Foram vários os lugares que marcaram a vida de D. Manuel I. Numa série em video e podcast, Isabel Stilwell leva-nos a conhecer os sítios importantes para o Rei e que inspiraram o seu novo romance histórico.
3º Episódio
Herdade da Coroada, 11 de Janeiro de 1481
O lugar é de uma beleza de tirar o fôlego, sobretudo na Primavera, em que os campos alentejanos deste sítio do concelho de Moura, estão todos em flor, enquadrados por montanhas, no horizonte. O cronista Rui de Pina diz-nos que foi aqui, no lugar da Coroada, junto do ribeiro que aqui corre, que no dia 11 de Janeiro de 1481 aconteceu uma cena digna de filme: Isabel, a filha mais velha da poderosa Isabel, de Castela (mais tarde Isabel, a Católica), então com dez anos, foi entregue como refém a D. Beatriz, duquesa de Viseu e Beja, no cumprimento do Tratado de Alcáçovas. A duquesa, por seu lado, dá aos castelhanos como penhor o seu filho de 11 anos, o nosso D. Manuel.
A escritura da troca é redigida por Rui de Pina, e assinada e reconhecida pelos cavaleiros presentes, nomes sonantes de um e de outro reino.
É a primeira vez que o filho mais novo da duquesa de Viseu e Beja vê D. Isabel, e as crónicas garantem-nos que foi aquele o momento em que se apaixonou por ela.
Todos os presentes imaginavam já então que aquela pré-adolescente loira de olhos verdes, muito parecida com a mãe, seria um dia rainha de Portugal — por casamento com D. Afonso, o único filho de D. João II e D. Leonor, mas seguramente ninguém terá dado a menor importância ao adolescente que naquele dia partiu por tempo indefinido para a corte castelhana.
Neste lugar existe ainda hoje uma pequena igreja construída ou por cima ou muito próxima da ermida que testemunhou tudo o que aqui aconteceu. Vandalizada, roubada, as lápides do chão partidas e os túmulos devassados, mantém ainda os frescos do altar mor, que em breve também estão condenados a desaparecer. Há quase dois anos, quando a visitei pela primeira vez no decurso da investigação para o meu livro, alertei as autoridades que considerei competente. A certa altura acreditei que alguma coisa se faria para preservar o lugar que marcou o encontro de duas crianças que se iam tornar rei e rainha de Portugal, mas nesta reportagem para a Visão constatei que o tempo só contribuiu para a sua destruição. Tenho esperança de que o alerta desta vez seja escutado.
Veja o video:
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