Quando, na passada sexta-feira, 13, recebo o telefonema do Centro de Dia onde tenho a minha mãe de 88 anos a informar que todos os idosos tinham que ir para casa, na melhor das hipóteses, até dia 13 de abril percebi que era só mais uma coisa que me obrigava a não cumprir o que se pede a todas as pessoas – “Fica em casa” – mas esta não é a única razão: o meu pai também tem 86 anos e muitos problemas de saúde, não vê de um olho, vai ao WC de hora a hora e, desde novembro de 2019, tem um problema de pele que nenhum especialista ainda conseguiu diagnosticar. Mas a dificuldade não acaba aqui: tenho uma filha que não tem aulas mas, como já tem 13 anos, não está abrangida pela decisão do governo relativa às faltas justificadas dos pai e, para completar, a mãe desta criança tem saído de casa todos os dias para ir trabalhar porque é enfermeira e está em estado de alerta (Contingência fase III – Mitigação).
Desculpem, mas vou ter que interromper este texto durante algum tempo. É que são horas de almoço e tenho que ir levar uma sopa que fiz para os meus pais e dizer-lhe que hoje, apesar de ser o dia dele, não lhe posso dar um beijo…
… Já voltei. Está tudo bem com eles. Quando chego ao prédio, ponho as luvas e toco a campainha. Quando o meu pai abre a porta, fico indeciso se lhe dou um abraço do Dia do Pai ou se lhe digo só “olá”. Desculpem, mas não resisti, é meu pai, tem 86 anos e não sei quantos mais Dias do Pai ele vai cá estar para o abraçar e, se virmos bem as coisas, tenho estado com eles todos os dias e tenho tomado as medidas de precaução. A grande dificuldade têm sido explicar a minha mãe que não pode sair de casa. É que a doença de Alzheimer tem destas coisas – não faz a mínima ideia do que se está a passar e não percebe porque não pode “ir até a rua dar uma voltinha”. Não vou conseguir controlar isto e não é por mal que ela não cumpre o pedido “Fica em casa”. Até já lhe disse que se a apanharem na rua pode ser presa, ao que me respondeu: “Presa? Mas eu não fiz mal a ninguém!”. Hoje consegui que ficasse só pela janela. Nesta história também entra a minha filha de 13 anos, que passa os dias em frente a mim na mesa da sala a fazer trabalhos de casa. Diz ela que os trabalhos diários são mais do que aquilo que fazem por semana em sala de aula, mas tem sido uma trabalhadora exemplar entre o Instagram, Tic-Toc, Snapchat e Twitter.
Falto eu nesta história. Tenho saído quase todos os dias para fotografar o que é preciso para a VISÃO – durante o tempo que estou em casa ou em viagem à casa dos meus pais, vou fotografado o que posso, é este o meu contributo para que este tempo fique registado para no futuro: Fazermos tudo o que pudermos para não voltar a ser preciso pedir ao ser humano que “fique em casa”
Só uma nota: hoje é Dia do Pai e faz hoje 13 anos que comecei esta aventura de ser fotojornalista na melhor revista do mundo, a VISÃO.