A dúvida existencial não é de hoje e boa parte das decisões assentam muitas vezes na carência crónica de habitações no mercado de arrendamento ‘empurrando’ os portugueses para a aquisição de casa, consolidando o estatuto a nível europeu de um dos povos com a mais alta taxa de propriedade da Europa (cerca de 70%). Mas, com as condições ideais, existindo a possibilidade de comprar ou arrendar, que critérios devem estar subjacentes à decisão?
“Quando pensamos em sair da casa dos nossos pais, existe uma dúvida que se impõe: comprar ou arrendar? Esta dúvida permanece também noutros contextos da nossa vida, quer seja no momento em que mudamos de cidade ou a família cresce, por exemplo. É algo muito natural. Temos de perceber em cada momento, qual a melhor solução para nós e sobretudo para o nosso futuro”, diz Rui Bairrada, CEO do Doutor Finanças, empresa especializada em finanças pessoais e familiares.
A resposta depende do contexto de cada indivíduo ou família. O planeamento do futuro nesta situação assume um papel preponderante, diz o responsável. Não existem respostas corretas nem erradas quando questionamos qual a melhor opção mas sim quais as vantagens e as desvantagens dos dois cenários, sublinha ainda o responsável.
Comprar: o cenário em que se é proprietário
Comprar uma casa representa um grande investimento, mas é algo que fará parte do património da família. “Uma vez nossa, a casa é da nossa responsabilidade, assim como todos os cuidados que dela advêm. Temos liberdade para fazer os furos que quisermos nas paredes, sem ter de pedir autorizações prévias, por exemplo”, exemplifica Rui Bairrada.
Contudo, no que a despesas diz respeito, devemos estar preparados, pois teremos de pagar uma série de taxas e comissões ao banco (em caso de empréstimo) e ao Estado, tendo em atenção que o banco apenas empresta até 90% do valor da casa. No caso do empréstimo, devemos também fazer cálculos à prestação que teremos de pagar mensalmente.
Riscos de comprar
Dar o passo de comprar casa significa assumir riscos. Alguns podem estar mais sob o nosso controlo, outros nem tanto.
- Subida de juros. Caso recorramos a empréstimo e a taxa for variável, devemos ter em conta a possibilidade de os juros subirem. Se é verdade que estamos a passar por um período em que a Euribor se encontra negativa, isso pode mudar, ainda que não se preveja que aconteça nos próximos tempos. É necessário avaliar e perceber se conseguiremos continuar a pagar o crédito mesmo que os juros subam;
- Desvalorização do preço do imóvel. Principalmente se colocamos em equação fazer dinheiro, um dia mais tarde, com a casa. Ainda que em muitas zonas os preços das casas continuem a subir,a desvalorização é um risco iminente que devemos considerar, se a casa que vamos adquirir não for para a vida;
- Obras. Mais uma vez falamos de responsabilidades com o imóvel, enquanto proprietário. Se por algum motivo for necessária a intervenção na fachada, no telhado ou na canalização, por exemplo, essa despesa só poderá ser suportada por nós – a quem a casa pertence.
Benefícios de comprar
- Prestações mais baixas. A prestação de um crédito habitação é, por regra, mais baixa do que a renda de uma casa alugada.
- Valorização do imóvel. Comprar um imóvel significa enriquecer o património, ficando com a possibilidade de vender esse bem. Se tivermos em consideração a evolução dos últimos anos, identificamos uma quebra de preços na última crise. Contudo, foi temporária, sendo algo que não se prevê que se repita nos próximos tempos.
- Estabilidade. Ao ter uma casa que é nossa, poderemos manter-nos nela o tempo que quisermos, não estando dependentes de dinâmicas do mercado nem de um contrato com terceiros.
Arrendar: o cenário em que é arrendatário
Já num cenário de arrendamento, a casa não é nossa. Devemos por isso, ter mais cuidados com as alterações que pretendemos fazer, por mais pequenas que sejam. Devem sempre passar pela aprovação prévia do senhorio. Os contratos de arrendamento dão-nos, no entanto, mais liberdade para trocar de casa. Salvas as atualizações de renda que podem acontecer no final dos contratos, mesmo que estes sejam renovados, pode planear os gastos que terá com habitação a médio/longo prazo, sem oscilações.
Riscos de arrendar
Arrendar também tem os seus riscos, característicos da situação temporária e algo dependente que representa o arrendamento.
- Rescisão de contrato antecipada. Apesar de ter que obedecer a determinadas regras, o senhorio pode rescindir o contrato antecipadamente em algumas situações e colocar os inquilinos numa situação fragilizada;
- Término do contrato e sem renovação. Mesmo que seja uma situação anunciada previamente, a não renovação de contrato e procura de casa pode ser desafiante, especialmente para quem tem família e filhos pequenos.