Ainda agora começou o período de desconfinamento mas já há promotores a reajustar os produtos imobiliários tendo em conta os efeitos da pandemia nas aspirações de quem vai comprar casa, no futuro.
É o caso da Vanguard Properties, do multimilionário francês Claude Berda, que vai criar em três dos seus projetos zonas específicas para quem quer e pode estar em teletrabalho mas não quer fazê-lo na sua própria casa.
José Cardoso Botelho, braço-direito de Berda e diretor-executivo da Vanguard, explica: “O teletrabalho é uma tendência que segundo os especialistas veio para ficar mas trabalhar em ambiente familiar traz também alguns desafios. Pensámos por isso que seria uma boa ideia reorientar os nossos projetos (naqueles onde ainda é possível) e criar áreas dentro dos edifícios ou dos empreendimentos onde se possa trabalhar sem estar em casa e com acesso a todas as funcionalidades que permitam a quem utiliza o espaço assegurar os níveis de produtividade”.
Três projetos irão incluir estas zonas de cowork em regime residencial: a Herdade da Comporta, o Infinity (em Sete Rios) e o Foz do Tejo (em Oeiras, junto à marginal).
Mas dos três projetos, o empreendimento Foz do Tejo situado entre o Parque Urbano e Desportivo do Jamor (Oeste), Cidade do Futebol (Norte) e a marginal (sul), na localização tradicionalmente conhecida como “Alto da Boa Viagem”, leva o conceito a um patamar mais elevado.

Com obras a iniciar no próximo mês de julho, o Foz do Tejo vai implicar um investimento de 280 milhões e está pensado para ser ocupado por cerca de 3.000 pessoas, oferecendo a Vanguard Properties 400 unidades (entre moradias unifamiliares e apartamentos do T2 a T6 ), um aparthotel (com mais 400 apartamentos) e um hotel. A oferta será ainda complementada com um edifício de comércio e serviços, com cerca de 28.000 m2 e cujo destino foi agora reformulado a reboque do impacto da pandemia nos novos hábitos de trabalho.
“O empreendimento abrange 30 hectares e está subdividido em duas áreas, cada uma designada por uma marca distintiva: o Alto do Farol, na zona frontal, sobranceira à avenida marginal, onde irão ser construídas um conjunto de moradias unifamiliares, recuperado um Palacete com 30 divisões e ainda desenvolvidos um conjunto de edifícios de baixo perfil, residenciais, comércio e serviços; e o Alto do Rio, na parte mais elevada do terreno, que incluirá três torres residenciais de dezoito pisos, o hotel e o aparthotel”, explica-se na memória descritiva do projeto que terá as primeiras unidades concluídas em 2022.

Se tudo o resto se mantém como previsto, já o edifício de serviços passará por uma reformulação do conceito tornando o Foz do Tejo “o primeiro empreendimento na região de Lisboa a oferecer uma versão híbrida de cohousing, onde, a menos de 3 minutos a pé, qualquer residente, poderá ter a sua zona de trabalho privada, com capacidade e qualidade para receber visitantes”, refere Cardoso Botelho.
“Já estava previsto no loteamento um edifício de serviços e comércio com cerca de 28.000 m2 e ainda estávamos a decidir se iríamos destiná-lo a um edifício de escritórios normal ou arrendar a uma clínica, por exemplo. Mas agora vamos transformá-lo numa área com vários espaços de escritórios (com áreas entre os 9 e os 18 m2), provavelmente com 100 a 150 unidades, que terão ainda acesso a zonas comuns como a cafetaria ou salas de reuniões”, explica ainda o responsável, acrescentando que a Vanguard já apostava no conceito de teletrabalho que o pós pandemia veio agora acelerar.
Lembrando o peso das indústrias tecnológicas no concelho de Oeiras (onde o projeto está inserido) e o tipo de profissionais que estas atraem, o conceito vai também reforçar os argumentos de venda, salienta ainda o responsável, acrescentando a vantagem de sair de casa para ir trabalhar mas a curta distância a pé e num espaço que está a ser projetado para ter o mínimo impacto em termos construtivos.
Miguel Saraiva, fundador do ateliê que assina o projeto de arquitetura e paisagismo, realça ainda que “a aposta foi feita numa construção que respeite o ambiente e a paisagem. Como tal, o projeto irá privilegiar soluções sustentáveis sobretudo ao nível passivo, havendo um estudo cuidadoso da exposição solar mais adequada de forma a reduzir ao mínimo os gastos energéticos e níveis de poluição gerados pelos edifícios ao longo do tempo”. Na mira está a certificação Breeam e a certificação de Healthy Living a conceder pela Nova Medical School, para comprovar o selo da sustentabilidade do projeto.

O preço das casas varia entre os 280 mil e o 5 milhões
O local foi determinante para a abordagem seguida, diz o arquiteto. “A fusão do verde presente ao longo de todo o empreendimento deu origem a uma arquitetura mais plana, mas ao mesmo tempo aérea. Queríamos volumes leves que planassem sobre verde”, reforça ainda Miguel Saraiva.
Assim, à aquisição das casas (com valores entre os €280 mil e os €5 milhões) soma-se a venda dos espaços de escritório, cujos preços ainda não estão definidos. A comercialização do Foz do Tejo deverá arrancar em setembro.
As condições para o teletrabalho sem sair (muito) de casa estarão também reunidas em outros dois projetos da Vanguard. “Estamos a pensar incluir este conceito no projeto da Comporta e na torre Infinity”, garante José Botelho.
Na Infinity, cuja construção já arrancou e leva mais de 100 unidades vendidas, a área de 220 m2 que estava anteriormente destinada a sala de eventos ou festas, vai ser reconvertida num centro de cowork de livre acesso para todos os moradores do edifício.
“A experiência do teletrabalho revelou-se positiva para muitos de nós, e sem perder os níveis de produtividade, bem pelo contrário. E os projetos imobiliários têm de se adaptar a estas novas realidades”, rematou ainda o diretor-executivo da Vanguard Properties.