O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, já afirmou que as chuvas destas monções, que têm causado inundações em todo o país, são “provavelmente as piores da história do país” e, pelo menos, um fenómeno “sem precedentes em 30 anos”.
Segundo o chefe de Governo, que está a percorrer as zonas mais duramente atingidas, as inundações das monções que começaram em junho, são “como um oceano, há água por todo o lado”.
Mais de mil pessoas morreram, entre elas mais de 300 menores, desde o início das monções, avançou a Autoridade Nacional de Gestão de Catástrofes paquistanesa no início desta semana.
“Os efeitos das alterações climáticas estão à nossa porta”, disse a ministra das Alterações Climáticas, Sherry Rehman, que há alguns dias tinha descrito o evento como a “monção monstruosa da década”.
A organização não-governamental Save the Children apelou à comunidade internacional para fornecer ajuda humanitária “urgente e adicional” ao Paquistão em resposta ao desastre que assola o país há semanas.
“As inundações no Paquistão causaram perdas de vidas devastadoras. Aldeias inteiras foram engolidas pela água, deixando famílias e crianças presas”, disse o diretor da Save the Children no Paquistão, Juram Gondal, que descreveu a situação como uma “devastação total”.
As chuvas torrenciais, especialmente devastadoras na província meridional de Sindh, onde mais de 20 municípios ficaram submersos, fizeram com que cerca de 33 milhões de pessoas (ou uma em cada sete) fossem afetadas pela catástrofe e levaram o Governo a declarar a situação de calamidade em mais de 50 distritos. Há ainda relato da destruição de mais de 80 mil hectares de terra cultivada, mais de 3 400 quilómetros de estradas e 157 pontes. Mais de 735.000 cabeças de gado também foram dadas como perdidas.
“Centenas de milhares de casas ruíram, mais de mil pessoas ficaram feridas. É evidente que se trata de uma emergência humanitária e climática maciça. As crianças são sempre as mais afetadas”, argumentou Gondal.
A ONG já ajudou em 2022 mais de 11 mil pessoas no Paquistão, incluindo 5.752 crianças, através de mecanismos de resposta a inundações, e está atualmente a operar no Baluchistão, uma das províncias mais afetadas por este episódio de monções, no sudoeste do país.
Estas tempestades são comparáveis às de 2010, quando duas mil pessoas morreram e quase um quinto do país ficou submerso pelas chuvas das monções, ventos sazonais associados à alternância entre a estação das chuvas e a estação seca, que geralmente duram de junho a setembro.
As monções são comuns no país, mas este ano choveu o dobro do habitual no Paquistão e em algumas províncias a precipitação foi mais de quatro vezes superior à média nos últimos 30 anos.
As inundações chegaram também numa altura em que a economia do país está em colapso, depois de entrar numa profunda crise política desde que o primeiro-ministro Imran Khan foi deposto em abril.
A monção, designação dos ventos sazonais associados à alternância entre a estação das chuvas e a estação seca, entre junho e setembro, é essencial para a irrigação de culturas e reconstituição dos recursos hídricos do subcontinente indiano.
Guterres pede fundos e desloca-se ao país
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu apoio financeiro internacional urgente para 5,2 milhões de pessoas vítimas das inundações históricas.
Para socorro imediato da população mais afetada, as Nações Unidas lançaram um apelo de 160 milhões de dólares (aproximadamente o mesmo valor em euros). Com os fundos pedidos pretende-se fazer chegar a 5,2 milhões de pessoas “alimentos, água, saneamento, educação de emergência, proteção e apoio à saúde”, disse o secretário-geral, que se desloca ao país na próxima semana. Guterres vai chegar a Islamabad, capital do Paquistão, no dia 9 de setembro, de onde partirá para as áreas mais afetadas.
com Lusa