1,90 X 0,56. É esta a medida da última morada desta senhora de 80 anos que morreu no hospital com Covid-19. Na verdade, mais centímetro menos centímetro, é esta a ultima morada de todos nós, mas, por causa do vírus, esta senhora foi colocada nua em dois sacos hermeticamente fechados e não teve ninguém no seu funeral – o marido não pode ir porque era um potencial risco de propagação da doença e coube à agência funerária fazer de família e amigos nestas últimas horas.
Numa cerimónia de poucos minutos, o sacerdote vez a encomendação da alma e a funcionária da agência, com uma rosa na mão, fez-lhe companhia para humanizar, dentro do possível este momento.
Não é obrigação, mas, como dizia, “é o mínimo que podemos fazer, para dar um pouco de dignidade a este momento”.
Sendo uma cremação, nem os homens que transportam a urna puderam sair do carro para se juntar à cerimónia. Não fosse a rosa, esta mulher teria ido sem nada, uma vez que nem a cruz de plástico que estava pregada no cimo da urna podia levar.
Amanhã, domingo, 3 de maio, é o dia em que as restrições da presença de familiares nos funerais são levantadas.