Está a revitalizar as cidades, cria milhares de postos de trabalho e gera milhões de euros em receita fiscal, mas o Alojamento Local (AL) nem sempre é um tema consensual na sociedade portuguesa. Um ‘bloqueio’ que tem levado a AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares) a encomendar vários estudos ao Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) para várias regiões do país com o objetivo de mostrar o real impacto deste negócio turístico-imobiliário.
O mais recente centrado só na região do Algarve foi divulgado esta semana em Albufeira e permitiu concluir que o alojamento local gerou cerca de 66 mil postos de trabalho (19.904 diretos e cerca de 46.133 indiretos), e só num ano (entre julho de 2018 e junho deste ano) em gastos diretos dos turistas com o AL foram movimentados 981 Milhões de euros.
Este estudo da AHRESP intitulado “O Impacto Económico do Alojamento Local no Algarve e a Caraterização dos Alojamentos, dos Proprietários e dos Hóspedes de AL ” apurou ainda que estes turistas gastaram 1.048 milhões de euros em alimentação, atrações, deslocações e outras compras), tendo o Estado arrecadado nesse período quase 159 milhões de euros em impostos e taxas associadas a esta atividade.
“Encomendámos este trabalho (à semelhança do que já fizemos para Lisboa e Porto) porque quem tem responsabilidades nesta matéria não pode legislar ou intervir sem conhecer bem o sector de atividade. A verdade é que o alojamento local gera muitas paixões e opiniões mas é importante ter factos na mão para opinar”, sublinhou à Visão Imobiliário Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP.
Assim, a partir do universo de 32.405 unidades de AL existentes na região algarvia (à data do estudo) e de uma amostra de 2947 alojamentos, apurou-se que a maioria dos alojamentos (40,3%) encontrava-se desocupada ou era utilizada como casa de férias e 17,9% eram imóveis comerciais reconvertidos. Apenas 6,2% estava arrendado.
“Para além do impacto direto para os proprietários, é preciso lembrar que passando estas casas a ter uma utilização, é todo um território que acaba por ser alavancado. Os turistas não só dormem mas vão a restaurantes, ao comércio, consomem… Todo esse território onde o AL se insere passa a ter vida”, sublinhou a responsável.
O estudo mostra que o grau de satisfação dos proprietários é bastante elevado com 69,5% a dizer que a atividade está a corresponder às expectativas e 23,5% a sublinhar mesmo que estas até foram superadas. A maioria (98,9%) tem intenções de continuar com a atividade de Alojamento Local. Segundo o trabalho, “a taxa média de ocupação cresceu sustentadamente, quase dobrando ao final de 5 anos, para um valor de 65,1%”.
O estudo acrescenta que a maioria dos proprietários não necessitou de grandes investimentos para colocar o apartamento no mercado turístico – 54% fez pequenas obras e 30% só decoração. “Ao contrário de Lisboa e do Porto onde se apurou também que mais de 50% dos imóveis alocados para o AL estavam devolutos mas foi necessário reabilitá-los, no Algarve o nível de investimento é diferente porque se trata de segundas habitações”, disse Ana Jacinto. A grande maioria dos alojamentos (72,9%) teve um investimento de até 10 mil euros, com o retorno esperado a decorrer numa lógica de médio a longo prazo – 6,5 anos.
Para 61,5%, “o turismo, e em particular, a gestão do alojamento local é a principal atividade e foco dos proprietários”, que estão bem distribuídos por faixas etárias, o que vem comprovar a abrangência deste tipo de negócio. Assim, 20,8% entre os 35 e os 44 anos, 22,1% entre os 45 e os 54, 25,3% entre os 55 e os 64 anos e 28,6% tem mais de 65 anos.
“A vizinhança parece ter uma opinião francamente positiva da convivência com a unidade de alojamento local”, diz o estudo, com 43,5% a referir ter uma opinião “positiva” ou até “boa” (38%) desta atividade.
Os inquiridos referiram ainda que o negócio é gerido com “grande amplitude e variação de preços entre as épocas baixa e alta com preços médios anuais em torno dos 80 a 119 euros/noite”. Na época baixa a maioria (43,9%) aplica valores entre os 50 e os 79 euros, tarifas que apenas 6,6% pratica na época alta. Nesta altura do ano 21,5% oferece preços entre os 80 e os 119 e 29,1% entre os 120 e os 149 euros.
No período em análise deste estudo do ISCTE, coordenado pela investigadora Hélia Pereira, existiam 32.405 unidades registadas no Registo Nacional do Alojamento Local (RNAL), com Albufeira, Loulé e Portimão a absorverem 52% dessas unidades.