O impacto demolidor da pandemia continua a fazer-se sentir no imobiliário comercial. Segundo o mais recente Market Update, da consultora Cushman & Wakefield (CW), no primeiro semestre de 2020 foram fechados 150 negócios de retalho, “uma quebra expressiva de 64% face a 2019, a qual foi particularmente sentida durante o segundo trimestre, com apenas 40 aberturas (-82%)”, refere-se no relatório.
O comércio de rua representou 69% da procura (103 novas lojas), seguido pelos conjuntos comerciais com 18% das novas aberturas. Impulsionado pelo crescimento que o turismo vinha a registar, o setor da Restauração foi o mais ativo, com 62% do número de operações (93), seguido por Outros e Lazer & Cultura, cada um com 10%.
A predisposição para alguns proprietários concederem incentivos aos seus inquilinos, nomeadamente acarência de rendas e/ou contribuições para obras de adaptação, entretanto complementada com a moratória de rendas permitiu manter estáveis os valores brutos de arrendamento, com a renda prime (a mais cara) no comércio de rua a situar-se nos €130/m²/mês em Lisboa (Chiado) e nos €75/m²/mês no Porto (Baixa); e nos €105/m²/mês em centros comerciais.
Adicionalmente, entrou recentemente em vigor um regime excecional que suspende o pagamento de rendas fixas nos centros comerciais até ao final do ano, sendo somente devidas pelos inquilinos a renda variável e despesas comuns, aguardando-se detalhes sobre como o mesmo será implementado.
“A atual conjuntura abrandou fortemente o crescimento que o mercado imobiliário nacional vinha a registar ao longo dos últimos anos, com a maioria dos operadores ou intervenientes no mercado a adotar uma atitude cautelosa. Neste contexto, a maior abertura dos proprietários à concessão de incentivos aos arrendatários permitiu uma manutenção dos valores brutos de arrendamento. Por outro lado verificou-se uma correção em alta das taxas de rentabilidade exigidas pelos investidores institucionais. Para o final do ano, antecipa-se uma quebra generalizada na atividade imobiliária face a 2019, que será particularmente sentida nos setores atualmente mais afetados, nomeadamente retalho e hotelaria”, realçou Andreia Almeida, associate e diretora de Research & Insight da Cushman & Wakefield.
Comércio online “dá gás” à logística
A atividade de ocupação no setor industrial e logístico demonstrou uma ligeira redução da procura no primeiro semestre, com 64.400 m² transacionados, 9% abaixo do período homólogo, realça ainda o estudo.
Com o aumento do comércio online, a procura de espaços adaptados a este modelo de negócio aumentou, particularmente espaços logísticos nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e plataformas de distribuição de last mile nos seus centros urbanos.
“Em termos de projetos futuros, a atual escassez de oferta de espaços de qualidade deverá ser colmatada com a construção de novos projetos, entre os quais se destaca a Plataforma Logística Lisboa Norte (Castanheira do Ribatejo) da Merlin Properties, com uma área total de 225.000 m² e cujo primeiro armazém (45.000 m²) se encontra em construção”, refere a CW.
Neste enquadramento, os valores de arrendamento prime mantiveram-se estáveis, com a Zona 1 de Lisboa (Alverca-Azambuja) nos €4,00/m²/mês e do Porto (Maia-Via Norte) nos €3,85/m²/mês.