Ana Bacalhau é uma leitora de Dostoievski. Tinha 19 anos, estudava literatura quando leu Crime e Castigo e conta que ficou completamente apanhada pelo estilo do escritor russo. Não era tanto a história, mas o modo como dava a conhecer o mundo interior do protagonista daquele que é um dos grandes romances da literatura mundial. Seguiram-se alguns contos e Os Irmãos Karamazov. Dostoievski solidificava-se como um dos seus autores favoritos.
“Ele foi um percursor do chamado streaming of consciousness, que tanto influenciou outros escritores”, acrescenta a cantora, vocalista dos Deolinda, que ao ler O Jogador encontrou na novela a marca de Dostoievski envolta numa “ironia finíssima”.
Diz Ana Bacalhau: “Eu achava que ia encontrar um jogador, mas deparei-me com o processo de construção de um jogador, como é que alguém entra naquela voragem de sorte e azar e acaba por perder o amor da sua vida, Pauline, que o vê transformar-se em tudo o que menos admira na vida”. Alexis, o protagonista, vai-se dando a conhecer. Mais uma vez, a perspetiva é a interior e através dela vamos sabendo da sociedade em que Alexis vive. “Revi-me muito no modo como ele descreve os russos. Há coisas que podiam ser portuguesas, existem muitas semelhanças, além da sonoridade da língua”, conta Ana Bacalhau, que sintetiza desta forma o que foi ler agora O Jogador: “Adorei!”