Volvidos pouco mais de 30 dias desde que foi decretado, pela primeira vez, o estado de emergência e conhecidas as medidas do Governo para conter a transmissão do (cada vez menos) novo coronavírus, começamos finalmente a ver alguns sinais de evolução positiva em termos de mitigação da pandemia.
Finalmente, porque parecem estar criadas as condições para que tal aconteça, o tema de fundo parece cada vez mais ser o do “alívio” – cauteloso e progressivo – das restrições. Um cenário que, até há poucas semanas era muito pouco plausível e sugeria antes um “aperto” das medidas, incluindo um confinamento sem fim à vista, para mitigar um pico que, sabemos agora, poderá já ter passado, ao invés de se verificar, dizia a DGS para “nunca antes, provavelmente, do mês de maio”.
Na realidade, no atual contexto, quaisquer projeções sobre matérias de saúde pública serão sempre ingratas e a cautela das autoridades portuguesas em fazer relatos otimistas é, naturalmente, compreensível e até desejável. Esta narrativa prudente, que produziu efeitos muito positivos do ponto de vista sanitário, teve um mérito económico que é extraordinariamente importante para um país como Portugal, que, pós-crise das dívidas, tem a agradecer a sua retoma, em larga escala, ao setor do turismo e do imobiliário.
E não tenhamos dúvidas: hoje travamos todos a necessária luta sanitária. Mas a batalha que temos pela frente é, porventura, mais morosa, em particular para economias de pequena escala como é a portuguesa.
O “mistério português” – como alguma imprensa internacional se refere aos bons resultados que Portugal tem registado na contenção do coronavírus – ou as características lusas da autodisciplina (!) e do cumprimento escrupuloso de regras – poderão colocar Portugal, novamente, no pódio dos países de acolhimento do investimento internacional e daqueles que, seguramente, aqui continuarão a instalar a sua residência (mais ou menos habitual).
Esta questão é particularmente premente para o setor do imobiliário, tendo em conta que este inesperado evento atingiu o mercado numa fase ascendente, num momento em que se registavam números recorde em quantidade e valor de transações imobiliárias. De facto, a demonstrar-se que as medidas de isolamento controlado, conjugadas com uma aparente e fundamental estabilidade política, permitiram reduzir o impacto da pandemia e assegurar a capacidade de resposta do nosso serviço nacional de saúde, Portugal poderá entrar num cenário pós-pandemia com a sua credibilidade reforçada perante potenciais investidores.
Este contexto beneficiará não só a procura de imobiliário residencial por parte de investidores internacionais, “conquistados” pela capacidade de resposta que as autoridades portuguesas venham a demonstrar, mas irá também tranquilizar os investidores institucionais que têm dinamizado o mercado imobiliário nos últimos anos e favorecer a realização de transações imobiliárias, ainda que ajustadas a uma nova realidade.
A título de exemplo, é expectável que o investimento em setores como a logística seja reforçado, enquanto que o investimento em edifícios de escritórios (na nova era do teletrabalho) ou até em alguns projetos turísticos possa ser prejudicado.
Estamos bem longe do cenário projetado nos primeiros meses do ano, em que se faziam previsões de crescimento do PIB perto dos 2%, justificadas pela boa prestação da nossa economia (mesmo num cenário de algum abrandamento global) e fundadas na repetida eleição do nosso país como um dos principais destinos turísticos da Europa.
Chegados aqui, no contexto de crise económica que, desta vez é mundial, a verdade é que para um país como o nosso, demasiado dependente do turismo e do investimento estrangeiro, a mensagem de estabilidade e segurança que o sucesso no controlo desta pandemia poderá assegurar – sem prejuízo das fortíssimas e excecionais medidas de incentivo à economia que, necessariamente, terão de existir – é essencial para minimizar os impactos da já inevitável recessão.