As alterações climáticas e o seu impacto devastador já chegou ao investimento imobiliário e aos grandes fundos que movimentam milhões de euros na aquisição de edifícios para rentabilizar, sejam estes de escritórios, habitacionais ou de hotelaria, por exemplo.
O mais recente estudo da consultora Savills – o Impacts 2021 – avaliou a evolução do mercado imobiliário mundial durante o último ano e concluiu que hoje, muitas cidades globais estão em risco de se tornarem vítimas diretas das alterações climáticas, destacando a especial vulnerabilidade das cidades costeiras.
“O aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos violentos representa, cada vez mais, uma preocupação para os investidores do mercado imobiliário. É com crescente importância que os investidores olham para os riscos físicos a que os seus ativos estão expostos, e as políticas municipais de mitigação dos efeitos das alterações climáticas nas cidades em que os seus imóveis estão localizados pesam cada vez mais na hora da tomada de decisão”, salienta-se no estudo, acrescentando que as “análises de risco climático são já parte indispensável da ponderação sobre o investimento por parte de muitos investidores”.
Riscos de seca, ondas de calor, cheias e tempestades são alguns dos indicadores que podem ser decisivos para o investimento imobiliário em várias cidades em todo o mundo.
Em linha com as preocupações a nível global, muitos proprietários estão a investir na sustentabilidade dos seus imóveis, com, por exemplo, a implementação de sistemas de monitorização inteligente de gastos energéticos, de forma a conseguirem aumentar a rentabilidade do investimento, ao mesmo tempo que reduzem a pegada ecológica dos seus ativos. No topo da lista de razões que levam as empresas a conferirem cada vez maior importância à sustentabilidade dos seus ativos estão a reputação da empresa e as oportunidades para aumento do retorno sobre investimentos.
A análise da Savills indica que 59 das 100 empresas com maior volume de receitas em todo o mundo já estabeleceram estratégias para redução de emissões de CO2, sendo que metade espera começar a atingir essas metas no início da próxima década.
O teletrabalho coloca em risco os escritórios?
O Impacts 2021 olhou também para o mercado de trabalho e para as transformações sofridas pelo segmento de escritórios, devido aos sucessivos confinamentos e à massificação do modelo de trabalho remoto, deixando muitos espaços de escritórios vazios durante meses. Mas terão os escritórios os dias contados? A Savills prevê que o teletrabalho não ditará o fim dos escritórios, mas que potenciará antes os novos modelos de trabalho, em que o escritório tradicional e os chamados home offices desempenharão novos papéis num emergente paradigma híbrido.
“Durante os próximos cinco anos, será possível observar a multiplicação de modelos de trabalho repartidos entre o escritório e a residência do trabalhador. Este fenómeno deverá registar uma maior aceleração em cidades como Nova Iorque, Paris, Londres, Berlim e Frankfurt”, vaticina o estudo.
Quem são as mais resilientes?
A Savills analisou ainda 500 cidades em todo o mundo com base em critérios englobados em quatro grandes temas: fundamentals económicos, economia e tecnologia de conhecimento, ESG (Ambiente, Social e Governance) e imobiliário.
No topo do índice figuram Nova Iorque, Los Angeles, Londres, Tóquio e São Francisco como as cinco cidades que demonstraram os níveis mais elevados de resiliência face aos impactos da pandemia de COVID-19. Estima-se que estes grandes centros urbanos continuarão a transformar-se e a adaptar-se a novos desafios que possam surgir.
Analisando estas cidades exclusivamente através da lente imobiliária, “é possível concluir que, apesar de o primeiro trimestre de 2021 ter ficado marcado por quebras significativas no volume global de transações comerciais, as maiores cidades mantiveram-se na liderança, com Los Angeles, nos EUA, a ultrapassar Nova Iorque como a cidade com o maior volume de transações imobiliárias a nível mundial”, sublinha-se no estudo.
“O nosso estudo veio demonstrar claramente, que o vigor que o mercado imobiliário apresentou nos últimos anos é consistente e se manteve em níveis muito interessantes, capaz de uma recuperação de energia que impulsionará as tendências que já se faziam sentir, ainda que de forma tímida, nos anos imediatamente anteriores a esta pandemia. De todos os conceitos que hoje falamos, hot desking, trabalho remoto, reuniões à distância, entre outros… só a agilidade de reuniões via Teams, Zoom, Google meeting, etc. foi de certa forma novidade, todos os outros conceitos de trabalho estavam já a ser implementados das mais variadas forma”, referiu Patrícia Liz, CEO da Savills Portugal.
Para a responsável, o que se verifica é um “impulso fortíssimo” para aquilo que poderia demorar muitos anos a disseminar por todas as empresas. “O fenómeno de aceleração a que iremos assistir nos novos conceitos de trabalho, tem a ver também com o facto destes conceitos já estarem à disposição das empresas e no mindset de quem projeta e constrói, a que se junta o conhecimento e vontade de quem investe. A liquidez do mercado será também um motor para essa aceleração. Também o acordar de forma mais consistente para o tema da sustentabilidade nas suas variadas formas, foi sem dúvida um dos fatores positivos que este momento, ainda que negativo, veio impulsionar, demonstrando uma vez mais que das crises também surgem oportunidades”, rematou ainda a responsável.