O que querem e o que podem os jovens comprar quando o tema é a compra de casa? A Century21, no âmbito do “II Observatório do Mercado da Habitação em Portugal” aprofundou o tema dos desafios dos jovens no acesso à habitação e chegou a várias conclusões sendo que uma das principais é que cerca de 80%, ou seja, oito em cada 10 jovens portugueses entre os 18 e os 34 anos não vive onde gostaria por não ter recursos económicos para a habitação que desejam.
O inquérito realizado em junho e divulgado hoje pela Century21 revela que na base total dos cerca de 800 jovens inquiridos pela Sigma Dos (que efetuou o estudo para a Century), cerca de 63% conta com menos de 1000 euros mensais e 17,2% tem mesmo ganhos inferiores a 500 euros. Apenas 12% indicam rendimentos entre 1000 e 1500 euros, por mês.
Na faixa dos 18 aos 24 anos, somente 31,4% vive fora da casa dos pais. Este número sobe para 67,9% nos que têm entre 25 e 29 anos, e atinge os 81,2% nos jovens com mais de 30 anos.
O estudo apurou ainda que 55,7% dos jovens não são financeiramente independentes. “O facto de viverem fora da casa dos pais não significa que sejam economicamente independentes, dado que 37,2% dos jovens emancipados depende financeiramente da família ou parceiro. Já os jovens que ainda vivem com os pais, e que já dispõem de algum rendimento pontual, mais de 75% conta com o apoio económico da família”, detalha-se no estudo.
Na realidade,19,2% dos jovens não tem qualquer tipo de rendimento, indicador que sobe para 38,9% no segmento etário dos 18 a 24 anos, que ainda dependem inteiramente dos pais. Esta percentagem diminui à medida que a idade aumenta. No entanto, mais de 5% dos que têm mais de 30 anos ainda não têm rendimentos.
Quando se questiona onde desejaria viver, 33,4% dos jovens revela que gostaria de morar numa casa própria com o parceiro, 18,5% prefere viver sozinho e 1,9% com amigos. De qualquer das formas, 53,8% prefere uma opção de casa própria, enquanto 36,7% se inclina para uma habitação arrendada. Apenas 4,5% opta por habitação partilhada, quer seja arrendada ou própria.
” Quando procuramos identificar as motivações da juventude actual face à habitação, constatam-se sinais muito claros dos mesmos valores que orientaram as gerações anteriores. Neste estudo, evidencia-se o desejo dos jovens de saírem de casa dos pais para viverem em casal, numa tendência que aumenta com a idade”, sublinha Ricardo Sousa, CEO da Century21, acrescentando que “os jovens portugueses mantêm assim uma forte cultura de proprietários, à semelhança do que se verificou na geração dos seus pais”. Mesmo assim, reforça, “o arrendamento já é uma opção desejada por um em cada quatro jovens no limiar da vida adulta”.
A casa de sonho
O inquérito aprofundou também as expectativas dos jovens quanto à sua casa de sonho. A principal conclusão é, independentemente das diferentes regiões do país, a opção para adquirir a primeira casa na cidade onde já vivem mesmo que seja nas zonas periféricas do centro da cidade.
Quanto ao tipo de habitação, a primeira opção para 44,5% dos jovens é um apartamento. Contudo, esta preferência muda para uma moradia nos que têm mais de 30 anos (36,1%) e para 36,6% dos jovens algarvios. Esta tendência pode evidenciar uma maior apetência para começar a constituir família num espaço mais adequado para iniciar a vida adulta, consoante as características do parque imobiliário da região onde pretendem habitar.
Viver num estúdio é a segunda preferência (18,1%) dos que têm entre 25 e 29 anos e dos jovens de Lisboa (14%). Esta opção também é indicada por 17,1% dos portuenses e por quase 15% dos jovens no resto do País. Surpreendentemente, a opção de coliving é irrelevante e a menos atractiva para os jovens de todas as faixas etárias, exceto para 3,4% dos que têm entre 25 e 29 anos.
Quando se questiona se preferiam uma habitação nova ou usada, a maioria dos jovens (64,1%) não se importa se a casa é nova ou não, desde que esteja em boas condições. No entanto, para os que têm opinião mais concreta sobre esta questão, uma casa nova é a opção preferida de 18,8%.
A primeira casa a que os jovens portugueses aspiram para se tornarem independentes devia ter uma área de 82,8m2. Na análise por área geográfica, os jovens lisboetas são os mais moderados, a ambicionarem casas com 80 m2. No extremo oposto estão os algarvios, com a expectativa de se emanciparem para uma casa de 88m2.
Já quando se questiona o número de quartos e de casas de banho que gostariam que a primeira casa tivesse, todos os jovens- de ambos os géneros, em todos os segmentos etários e de todas as regiões do país- foram unânimes nas respostas: a habitação que pretendem para se emanciparem deve ter dois quartos e duas casas de banho.
Na casa que procuram para se emancipar, 68,6% dos jovens define ainda que o factor mais importante é a segurança da zona e o segundo aspecto mais valorizado é a qualidade da construção (52,6%), seguido da eficiência energética (43%).” Um terço dos jovens atribui também grande importância à sustentabilidade ambiental e à proximidade da habitação ao local de trabalho e aos transportes públicos, tornando-se evidente a elevada consciência de desenvolvimento sustentável que esta geração já adquiriu”, conclui-se ainda no estudo.