Valery Spiridonov tem uma doença degenerativa, Atrofia Muscular Espinhal, e decidiu arriscar ser a primeira cobaia humana a um transplante de cabeça.
“Lido com o assunto com bastante tranquilidade, à espera que a data seja confirmada. Não me importa onde ou quando, não tenho pressa. O que me importa é sentir que posso confiar no procedimento,” diz o jovem voluntário, de apenas 30 anos.
Atrofia Muscular Espinhal, também conhecida como síndrome de Werdnig-Hoffmann, é uma doença genética degenerativa que impede os movimentos de todos os membros, com a excepção das mãos e da cabeça, e que acaba por conduzir à morte – “degenera os músculos, e o coração, afinal de contas, também um músculo,” explica Spiridonov.
Quem realizará o procedimento será o controverso neurocirurgião italiano, Sergio Canavero, que tem sido muito criticado por outros neurocirurgiãos, que acham o método demasiado arriscado. Canavero garante que desenvolveu uma técnica que permitirá unir a cabeça do paciente a outro corpo saudável, doado por um indivíduo que sofra morte cerebral.
Canavero anunciou no início de setembro que a cirurgia será realizada no fim de 2017 na Universidade Médica de Harbin, na China.
“Acreditamos que teremos tudo pronto até à grande data,” confirmou Spiridonov, que é programador e artista gráfico. O russo está decidido a contribuir para os avanços da medicina e diz que nada o fará mudar de ideias.
Só falta ter autorização e tudo estará encaminhado – “A China quer tomar a iniciativa e está disposta a arriscar para obter uma vitória no meio científico. A permissão das autoridades para realizar a operação é um assunto que, apesar de não estar ainda resolvido, estará para breve,” comentou o paciente sobre o lugar onde deve ser feito o procedimento.
Canavero está a trabalhar em parceria com o médico chinês Ren Xiaoping, que, segundo Spiridonov, realizou experiências com ratos que provariam a eficácia da técnica desenvolvida pelo neurocirurgião italino – “(…) Há vídeos nos quais é possível comprovar que os ratos sobrevivem um tempo depois da operação,” afirmou Spiridonov. “A pesquisa é focada em prolongar a vida desses ratos o mais possível, a sua qualidade de vida e o processo de regeneração” após a operação.
Canevero usará polietilenoglicol, substância que irá fazer as ligações entre a cabeça e as fibras nervosas da medula, deste modo o cérebro poderá dar ordens ao corpo e pôr os órgãos e extremidades em movimento.
Em 1970, um cirurgião americano conseguiu unir a cabeça de um chimpanzé ao corpo de outro, mas não pôde conectar o cérebro com a espinha dorsal e o animal morreu nove dias depois da cirurgia.
A operação custará cerca de 9 milhões de euros e durará 36 horas, terá, ainda, a presença de 150 médicos no bloco operatório.