Nos últimos anos, em Portugal, não houve grandes surpresas políticas. Alguns volte-face eleitorais, sim, mas verdadeiras lufadas de ar fresco, atores políticos inesperados e de um arrivismo fulminante… nada. Talvez Cavaco Silva, ao celebrizar o episódio da rodagem do Citroën que o pôs na senda para ser primeiro-ministro, tenha sido a última grande surpresa. Mas nem isso é consensual. “Para mim, a única grande surpresa política dos últimos 80 anos em Portugal foi o 25 de abril”, diz António Costa Pinto, politólogo e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. A continuidade é o nosso forte. Passado, presente e futuro?
Na legislatura que começou em 2011 e que terminará este ano, muitas caras novas povoaram as filas secundárias do hemiciclo. Pelo menos dois terços dos deputados mudaram mas, dos que apareceram de novo, apenas um se distinguiu o suficiente para entrar na lista dos valores emergentes: Mariana Mortágua, do BE. Num partido diminuído, esta jovem de 28 anos trouxe a luz e a vivacidade de outros tempos, mas não tem nenhum cargo relevante nem conseguiu, ainda, projetar-se verdadeiramente a nível nacional, como exigem os atos eleitorais.
Política no feminino
Mariana Mortágua é um dos 73 rostos femininos que hoje habitam os corredores e os gabinetes do Palácio de S. Bento, o que equivale a 31,3% dos parlamentares. Há 20 anos, a percentagem de deputadas ficava-se pelos 14,6. No Governo, Maria Luís Albuquerque, a quem um certo PSD dá créditos futuros, é uma das quatro mulheres (26,66%), entre quinze ministros. São as quatro donas do Terreiro do Paço, como lhes chamou o semanário Expresso, referindo a zona de Lisboa onde estão situados os seus ministérios Finanças, Administração Interna, Justiça e Agricultura.
Parece um salto de gigante na feminização da política, mas António Costa Pinto defende que é um processo lento, com altos e baixos e que está a ser induzido do exterior. “Na realidade, quase todos os estudos sobre o maior número de mulheres na política concluem que, apesar disso, a forma de fazer política não mudou”. Continua a ser um mundo com regras masculinas.
A grande incógnita no nosso País, para este politólogo, é saber “se Portugal vai acompanhar a tendência europeia para uma crise nos partidos tradicionais e o aparecimento de partidos extremistas.
Essa é a tendência na Europa”. Por cá, os sinais são ténues. “Essas pessoas aparecem com as crises, como a que vivemos desde 2008”.
A caminho do extremismo?
A recente entrada de Marinho e Pinto, ex-Bastonário da Ordem dos Advogados, na política, serve de exemplo de novas tendências, ligadas a movimentos sociais e figuras fora da lógica mais tradicional dos partidos, mas não é um extremista.
E os seus resultados eleitorais são ainda muito baixos. “Há uma certa desafetação dos portugueses em relação à forma de fazer política, mas ela não tem tradução eleitoral”, explica Costa Pinto.
Neste contexto, é muito difícil prever quem serão os rostos apartidários que podem conquistar os portugueses. Mas um deles tem vindo a ganhar cada vez mais relevância e poder, incluindo mediático: Carlos Alexandre.
O superjuiz não é uma nova esperança, um jovem turco ou alguém de uma nova geração, mas é uma cara nova… na política.
E há um abaixo assinado alojado no site peticaopublica.org cujo objetivo é “Carlos Alexandre para primeiro-ministro”.
É por isso que o juiz mais conhecido dos portugueses está na lista que se segue, junto a uma fornada de políticos apta a sobreviver, num futuro mais próximo, ou mais distante. Ainda assim, este é um artigo para reler e validar nos próximos anos.