Contando com a colaboração de uma mão-cheia de investigadores e especialistas, a VISÃO História n.º 49 oferece uma panorâmica esclarecedora, com uma grande diversidade de pontos de vista, sobre uma das maiores nódoas da história da Humanidade, a escravatura. O número abrange um arco temporal entre a Antiguidade Clássica e o século XX, onde a escravatura encapotada recebeu, nas colónias portuguesas, o nome de trabalho forçado.
Arlindo Manuel Caldeira, autor do livro ‘Escravos e Traficantes no Império Português’, serviu de conselheiro nesta edição e assina vários artigos, nomeadamente um sobre os tráficos africanos. Entre os colaboradores portugueses, caboverdianos, alemães e brasileiros, merece uma referência especial o historiador brasileiro João José Reis, considerado uma referência mundial no assunto.
SUMÁRIO
Na Grécia e na Roma antigas Por via do cinema e de outros meios de comunicação, a cultura popular associa ainda prioritariamente a escravatura ao quadro da Antiguidade Clássica mediterrânica. Mas o que eram ao certo, como viviam e eram vistas então as pessoas de condição servil? Por Paulo Ferreira
As cruzes da Via Ápia O nome de Espártaco (ou Spartacus), o gladiador que encabeçou a maior revolta de escravos contra Roma, é ainda hoje, passados mais de 2 mil anos, sinónimo de luta pela liberdade. Por Luís Almeida Martins
E na Idade Média? Entre a Antiguidade e a era do tráfico atlântico estendeu-se um longo período com outras modalidades da servidão. Por Maria Filomena Lopes de Barros
Os cativos ‘cristãos’ no Norte de África Eram escravos até conseguirem pagar o resgate pedido. Muitos convertiam-se ao Islão e os que voltavam tinham problemas com a Inquisição. Por Alexandre Monteiro
ÁFRICA
Os tráficos africanos Cerca de 13 milhões de escravizados africanos foram transferidos para as Américas entre os séculos XVI e XIX, mas é hoje aceite que não foram os europeus a introduzir a escravidão em África nem a levar para lá a escravidão mercantilizada. Por Arlindo Manuel Caldeira
São Tomé e Príncipe: entre forros e mocambos As ilhas de São Tomé e Príncipe, desabitadas à chegada dos portugueses, percorreram todas as fases históricas relacionadas com o tráfico e as monoculturas. Por Gerhard Seibert
Cabo Verde: a servidão ‘especializada’ Apesar da sua grande violência, o tráfico negreiro terá funcionado como canal de difusão de tecnologias e saberes agrários pelo mundo atlântico. Por António Correia e Silva
BRASIL
A escravidão no Brasil colonial O esclavagismo foi um pilar da economia do Brasil na época colonial. Prolongou-se mesmo para lá da independência do país, em 1822, e viria a ser uma das principais causas da queda do império. Por Cândido Domingues
Quilombos e resistência Os extremos da acomodação total e da rebelião radical foram excecionais, sendo mais comum o jogo nervoso de negociações, tensões e conflitos quotidianos. Por João José Reis
Religião: viver sem (a) graça Os nomes de António Vieira e Bartolomé de las Casas remetem-nos para questão da «legitimidade» religiosa – ou não – da escravatura. Por Luís Almeida Martins
Do auge ao fim As leis «para inglês ver» e as formas de os escravos obterem a alforria dariam lugar, após a abolição, ao «racismo científico». Por Jackson André
PORTUGAL
Escravos e negros livres em Portugal Em meados do século XVI, cerca de um décimo dos habitantes de Lisboa chegou a ser de origem africana. O que fazia e como vivia essa larga fatia da população. Por Jorge Fonseca
Vindos da Ásia Indianos, chineses, javaneses, birmaneses e naturais de outras regiões asiáticas faziam parte da paisagem humana de Portugal entre os séculos XVI e XVIII. Por Arlindo Manuel Caldeira
ABOLIÇÃO
Uma vitória da ideologia Têm sido apontadas diferentes explicações para a surpreendente decisão de pôr fim à escravatura. Tratou-se, afinal, de uma inesperada conquista moral dos povos ocidentais. Por João Pedro Marques
O internacionalismo abolicionista Não bastam as explicações endógenas, ou nacionalistas, para um fenómeno fortemente marcado pela circulação internacional e transnacional. Por Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro
Haiti: A invenção da liberdade Embora não da igualdade. Mesmo assim, a parte ocidental da ilha Hispaniola tornou-se o primeiro Estado independente da América Latina e o primeiro a ser governado por ex-escravos. Por Luís Almeida Martins
EUA: Do esclavagismo à segregação Apesar das proclamações, os primeiros presidentes possuíam escravos, e foi preciso esperar até à década de 1960 para a segregação ser banida da lei norte-americana. Por Ricardo Silva
O emancipacionista Sá da Bandeira Apesar das proclamações, os primeiros presidentes possuíam escravos, e foi preciso esperar até à década de 1960 para a segregação ser banida da lei norte-americana. Por João Pedro Marques
Ultramar português: E depois, o trabalho forçado Sob o signo da erradicação da escravatura, o trabalho forçado foi apresentado como fundamentalmente diferente daquela, que passaria a ser ilegal e apenas propriedade das populações nativas. Por Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro
Entrevista Ana Lúcia Araujo Historiadora e professora na Howard University, nos EUA, Ana Lúcia Araujo tem trabalhado na história transnacional da escravidão e na sua memória pública