“Histórias Contadas. A imagem e a palavra” foi o tema da última de um ciclo de tertúlias Jornalismo&Literatura que se prolongou por um ano. Desta vez, estiveram à conversa o realizador de documentários Jorge Pelicano, o poeta Nuno Júdice, o investigador Vitor Flores e o repórter fotográfico da VISÃO José Carlos Carvalho.
Ex-repórter de imagem da SIC, Jorge Pelicano admite que se preocupa cada vez mais com o conteúdo para além do vídeo: “A imagem e as palavras são as minhas ferramentas de trabalho”.
Exemplo disso é o novo documentário em que está a trabalhar sobre doentes psiquiátricos do Hospital Conde de Ferreira, no Porto. “Para quem filma é importante a palavra. Por vezes, não podemos mostrar as pessoas, por isso recorremos a depoimentos gravados”, explica o autor do documentário “Ainda Há Pastores”, várias vezes premiado em Portugal e no estrangeiro.
Apesar de ser um especialista em imagem, Jorge Pelicano percebeu que num trabalho como este o verbo tem poderes únicos. “Queria tê-los a falarem porque a palavra lhes dá dignidade”.
Na fotografia, a escrita serve para acrescentar e completar informação. Mas, como notou o poeta Nuno Júdice, “a palavra pode fazer falar a imagem”. Aliás, lembra o investigador Vitor Flores, “nesta civilização da imagem o texto acompanha sempre a as imagens e muitas vezes reprime-as”.
Para o escritor distinguido com o Prémio Rainha Sofia em 2013, fotografias, desenhos e pinturas foram sempre fonte de inspiração. Desde a Banda Desenhada da infância até aos postais comprados num aeroporto que serviram para matar a espera compondo textos para cada uma das ilustrações de Cracóvia. “O prazer da poesia é a sua capacidade de transmitir uma imagem”, resume Júdice. A poesia, diz, “tem de ser visual, transmitir uma imagem”.
Fixar a realidade, como acontece na fotografia, leva o escritor a “olhar para o poema como forma de captar um instante.”
É de instantes nacionais que se têm composto os últimos trabalhos do repórter fotográfico José Carlos Carvalho. Em 12.12.12 ou no Projeto Troika, um grupo de profissionais da imagem quis mostrar o País e as feridas que a crise lhe deixou. Numa “perspectiva crítica”.
O jornalista da revista VISÃO reconhece que o trabalho em fotografia molda a sua forma de ver o mundo. “Olho para tudo como uma imagem. Parece que tenho um rectângulo na minha cara”.
E teve mesmo, tal como todos os presentes, quando Vitor Flores fez passar um objecto antigo, que permite ver imagens estereoscópicas. Porque a vontade de ver em profundidade, reproduzindo a realidade mais fielmente, começou assim. Em caixas de madeira como estas estão os primórdios do 3D.
Especialista em análise de imagem, o professor da Universidade Lusófona coordena a equipa do projecto “Cultura Visual Estéreo. A Cultura Visual da Fotografia Estereoscópica”, que inventariou já 24 colecções de registos, a maior parte deles guardados em vidros.
Um arquivo histórico de imagens que aproximam tempos longínquos, num trabalho de investigação que confirma a importância da imagem para contar a história de um país – e de outros tempos.
Neste ciclo de tertúlias organizado pelo CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias), núcleo de Jornalismo e Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com apoio do Clube de Jornalistas, da FNAC, da Universidade Aberta e da VISÃO, discutiram-se temas tão diversos como o processo criativo, a ciência ou a morte.
Por aqui passaram mais de 30 jornalistas (entre eles, Carlos Vaz Marques, Rodrigo Guedes de Carvalho, Cesário Borga, Adelino Gomes e José Carlos Vasconcelos), cientistas (Marta Moita), escritores (entre eles, Afonso Cruz, Lídia Jorge, Rui Cardoso Martins e João de Melo), artistas plásticos (Ana Vidigal) e encenadores (Filomena Oliveira).
Sempre para pôr jornalismo e literatura a cruzar olhares sobre o mundo.