É um dos setores mais afetados pela pandemia mas ainda pouco referenciado nas estatísticas catastróficas mais centradas nas quebras do alojamento local, a restauração ou retalho. As residências universitárias estão a passar por um mau bocado, desertas de estudantes que habitualmente animam os espaços mas, tal como acontece no turismo, a expectativa do seu regresso a curto prazo mantém os planos de expansão dos investidores em curso. É o que está a acontecer com a U.hub/Xior que em plena pandemia abriu duas novas residências – uma em Lisboa e outra no Porto – e tem mais duas para avançar em breve igualmente nas duas principais cidades do país, num investimento global de 100 milhões de euros.
No momento pré-Covid, o mercado de estudantes deslocalizados chegava aos 116 mil nacionais e mais de 50 mil vindos do estrangeiro, num fluxo que tem vindo a crescer exponencialmente nos anos mais recentes. A pandemia, porém, congelou muitos programas académicos, entre os quais o popular Erasmus, com consequências diretas nas taxas de ocupação das residências universitárias que só agora, no final do ano, voltam a reanimar com a notícia tão desejada da vacina anti-Covid.
“A gestão da pandemia foi desafiante e quando se fez o confinamento, em março, tivemos logo uma redução de cerca de 15% dos estudantes residentes nos nossos edifícios que quiseram voltar para as suas casas. Mas no geral as pessoas ficaram porque os nossos quartos garantem a total privacidade, sem partilha de casas de banho. Na segunda fase, em setembro e outubro, já foi diferente e sentimos um impacto maior junto dos estudantes Internacionais porque muitas faculdades cancelaram os programas de Erasmus ou colocaram-nos num registo online. Hoje em dia temos muito mais estudantes portugueses do que o habitual”, explica à Visão Hugo Gonçalves Pereira (administrador da U.hub.
Com três residências mais pequenas em Lisboa, com cerca de 50 quartos cada, e as duas mais recentes inauguradas em 2020 – a de Benfica com 340 quartos e a do Porto, na Asprela, junto ao campus universitário com 456 unidades – a Uhub tem neste momento uma ocupação média na ordem dos 50% nos seus espaços.
“Em Lisboa, esta ocupação está repartida de forma equitativa entre nacionais e estrangeiros mas no Porto o peso dos nacionais sobe para os 70% com os estrangeiros a absorver uma fatia de 30%”, diz o responsável.
A chegada da vacina veio trazer otimismo relativamente ao fluxo de estudantes e já se começa a sentir algum dinamismo, com reservas a chegarem para o segundo semestre deste atípico ano letivo. “Estamos com bastante esperança que ainda neste ano letivo se consiga ter um grande impulso no segundo semestre e isso porque já estamos a sentir um crescimento bastante acentuado no tráfego online das nossas residências durante este mês de dezembro, o que mostra que os jovens estão novamente à procura de quartos”, sublinhou Hugo Gonçalves Pereira.
Com preços a rondar em média os 500€ em Lisboa e os 450€ no Porto (com todas as despesas incluídas), as residências universitárias da U.hub integram-se nesta nova geração de espaços aprimorados onde não faltam a lavandaria, biblioteca, salas multimédia e de estudo, sala de cinema e de jogos e até ginásio, uma espécie de hotel com receção 24 horas mas em ambiente estudantil. Valências que começam a ser habituais nos novos projetos qualificados que se têm multiplicado no mercado e cujo reforço da oferta está já a ter impacto nos preços.
“A entrada de operadores está a trazer uma oferta mais diversificada e tal como acontece na hotelaria com hotéis de 5, 4 ou 3 estrelas também agora nas residências universitárias começam a surgir ofertas para todos os gostos. Hoje, com os operadores, os estudantes já sabem com o que podem contar em termos de profissionalização e de serviços incluídos. No passado, era quase uma lotaria…”, referiu o administrador da U.hub.
Atualmente a U.hub/Xior tem um total de 1.000 quartos e prepara-se para avançar com mais dois projetos que irão somar mais 900 camas e cuja conclusão está prevista para um prazo temporal de 12 a 24 meses.
“O nosso objetivo é atingir os 2.000 quartos e neste momento temos mais dois projetos em curso: um na Alta de Lisboa, em fase de aprovação com 500 quartos e um outro que já está aprovado na Boavista, no Porto, e que deve começar no início do próximo ano, também com 500 quartos. Num total iremos ficar com um portfólio de cerca de 2.000 quartos”, acrescentou o administrador da U.hub, acrescentando que estas quatro novas residências somam um total de investimento de 100 milhões de euros.
Sustentabilidade construtiva
A acompanhar todos estes projetos está a Tecnoplano, empresa responsável pela gestão dos projetos de construção e liderada por Bernardo Matos de Pinho.
A questão da sustentabilidade tem estado presente em todos os edifícios com o recurso a painéis solares para aquecimento das águas e isolamento térmico dos edifícios, entre outros pormenores. No caso da residência da Asprela recorreu-se também a uma solução inovadora para reduzir ao máximo o desperdício em termos construtivos, através da instalação de casas-de-banho pré-fabricadas, um método cada vez mais utilizado além-fronteiras.
“Procurou-se uma solução que é já uma tendência de mercado: a industrialização na construção. Neste caso, estamos a falar de todas as casas-de-banho da residência universitária da Asprela, as 456, que foram feitas em fábrica, com todos os acabamentos e tubagens já instalados e que entraram dentro da laje de betão durante a obra e desembrulhadas no final. Visualmente parece uma casa-de-banho concebida de forma tradicional”, explicou o CEO da Tecnoplano, acrescentando que esta instalação permitiu não só reduzir o risco de defeitos e de imprevistos na obra mas também diminuir a circulação do número de operários dentro de um espaço pequeno e confinado como a casa-de-banho o que, em tempos de pandemia, se revelou eficaz para reduzir também os riscos de transmissão de Covid-19.
“ O mercado da construção está a caminhar para uma industrialização e, no futuro, as empreitadas assentarão na montagem de componentes da obra que são feitas em fábrica. Isto foi um ensaio bem conseguido e no final conseguimos ter uma obra feita em tempo recorde”, rematou o administrador, acrescentando que este tipo de soluções permite resolver “o problema que existe atualmente com a falta de mão-de-obra qualificada” e tendo em conta os vários projetos que existem em pipeline no país.