As mexidas nas regras dos vistos Gold que visavam a redução da especulação imobiliária nos centros de Lisboa e do Porto, um dos cavalos de batalha dos partidos de Esquerda no anterior executivo, fez descer abruptamente as intenções de investimento imobiliário nos centros das duas maiores cidades do país.
A mais recente edição do inquérito Portuguese Investment Property Survey, realizado pela Confidencial Imobiliário em associação com a APPII (Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários) mostra que as intenções dos investidores envolvendo projetos de reabilitação caiu de cerca de 40% no início de 2020, para menos de 20% no final do ano passado.
A construção nova, mais centrada nas periferias, conquistou um peso de 81% nas intenções dos investidores. “Esta reorientação reflete uma alteração particularmente importante da procura, com a quebra acentuada dos projetos dirigidos apenas ao público internacional”, reflete-se no estudo. “No início de 2020, 43% dos promotores posicionava os seus projetos apenas para compradores internacionais, quota que no final de 2020 era de 22% e que atinge agora apenas 8%”, sublinha-se ainda.
A mudança de estratégia tem resultado com 2021 a fechar como um dos melhores anos de sempre e os clientes nacionais a representarem mais de 85% das cerca de 200 mil casas vendidas. E mais casas houvesse para vender. Procura não falta, escasseia é a oferta.
Também no mesmo inquérito se apurou que “os promotores imobiliários estão menos otimistas quanto ao futuro do mercado residencial, temendo um abrandamento nas vendas”, um desalento provocado pelas dificuldades de licenciamento e o aumento dos custos de construção, por outro.
“O sentimento geral do mercado continua a ser positivo, mas há, de facto, uma visão menos otimista em relação ao futuro, influenciada pelas dificuldades que se fazem sentir no lançamento de nova oferta. O desequilíbrio entre a oferta e a procura está claramente identificado como um dos fatores de subida dos preços, mas, mais do que isso, é algo que começa a preocupar quem atua neste mercado, por poder afetar o ritmo da atividade”,nota Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário.
Também Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII, pede a resolução, “de uma vez por todas, do caos dos licenciamentos urbanísticos, que se agudizam nas câmaras municipais”.
O responsável alerta para o impacto que esta morosidade tem no preço das casas e exemplifica: “Os lisboetas pagam em média mais € 1.500 a € 2.000/m2 na sua casa. Ou seja, em vez de a poderem comprar de forma acessível a € 2.000/m2, só por causa dos 3 e 4 anos que pode tardar um licenciamento nesse município, os lisboetas compram a sua casa a € 4.000/m2. É por isso que o tema do licenciamento não é uma questão corporativa, ou autárquica, é nacional: inviabiliza os portugueses de terem acesso a um direito fundamental, que é ter habitação”.
Apesar das dificuldades reportadas, diz o estudo, “a procura por novos terrenos não reduziu, mantendo a rota de crescimento observada desde a segunda metade de 2020, com 61% dos inquiridos a revelar estar a procurar terrenos para desenvolvimento de novos projetos neste último inquérito”.