O surto do Covid-19 que afugenta os turistas e está já a asfixiar o setor do alojamento local poderá constituir uma oportunidade para o mercado de arrendamento de longa duração.
Esta foi uma das principais conclusões de uma conferência online realizada hoje em direto sobre “o impacto do Covid-19 no mercado imobiliário”, organizada pela Vida Imobiliária e pela APPII ( Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários).
“Com a descida no fluxo de turistas, não temos a menor dúvida que vamos ver muitos apartamentos que estavam alocados ao alojamento local (AL) a transitar para o mercado de arrendamento de longa duração. Esse movimento já existia nos últimos meses de 2019 como pudemos verificar junto das nossas agências, mas com este novo surto intensificou-se nestas últimas semanas e vai continuar”, confirmou Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal e um dos intervenientes no painel de convidados desta iniciativa inédita no país e que contou com uma assistência online de cerca de 1.000 pessoas, entre profissionais do sector, jornalistas e outros interessados no tema imobiliário.
Esta foi uma das questões lançadas à votação junto de quem acompanhou a conferência e 79% respondeu que o surto do Covid-19 terá impacto positivo (37%) ou moderado (42%) no mercado de arrendamento.
Para Pedro Vicente, administrador da Habitat Invest, empresa com 13 empreendimentos reabilitados em Lisboa e no Porto (correspondendo a 400 unidades), parte deles alocados ao AL, esse movimento irá intensificar-se principalmente junto dos proprietários com poucas unidades e que já se estavam a ressentir nos últimos tempos do excesso de concorrência do mercado.
Hugo Santos Ferreira, Vice-Presidente Executivo da APPII ( Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários) ressalvou, contudo, que não basta existirem condições (ainda que anómalas) para esta inesperada dinâmica que se prevê para o arrendamento. “É preciso acima de tudo credibilizar o mercado de longa duração cuja regulação já foi alterada mais de dez vezes na última década”, realçou este responsável, criticando “a imprevisibilidade e a instabilidade fiscal” que marca o sector, afugentando quem nele quer investir.
Ricardo Sousa, CEO da Century21, reforçou, lembrando ainda que “o desafio passará agora não tanto pelo reforço da oferta no número de imóveis para arrendar mas pelos preços desse arrendamento e o poder de compra das famílias portuguesas”.