Os patos evadem-se das charcas da Quinta de São Vicente, num voo rasante e elegante, bordejando o olival. “Se alinhássemos todas as oliveiras da quinta numa única fila, as árvores chegavam a Bordeaux”, assegura, sorridente, João Filipe Passanha.
A primavera é a estação favorita do administrador da Quinta de São Vicente, uma propriedade de 700 hectares a leste de Ferreira do Alentejo, junto à estrada para Beja. Ainda não chegou o demolidor calor de Julho mas o sol já aquece a vasta planície, agora plena de searas ondulantes. “Gosto deste tempo, deste calor”, diz o arquitecto, enquanto conduz o jipe pelos caminhos da herdade.
João, 47 anos, trabalhou em arquitetura e alta costura na Bélgica mas regressou há sete anos para se dedicar à agricultura nas terras alentejanas da família. Apostou na plantação de um olival com as variedades arbequina, cobrançosa e picual, em 2005 e, em 2008 já estava a produzir azeite virgem de qualidade. Em 2010 a safra do ano anterior conquistou uma medalha de ouro do Comité Oleiro Internacional, uma espécie de Nobel dos azeites. Foi batizado pela imprensa o Melhor Azeite do Mundo e, asseguro-vos, vertido sobre fatias de pão alentejano, na fresquidão de uma casa de pasto alentejana, merece o apodo.
A propriedade original remonta ao século XVII, foi alargada pelas gerações vindouras e sujeita às campanhas do trigo dos anos 1940, quando Salazar pretendeu transformar o Alentejo no celeiro de Portugal. Tem uma casa apalaçada, refrescada por um espelho de água, um jardim, nutrido por canais de água que circula por gravidade, e 3000 metros quadrados de superfície coberta, a maior parte destinada às antigas casas dos trabalhadores rurais.
Ocupada no pós-25 de Abril, a Quinta de São Vicente foi então reduzida à mínima expressão produtiva, assegura João. Recuperada tardiamente por uma família que procurou no estrangeiro refúgio para as convulsões revolucionárias dos anos 1970, foi agora convertida a olival de regadio. Está situada na região dos Barros de Beja, em solos agrícolas de classe A, a melhor, capazes de quase tudo produzir. Mas uma frente de betão ameaça-a. Dá pelo nome de IP8, a auto-estrada que ligará Sines a Beja. A história completa do agricultor que luta contra a auto-estrada será conhecida na VISÃO da próxima semana, cuja publicação foi antecipada para quarta-feira, 20.
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