Se fizer alusão a uma cidade centrada na tecnologia que desenvolve ideias de mil milhões de euros; com uma costa magnífica e praias de areia dourada; sol a brilhar durante quase todo o ano; um espírito empreendedor; um estilo de vida que contrabalança o surf e o trabalho; e que acolhe alguns dos melhores restaurantes do mundo, de que cidade estarei a falar? São Francisco? São Diego? Lisboa?
Há alguns anos, acertaria na resposta quem referisse apenas as duas primeiras. Hoje, para dar a resposta certa, temos de mencionar as três. Não há volta a dar: Lisboa é há muito notada (e notabilizada) por todos estes atributos. E muitos outros.
Em pouco mais de uma década, cerca de 7.000 norte americanos mudaram-se para Portugal, principalmente Lisboa, para acompanhar a onda de crescimento estratosférico da capital portuguesa no palco internacional dos negócios, do e-commerce, da tecnologia, e também do seu boom imobiliário. Os cidadãos norte-americanos, a maioria com grande poder de compra, estão a chegar, trazendo a sua mentalidade empreendedora e o seu mindset inovador da Costa Oeste (e também da Costa Leste), depositando firmemente as suas raízes no solo e no sol de Lisboa e região envolvente.
De acordo com o SEF, em 2021 havia 6.921 norte-americanos a viver em Portugal e no espaço de dez anos o número de cidadãos desta nacionalidade que se mudou para território português mais do que triplicou, registando um crescimento contínuo e significativo desde 2015.
O resultado tem sido o aumento dos preços das casas, sobretudo no segmento médio-alto, em habitações novas ou renovadas, e em localizações mais apetecíveis para a comunidade internacional, como a Estrela, Lapa, Campo de Ourique, Príncipe Real, Chiado, Avenida da Liberdade ou a linha de Cascais. Segundo dados da Confidencial Imobiliário, o preço médio por metro quadrado para casas novas, entre 2015 e final de 2021, quase que duplicou no concelho de Lisboa, com o crescimento a atingir 88,8%, nomeadamente nas zonas centrais, onde naturalmente as casas são mais caras e a valorização mais acentuada.
Aos americanos é atribuído o ónus de acionarem a tendência de relocalização e do aumento do preço das casas em Portugal. Contudo, o mérito foi todo dos portugueses. Ao serem aprovadas as alterações à Lei do Arrendamento Urbano, abriu-se caminho à liberalização das rendas e à dinamização da atividade de reabilitação urbana.
Bairros inteiros de Lisboa foram regenerados e transformados nas comunidades cosmopolitas e empresariais que conhecemos hoje. Infelizmente, houve muitos jovens portugueses que perderam capacidade para comprarem ou arrendarem casa a preços acessíveis nas áreas centrais de Lisboa. Mas, como fazer uma cidade crescer e torná-la um lugar de empreendedorismo e de negócios internacional se não atrairmos empresários e empresas multinacionais de sucesso?
Qualquer pessoa que tenha vivido em Lisboa nos últimos 10 ou 15 anos comprova a quantidade incrível de mudanças. Ninguém terá saudades da Baixa ou do Cais do Sodré antes de terem sido palco das mais notáveis transformações a que Lisboa assistiu nos últimos anos. O “antigo” Cais do Sodré não teria sido votado o segundo bairro mais cool do mundo (ranking anual da Time Out Global 2022), a sua Rua Cor de Rosa dificilmente seria eleita como uma das 12 favoritas na Europa (New York Times 1015) e a então deserta Rua Augusta tinha menos probabilidade de ser considerada uma das mais belas do mundo (Condé Nast Traveler 2014). E o que dizer de Marvila – uma espécie de meatpacking de Nova Iorque – uma área industrial desativada, que muito poucos frequentavam depois do anoitecer. Hoje é um dos bairros mais ecléticos da cidade, conhecido pelas suas cervejarias artesanais, restaurantes incríveis e que é suposto acolher o maior hub de incubação de start-ups do mundo.
Mas as sementes desta mudança são muito anteriores à vinda dos americanos com o ritmo que vemos hoje. Os franceses chegaram primeiro, junto com os britânicos, especialmente nos primeiros anos da década de 2010, e uns e outros continuam a ser das comunidades mais representativas em Portugal num universo de 698.887 estrangeiros com residência no nosso país: o Reino Unido (6%) surge em segundo lugar logo a seguir ao Brasil (29,3%) e a França soma 3,8%, em linha com outras nacionalidades como a Ucrânia (3,9%), Roménia (4,1%), Índia (4,3%), Itália (4,4%) e Cabo Verde (4,9%) – (SEF-RIFA 2021)
E o que significa isto para o futuro da cidade?
Lisboa é agora uma grande capital da Europa, ao lado de Londres, Paris ou Berlim. Talvez ainda não o seja na dimensão da sua economia, mas é-o na sua atitude e na sua abordagem.
E se queremos que Lisboa e Portugal continuem a progredir, vamos ter de abraçar a ideia de que está a tornar-se um centro cosmopolita. Adore-a ou deteste-a, esta ideia faz parte da evolução natural de uma cidade-capital e o crescimento positivo é extremamente difícil de se conseguir sem ela.
Por isso, somos a favor de pessoas de todas as nacionalidades que elegem Lisboa para viver, e um dos objetivos da Athena Advisers é contribuir para que esta cidade se torne ainda mais vibrante. Enquanto alfacinha que reside em Lisboa, estou preparado para aceitar a possibilidade de viver rodeado de pessoas de nacionalidade não-portuguesa. O que traça o meu limite é nunca trocar a minha tasca local por um Taco Bell.