livros: há um fio condutor de simplicidade e de autenticidade”, afirma. Margarida Rebelo Pinto confessou-se fã do cantor. Cresceu a ouvir Chico Buarque e Cid, sublinhando a longevidade de um músico que é transversal a quatro gerações na sua família.
“‘Ontem, Hoje e Amanhã’ é das grandes músicas da minha vida, e é incrível porque conta a história de um amor numa música, o que eu faço em 150 páginas.” José Cid diz que não tem fórmulas, mas sim musas. E pode inspirar-se “no acaso, as notícias que vê nos jornais, nas pessoas que encontra nas ruas, no dia-a-dia”.
José Cid diz que foi, ao longo da sua carreira, alvo de preconceito por vender muito. “No pós 25 de abril reinava Ary dos Santos, e que tinha uma cortina à sua frente. Isso fez com que uma pseudo-intelectualidade de esquerda me hostilizasse. Havia quem pensasse que vender bem era azeiteiro”. “A minha obra é ainda extremamente atual, e divirto-me imenso porque tenho esta homenagem pública em vida, que o Zeca [Afonso] devia ter tido em vida”, sublinha.
E as diferenças entre música e escrita popular, elitista, light, quais são afinal? José Cid responde prontamente: “música popular é uma coisa, música populosa é outra. A música populosa é pirosíssima, os bateristas são chineses ou japoneses, os sons são sempre todos os mesmos, um tstn tstn tstn tão artificial que não tem nada a ver com o ritmo da música que vem do nosso povo”. “Temos a mania de arrumar as pessoas em grupos, e para sobreviver é preciso remar contra a maré e contra uma crítica que muitas vezes é mordaz. eu para a crítica portuguesa já não existia. Tenho tido muita gente que me ama, mas tenho tido muita gente a tentar deitar-me abaixo”, afirmou sem rodeios.
Margarida brinca com as arrumações em caixinhas. “Se me dizem que escrevo literatura light, respondo que sim, peso 52 quilos e vou ao ginásio. O mais importante para mim é chegar às pessoas e fazer com que o meu trabalho aproxime das pessoas e as ponha a conversar, ou com elas próprias ou com outros”, argumenta.
A conversa passou por outros temas sobre a cultura popular portuguesa, e terminou em alta, com uma música entoada por José Cid, claro está. “Se Chico Buarque me cantasse um fado, mesmo em central parque ou no corcovado, com um cheiro a jazz, com um cheiro a samba, para florir num vaso da minha varanda”, cantou o mestre. Foi bonita a festa, pá!