A vida em pandemia levou muitos a repensar a forma como viviam, um processo que se tornou ainda mais ágil graças à possibilidade de trabalhar remotamente. Nessa dinâmica inesperada, as casas em locais idílicos, com generosos espaços exteriores, preciosos em tempos de confinamento, sofreram grande pressão da procura. E o impacto fez-se sentir nos preços – o mercado de resorts ganhou novo fôlego no primeiro semestre de 2021, confirmando a tendência de recuperação visível na segunda metade do ano passado.
De acordo com o Índice de Preços de Resorts (SIR-Resorts) criado pela Confidencial Imobiliário em parceria com a Associação Portuguesa de Resorts (APR) e com o apoio do Turismo de Portugal, o preço da habitação integrada em resorts voltou a crescer, aumentando 2,7% face ao semestre anterior e 8,6% face ao semestre homólogo.
“O mercado ganhou confiança e voltou a acreditar na possibilidade de valorização. O mesmo se passa quanto à evolução das vendas, cujas expectativas estão agora em níveis bastante robustos, quando há um ano imperava o sentimento de que os preços iriam descer e a confiança de que as vendas iam crescer era bastante ténue”, apontou Pedro Fontaínhas, diretor executivo da Associação Portuguesa de Resorts (APR).
Eixo Albufeira-Loulé é o mais caro
“A habitação em resort apresentou, no 1º semestre de 2021, um valor médio de oferta de 4.442€/m2, atingindo os 8.058€/m2 na gama mais elevada do mercado”, refere o estudo.
Tais valores refletem, sobretudo, o nível de preços no principal mercado de resorts, nomeadamente o eixo Albufeira-Loulé, onde se regista um valor médio de 5.266€/m2, que atinge os 9.274€/m2 na gama alta.
Em termos médios, no 1º semestre, nesta região o valor pedido fica 30% a 60% acima da oferta registada em qualquer um dos outros três destinos de resorts delimitados no SIR-Resorts. O maior contraste (+58%) é com a região do Barlavento do Algarve. O menor diferencial é observado face à Costa Atlântica, onde os valores médios atingiram os 4.093€/m2 nos primeiros seis meses do ano, sublinha-se ainda no estudo.
No primeiro semestre de 2021, as vendas de habitação em resort aumentaram mais de 30% face ao semestre anterior no total do mercado nacional, uma tendência que foi transversal a todas as regiões, mas que foi especialmente sentida no eixo de Albufeira-Loulé, mercado que agregou 45% das transações registadas no SIR-Resorts.
Os compradores oriundos do Reino Unido continuam a ser a principal fonte de procura internacional para os resorts no eixo Albufeira-Loulé, com uma quota de 44% das aquisições por estrangeiros no 1º semestre do ano, mas perderam expressão face ao semestre anterior, quando concentravam 56% das compras.
Por um lado, observou-se uma diluição da quota por um maior número de nacionalidades ativas na compra deste tipo de habitação na referida localização (11 nacionalidades diferentes versus 9 no 2º semestre do ano passado), evidenciando-se a entrada dos compradores russos no mercado, que passaram a agregar 4% das vendas internacionais. Por outro lado, verificou-se um maior dinamismo de mercados já presentes, como o mercado francês, que passou de uma quota de 2% para 8% das compras pelos estrangeiros, e o mercado dos Países Baixos, de 10% para 15%.
Vendas digitais esbatem impacto da pandemia
A pandemia não desmoralizou os clientes do residencial de luxo. É o que constata João Richard Costa, diretor comercial e de marketing do Ombria Resort, no Barrocal Algarvio quando diz que “as vendas das Viceroy Residences (as Branded Residences do Ombria Resort) estão a superar todas as expectativas”.
Se é certo que a atual conjuntura veio criar dificuldades em viajar por parte dos potenciais compradores e investidores imobiliários, que assim deixaram de poder visitar os imóveis antes de tomar as suas decisões de compra, a verdade é que “cerca de 70% dos compradores decidiram comprar remotamente, ou seja, sem visitar graças às ferramentas digitais e às visitas virtuais aos apartamentos”.
realça o responsável do Ombria Resort.
O mesmo diz Pedro Rebelo Pinto, de West Cliffs, na Costa de Prata, que afirma notar-se “alguma pressão da procura por parte de clientes do Norte da Europa, sobretudo por produto acabado, pronto a habitar ou a desfrutar em parte do ano”.
Já Cristina Santos, da Engel & Völkers de Albufeira, sublinha que “o Algarve mantem uma procura positiva, embora, devido aos constrangimentos das viagens, verificou-se uma desaceleração o que contribuiu para uma estabilidade nos preços de mercado. Espera-se, contudo, que devido ao progressivo levantamento das restrições e mantendo-se a procura pelo Algarve os preços tenderão a apresentar uma ligeira subida”.
Na zona da Comporta, e segundo Isabel Duarte, da Herdade da Comporta – Actividades Agro Silvícolas e Turísticas, S.A., “os períodos de confinamento motivaram uma procura pelos destinos rurais e com pouca densidade populacional e de construção, onde as pessoas se sentem mais seguras e livres”. Uma perceção com impacto no valor das casas. “O destino Comporta, ao conjugar esses e outros atributos (como praia e proximidade a Lisboa) tem sido um destino que tem percecionado um aumento da procura e, como consequência, dos preços”, rematou ainda a responsável.