Eram três da tarde e o calor começava a apertar na Praça Sousa Oliveira, coração da Nazaré. À frente via-se o mar, quase sempre bravo e agitado, efeito provocado pelo Canhão da Nazaré, um acidente geomorfológico de origem tectónica, que se prolonga por mais de 170 quilómetros de comprimento e atinge uma profundidade superior a 5000 mil metros. É o maior canhão submarino da Europa e um dos maiores do mundo.
Estava bom tempo e, apesar da época balnear já ter começado, ainda se conseguia estar à vontade no areal, coisa impossível no mês de agosto. Nesta que é uma das mais típicas praias portuguesas, os fins de semana são concorridos: lugar de passeio para os habitantes da região Oeste, paragem de excursões vindas de todo o país, poiso provisório de turistas do Norte da Europa.
Foi um sábado especial porque havia recriação de Arte Xávega (um modo de pesca tradicional extinto, na Nazaré, há quinze anos), evento organizado pela Câmara Municipal. Isso fez alguns turistas dirigirem-se à delegação itinerante para pedir informações.
Também esclarecemos um idoso que “sofria da vista”. Não, não fazíamos rastreios.
Durante uma hora e meia, perto de duas centenas de populares vieram à auto caravana para visitar o seu interior e conhecer as várias publicações do grupo Impresa que havia para oferta – a VISÃO, a VISÃO Vida & Viagens, a VISÃO Júnior, a VISÃO História, a edição Especial VISÃO Verde e o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias.
A mais comentada foi a “História”. Em tempos de crise, nada como ter na capa um ditador para pôr os leitores a falar. O número dedicado às conspirações contra o regime fascista de Salazar fez vir ao de cima um saudosismo bafiento e perigoso, curiosamente pronunciado por velhos e novos: “O que fazia cá falta não era um, eram 50!”; “Olha quem ali está… Devia cá vir um mês, devia, para pôr isto na ordem”; “Gostava bem que houvesse mais homens sérios na política, como ele”.
Ouve-se e cala-se, que o Povo é quem mais ordena.
Nota final para registar a avidez com que alguns leitores levavam exemplares, contrastando com a vergonha que outros tinham em se aproximar: “Posso tirar, ou é para pagar alguma coisa?”. Sobraram poucas revistas, das mais de mil que havia para dar. É sempre bom ter alguma coisa para ler na praia.