A fase final de desconfinamento pandémico vem acompanhada de natural otimismo e vontade de regressar à normalidade, um sentimento que acompanha também os investidores imobiliários. Uma amostra significativa esteve reunida durante dois dias na V edição do Portugal Real Estate Summit, que reuniu a comunidade de investimento imobiliário presente ou com interesse no mercado ibérico. E a conclusão é que “mais de 80% dos investidores presentes (cerca de 250) querem estar ativos na compra de imobiliário em 2022 e a maioria (71%) acredita ainda que o próximo ano será de aumento de preços neste setor, concluíram os questionários interativos em tempo real realizados no decurso dos trabalhos.
Este sentimento dá eco ao dinamismo verificado já este ano no setor, com a Iberian Property, entidade organizadora do Portugal Real Estate Summit, a estimar que o investimento imobiliário em Portugal no acumulado de 2021 até agosto tenha alcançado um montante de 1.205 milhões de euros, dos quais 47% (561 milhões de euros) dizem respeito a negócios concretizados nos últimos dois meses.
Os segmentos alternativos ganham crescente atenção por parte dos investidores, numa altura em que ficou claro que o paradigma do investimento está a mudar. Desde logo a nível global, observando-se “agora uma abordagem mais temática dos investidores, que olham cada vez mais para o investimento segmento a segmento”, defendeu Dominique Moerenhout, CEO da EPRA. O responsável máximo da associação europeia de REITs frisou que o imobiliário continua a atrair os investidores, tendo sido um setor especialmente resiliente durante a pandemia. Além disso, “o regresso aos níveis pré-crise acontecem cerca de 6 meses antes do previsto e a recuperação é cinco vezes mais rápida do que a observada durante a anterior crise, a Grande Crise Financeira”, notou ainda.
De acordo com os especialistas das várias consultoras imobiliárias intervenientes na conferência (Cushman & Wakefield, CBRE e Savills), Portugal não escapa a esta tendência de diversificação do investimento, observando-se um maior equilíbrio na alocação de capital aos diferentes segmentos. Ainda que os escritórios, o retalho e, cada vez mais, a logística se mantenham no radar dos investidores, os segmentos emergentes na área residencial, como o arrendamento construído de raiz (build-to-rent), as residências para estudantes e as residências sénior, têm um enorme potencial para captar investimento, tendo sido travados até à data pela falta de oferta disponível para investir. O segmento de imobiliário de saúde e bem-estar, além dos datas centres e os ativos agrícolas são também apontados como novas fontes de captação do investimento imobiliário em Portugal.
Os investidores presentes no evento defenderam ainda que face ao atual momento de baixa oferta disponível quer nos segmentos tradicionais quer nos emergentes, uma das opções de investimento passará cada vez mais pela aposta na promoção, o que poderá acontecer quer em projetos de construção nova quer em projetos de renovação.
David Brush, CIO da Merlin Properties, um dos maiores investidores imobiliários estrangeiros ativos em Portugal, frisou que “além da análise aos setores de alocação do capital, a grande questão hoje é decidir se compramos para rendimento ou se construímos”. Na sua perspetiva, “as aquisições são cada vez mais difíceis de concretizar, especialmente quando a visão é de longo-prazo. Por isso, investir na fase da promoção do ativo pode ser uma oportunidade muito atrativa”.
O otimismo dos investidores é suportado pelas perspetivas económicas animadoras, com 70% dos presentes a acreditar que 2022 colocará o crescimento da economia em níveis pré-Covid (2019) e outros 24% a defender mesmo que será um ano em que a atividade económica superará esse patamar, conforme se concluiu através de outra das questões colocadas durante o evento. O sentimento é partilhado pelos dois economistas convidados a comentar as perspetivas para a evolução da atividade, Ana Paula Serra, Administradora do Banco de Portugal, e José Brandão de Brito, Chief Economist do Millennium bcp.
Com a presença do Presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, o tema do turismo foi também debatido, embora neste campo o otimismo seja bastante mais moderado. Entre os presentes, 53% acredita que a atividade turística está em recuperação e estará em 2022 próxima dos níveis pré-Covid, mas outros 40% defenderam que continuará claramente abaixo de 2019. Ainda assim o setor da hospitalidade não deixou de estar o mapa dos investidores, que se mostram divididos entre investir com certeza neste setor nos próximos dois anos (50%) e considerar investir, mas com prudência (outros 50%).
Realizado nos dias 29 e 30 de setembro e organizado pela plataforma Iberian Property, o Portugal Real Estate Summit contou com a presença de 250 representantes da indústria imobiliária portuguesa e estrangeira, incluindo investidores e promotores oriundos de Portugal e Espanha, Bélgica, Reino Unido, Alemanha, Países Baixos, Suíça, França, Itália e Turquia. Estados Unidos, Canadá e Brasil foram outras nacionalidades presentes neste encontro cujo principal objetivo foi estabelecer um mapa para a recuperação económica da Ibéria, propondo um olhar atento sobre os mais diversos setores do imobiliário.