São belgas, já investiram 200 milhões de euros em projetos imobiliários em Portugal e têm muitos mais milhões para continuar a investir no país mas pedem menos burocracia e mais eficácia por parte das autarquias, principalmente a de Lisboa, na gestão dos processos de licenciamento.
Na Krest Real Estate Investments, a pandemia não travou a orientação estratégica da empresa, mantendo o percurso iniciado há cinco anos na construção de raiz e em várias frentes, da habitação aos escritórios passando pela hotelaria e retalho. Mas, diz Claude Kandiyoti, CEO da promotora, é preciso agilizar licenciamentos, por um lado, e regulamentar de forma clara, os processos construtivos nos projetos onde a componente sustentável é mais significativa.
“A questão da sustentabilidade é fundamental para nós e interessa-nos colocar em prática as soluções mais eficientes a esse nível. Mas deparamo-nos que muito do que queremos implementar ao nível de materiais de construção da última geração e que já usamos nos projetos que temos na Bélgica, por exemplo, nem sequer estão contemplados, por cá, ao nível dos regulamentos das autoridades estatais. Estes estão incompletos”, diz o responsável, lembrando que é uma postura incompreensível quando se sabe que 39% das emissões de gases com efeito de estufa têm origem no imobiliário.
Para além do custo da construção. “Hoje, se lançarmos um projeto com soluções que integrem geotermia, gestão de reutilização das águas e refrescamento natural da casa para reduzir o uso do ar-condicionado, vai custar mais 40% que a média e o nosso segmento-alvo, os clientes nacionais, não vai conseguir pagar. Mas o meu objetivo é conseguir atingir esse nível de sustentabilidade para uma casa acessível. Porque nós criamos casas acessíveis”, salientou ainda Claude Kandiyoti, que está em Portugal desde 2013, onde atuava no mercado têxtil, tendo começado a investir em imobiliário desde 2015.
Com uma mão-cheia de projetos em curso, e outros tantos prestes a serem fechados, a empresa belga tem procurado oportunidades de negócio em todo o país.
Na habitação, o grupo vende a bom ritmo o empreendimento Jardim de Miraflores, em Oeiras, com 120 apartamentos (85% dos quais já vendidos a €4.500/m2), espera arrendar ainda durante 2021 a totalidade da K-Tower, edifício de escritórios, com 14 pisos, que está a nascer no Parque das Nações e inaugurou, em plena pandemia, o seu primeiro hotel em Portugal, o Moxy Lisboa Oriente, mesmo em frente à Gare do Oriente, também na Expo com 222 quartos.
Projeto K-Tower que está a nascer no Parque das Nações
A norte, lançou, com o selo de Eduardo Souto de Moura, o primeiro projeto imobiliário no Porto, a cinco minutos a pé da estação de Campanhã, e que vai integrar habitação, escritórios, hotelaria e restauração, numa área superior a 70.000 m2. E no Algarve, depois do empreendimento Lakes 24, em Vilamoura, que deverá estar concluído este ano, já foi lançado, desta vez na Quarteira, o Horizon, com cerca de 130 apartamentos, em condomínio fechado, com piscinas e jardins privativos (e conclusão prevista para 2024).
No mercado da primeira habitação, para um segmento mais doméstico e dado os bons resultados do empreendimento em Miraflores, irá surgir mais um projeto em Oeiras.
Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate Investments
“Vamos lançar mais projetos em Oeiras. Há muito pouca oferta no concelho e Oeiras está em alta. Por outro lado, Lisboa não oferece hoje condições para os projetos que as famílias jovens querem, as casas ‘normais’ são demasiado caras e o licenciamento é muito demorado. Oeiras está a 10 ou 15 minutos de Lisboa e o licenciamento é mais rápido”, diz o CEO da Krest, adiantando que a empresa está também a fechar um outro projeto, a 30 minutos da capital, com grande escala, de mix-use e onde a componente residencial poderá chegar às 1.500 casas.
“O nosso objetivo é criar projetos para os portugueses: em relação aos escritórios onde as pessoas possam trabalhar como se estivessem em casa e em relação aos projetos habitacionais queremos criar casas onde as pessoas também possam sentir que estão no escritório e bem integrados com a questão do teletrabalho. Tudo integrado numa lógica mais sustentável, com pouco uso do automóvel, por exemplo”.
E nesta aposta fora de Lisboa, depois da torre de escritórios K-Tower e do Moxy Hotel, pesa a questão da burocracia na aprovação dos processos, admite o CEO da empresa.
“Vamos querer continuar a investir em Lisboa mas numa escala menor. Como investidor, para lançar um projeto, tenho de sentir confiança e preciso ter uma boa comunicação com os municípios. Isso significa, por exemplo, que quando temos questões, esperamos que alguém nos responda. E por vezes é difícil conseguir respostas. E isso não é tolerável. Também não é tolerável trabalhar sem timings. O que acontece em Lisboa, acontece em outras cidades da Europa porque existem cada vez menos terrenos e sim, sabemos que os procedimentos de licenciamento são complicados. Mas que acontece na Bélgica, por exemplo, é que existe uma discussão para conseguirmos chegar a um acordo, para validar o projeto e existem timings que são respeitados”, aponta Claude Kandiyoti, lembrando que a demora nos procedimentos “acaba por criar um mercado especulativo que só prejudica os portugueses que acabam por não poder comprar casas em Lisboa”.
O edifício de escritórios K-Tower esperou 29 meses pelo licenciamento e o Moxy Hotel cerca de 17 meses, processos que na Bélgica levariam seis meses a aprovar, exemplifica o responsável.
Dificuldades que, apesar de tudo, não o desencorajam a continuar a investir no país. “Estamos em Portugal a longo prazo e queremos continuar a investir em todos os segmentos porque nada mudou quanto à sua potencialidade”, rematou ainda o responsável.
A Krest está presente na Bélgica, Portugal, Polónia e Roménia. Em Portugal, 70% dos 200 milhões já investidos estão concentrados na região da Grande Lisboa.