Imagine o melhor de dois mundos – poder trabalhar e continuar a garantir o sustento da casa mas fazê-lo num local inspirador onde se pode também aproveitar para passear e desfrutar a vida. A ideia já era popular e praticada pelos millennials a quem, à conta desta tendência, até se lhes lhes arranjou um nome à medida – são chamados os nómadas digitais. A chegada da pandemia veio abrir portas a largos outros milhões, de todas as gerações, a trabalhar remotamente e com um inesperado passaporte para poder fazer o mesmo, desde que se mantenha a produtividade habitual.
Foi a partir deste princípio que em Portugal, à semelhança do que está a acontecer nos outros países, muitos hotéis começam a criar pacotes exclusivos para quem pode trabalhar à distância e quer aproveitar este período atípico em que vivemos para aplicar a máxima ‘Vá para fora cá dentro’.
A geração milénio chamou a esta tendência que agora se está a consolidar de ‘workation’, um anglicalismo que resulta da junção das palavras ‘work e ‘vacation’ , que é como quem diz, trabalho em registo de férias.
Com o mote “Aqui Trabalha-se”, a Pousada de Juventude da Serra da Estrela é um dos espaços de turismo que mais recentemente aderiu à tendência, tendo lançado oficialmente o programa há pouco mais de uma semana. Deserta do habitual público-alvo que anima os espaços da pousada – os jovens em viagens de grupo – a instituição reservou cerca de 50 camas distribuídas por quartos duplos e individuais para este propósito.
“Queremos fazer diferente. Passar a mensagem de que em vez de se ficar enfiado num T2 a teletrabalhar, em Lisboa ou em outro local qualquer, as pessoas podem desenvolver as mesmas funções a 1.600 metros de altitude, a partir da Serra da Estrela (onde existem todas as condições para se estar contactável 24 horas por dia), no meio da natureza onde se respira ar puro e se pode aproveitar também o local para fazer caminhadas e outras atividades”, diz à Visão Imobiliário Pedro Farromba, Presidente da Federação de Desportos de Inverno de Portugal, entidade que desde 2016 gere esta pousada da Juventude.
Os resultados conseguidos nas férias de Verão foram animadores e Pedro Farromba espera consolidar a procura por parte dos portugueses que, devido à pandemia, têm partido à descoberta do seu próprio país deixando as saídas internacionais para dias melhores. “Queremos diferenciar o interior do país que tão belo é e que tantas pessoas descobriram neste verão, o melhor de sempre da história da Pousada que já soma 90 anos! Agora queremos que venham cá apreciar as características ímpares da região em outras estações do ano”, realçou o responsável pela gestão da Pousada Serra da Estrela onde estes pacotes têm preços diários a variar entre os 35€ para uma pessoa e os 60€ para duas, em regime de pensão completa. ´
Trabalhar com vista para as vinhas
Bem mais a sul, em Monforte, o boutique hotel Torre de Palma lançou também um programa exclusivo para quem pode trabalhar em grande estilo no coração do Alentejo vinhateiro. A unidade de cinco estrelas está inserida numa herdade onde existem vinhas, adega, piscina interior (e exterior), Spa, restaurante e bar. Para além destas infraestruturas, os hóspedes têm ainda ao dispor uma sala de cinema, capela, picadeiro, horta biológica, pomar e um pequeno olival. ‘Escapes’ que têm sido bem aproveitados por estes novos clientes.
“Os nossos hóspedes que se encaixam no perfil do teletrabalho são pessoas que acabam por ter liberdade para sair das cidades onde vivem e e a maioria vem de Lisboa ou do Porto. Aqui as pessoas estão literalmente no meio do nada e podem estar na natureza, caminhar, andar de bicicleta, coisas simples que são agora as mais valorizadas”, diz a diretora do hotel, Luísa Rebelo, especificando que o pacote-base de cinco dias custa 980€ e ajusta-se à semana de trabalho, com entrada no domingo e o (late) check-out na 6ª feira.
As 19 suites do hotel (todas com saída direta para a envolvente exterior) estão preparadas para o trabalho remoto mas muitos clientes preferem as áreas comuns do hotel para se concentrarem como o bar onde desfrutam de vista para as vinhas ou do calor da lareira agora que o frio já começa a fazer-se sentir. Para quem pode desfrutar de atividades-extra “há passeios a cavalo, provas de vinho e workshops onde se pode fazer o seu próprio blend”, diz Luísa Rebelo, acrescentando não ter dúvidas que “esta tendência veio para ficar juntamente com o teletrabalho”.
Na muito exclusiva Quinta da Marinha, o Sheraton Cascais Resort transformou-se há quatro meses também no Resort Office, uma forma de transmitir que para além da habitual oferta de lazer, o luxuoso espaço pode ser usado e desfrutado por quem está em atividade profissional.
“A hotelaria está a reinventar-se e a adaptar-se às novas tendências. E a simbiose é perfeita para quem quer trabalhar num espaço onde também se sinta bem, saudável e desfrutar de todos os equipamentos de um resort”, resume Pedro Santos, diretor-geral do Sheraton Cascais, adiantando que outras unidades da cadeia, onde se incluem o Pine Cliffis, no Algarve ou o Sheraton Porto, também já aderiram ao workation.
No Sheraton Cascais Resort, um dos primeiros a apostar neste conceito, existem 73 suites preparadas para jornadas intensas de trabalho com internet de alta velocidade que assegura sem percalços a realização de videoconferências e onde se podem acrescentar materiais de escritório como impressora, ecrãs e projetores, caso seja necessário para apresentações.
Tanto as suites como as salas de reunião (que também estão disponíveis para serem reservadas) estão equipadas com alguns ‘mimos’ como máquina de café e chá e, a partir de um tarifário de 450€ por semana (ou 65€ por quatro horas num dia), dão também acesso livre ao ginásio e piscina interior do Resort. “Já existe neste momento procura na zona da grande Lisboa para este tipo de serviço. Portugueses ou estrangeiros que residem em Portugal que querem um espaço apropriado para reuniões de trabalho”, realça ainda Pedro Santos.
Uma procura que começa a ser sentida de norte a sul do país criando pequenos balões de oxigénio para os hoteleiros numa altura em que os turistas escasseiam. Entre muitos outros que também já aderiram ao workation contam-se as várias unidades da cadeia Selina em vários pontos do país, o eco-resort Zmar (perto da Zambujeira do Mar), o PortoBay Liberdade (no centro de Lisboa), o Hotel Golf Mar (no Vimeiro) ou a Aldeia dos Capuchos, Golf&SPA (na Caparica), só para citar alguns exemplos.