A pandemia do COVID 19 irá a curto e médio prazo, impactar negativamente e de forma transversal, todo o mercado imobiliário. Esse embate, será, no entanto, diferenciado na extensão e duração, em função do segmento e posicionamento do produto.
No segmento dos escritórios e retalho, haverá certamente um volume importante de rendas não cobradas e de descontos concedidos, e provavelmente, dar-se-á um aumento do vacancy rate.
Na área residencial, no imediato e nos próximos três meses, irá haver uma fortíssima retração na venda de habitação usada e redução significativa na procura e assinatura de contratos de promessa para as promoções em curso, e ainda, adiamento de alguns contratos bem como de cancelamentos de reservas.
É provável uma recuperação no prazo de 6 a 12 meses, especialmente para os produtos de maior qualidade e melhores atributos, nomeadamente, em termos de localização, vistas, qualidade da arquitetura e acabamentos.
Acredito, no entanto, que as faixas médias e inferiores do mercado, até pelo previsível aumento do desemprego e redução do poder de compra, durante os próximos 6 a 18 meses, sofrerão cumulativamente uma contratação no volume de transações e no preço médio afetando menos as cidades de Lisboa, Porto e Algarve.
O sector da mediação imobiliária, que dá emprego a um grande número de pessoas, as empresas de menor dimensão, sem capacidade de investir massivamente em comunicação, infelizmente irão sofrer uma grande quebra nos próximos meses e é provável que essa baixa perdure por prazo não inferior a 12 – 18 meses.
No segmento dos escritórios, é possível que esta crise despolete alterações na forma de trabalhar, recorrendo-se a mais tecnologia e teletrabalho, com consequente redução da área por colaborador, podendo igualmente, gerar uma demanda na área do cohousing e conceitos afins, logo, mais oportunidades para o segmento residencial.
Nesta fase de crise e incerteza, o Governo e as Autarquias deverão rapidamente atuar considerando o peso da promoção e construção no PIB Nacional (> a 15%). A desburocratização dos processos administrativos é essencial – legislar no sentido de permitir a realização de determinados atos, nomeadamente notariais, recorrendo à videoconferência e assinatura digital (procurações, escrituras, etc).
As edilidades, deviam agilizar os processos, disponibilizando documentos oficiais certificados da mesma forma que hoje é disponibilizada uma Certidão Predial on-line e assim evitar a intervenção dos serviços da edilidade, mantendo a necessária segurança jurídica, mas ajudando o sector a ultrapassar esta fase, em que é virtualmente impossível às pessoas deslocarem-se.
O Governo, deve definitivamente equacionar a redução do IVA na construção nova e as autarquias a redução dos taxas e mais-valias que impõem aos promotores nos projetos de média e grande dimensão. Por fim, e absolutamente essencial, as autarquias, devem encurtar de forma muito significativa o tempo de aprovação dos projetos.
Se Portugal ultrapassar esta crise ao nível sanitário e de saúde pública melhor que os seus parceiros europeus, poderá a curto-prazo (6-12 meses), receber um ainda maior influxo de estrangeiros e porventura lograr o repatriamento de alguns portugueses qualificados que tanta falta nos fazem, incluindo, no sector da saúde.
É essencial, aumentar a atratividade do nosso mercado, e a captação de mais investimento visto que as empresas e os empresários portugueses, sozinhos não terão capacidade para investir.
No sector imobiliário, deverá o Governo, repensar o programa dos Golden Visa, pois este será um veículo importantíssimo para captar investimento da Ásia, Brasil, EUA, Canadá, Turquia, entre outros.
As vantagens competitivas de Portugal mantêm-se intactas e porventura até serão reforçadas pós-pandemia, cabe-nos a todos, promover o nosso crescimento de forma sustentada e inteligente, sabendo que, tal ensejo só será conseguido com o investimento externo e a recuperação do sector imobiliário e turístico.
Os promotores, com produtos com qualidade acima da média, devidamente capitalizados, visão de médio e longo prazo, podem ultrapassar esta fase, com relativa facilidade. A maioria, não utiliza os sinais pagos pelos clientes para financiar as obras e os lucros só são apurados na fase da escritura.
Certo é, no futuro imediato e a prazo, a qualidade intrínseca do promotor, passará a ser determinante para a conclusão dos novos negócios, especialmente, no caso da venda em planta.