Pode não parecer, mas Naveen Jain consegue ir à Lua e voltar sem tirar os pés do chão e sem se levantar do sofá. Foi assim que desbloqueou alguns dos mais entusiasmados aplausos da principal plateia do Web Summit durante a manhã de hoje. O fundador e CEO da Moon Express está apostado em criar uma plataforma que tanto pode ser usada para o turismo e a exploração de matérias-primas, como para criar abrigos em túneis de lava, que poderão funcionar como alojamento das primeiras colónias humanas na Lua. «Em 2050, o preço de uma viagem à Lua não será superior ao de uma viagem de Nova Iorque a Sidney». É esta certeza que levou o CEO da empresa sedeada na base espacial de Cabo Canaveral («entre a Space X e a Blue Origin») a dizer que, em breve, as luas de mel serão mesmo passadas na Lua e não no Havai. Em entrevista para a Exame Informática, Naveen Jain recorda que as duas primeiras viagens da Moon Express, previstas para 2017, ainda deverão custar sete milhões de dólares. Caso se confirmem, as duas missões vão mesmo inaugurar a corrida à exploração do Espaço por empresas privadas.
Até onde consegue a humanidade ir em 2050?
Não tenho dúvidas de que nos próximos 30 ou 35 anos a humanidade vai tornar-se numa sociedade multiplanetária. Hoje, apenas estamos confinados à Terra, mas vamos conseguir expandir-nos para a Lua, para Marte e talvez para as luas de Saturno e de Júpiter… porque todas as luas destes dois planetas têm quantidades de água enormes, têm oceanos maiores que aqueles que existem na Terra. O que aumenta as chances de ter vida nesses locais, porque a água pode ser usada para alimentar os foguetões. Tem hidrogénio. E também tem oxigénio que é consumido pelos humanos. Sim, é verdade que vamos poder viver num nestes planetas.
Ir a Marte pode demorar sete meses… para Júpiter, provavelmente, será muito mais tempo. Estas viagens tão longas não serão um entrave para a colonização desses planetas?
Com as tecnologias de hoje, podemos ir à Lua em três dias. E mesmo para Marte podemos, consoante o alinhamento que assume face à Terra, a viagem pode demorar entre quatro e nove meses. Claro que vai haver evoluções, que nos vão permitir chegar a tecnologias que nos vão colocar mais rapidamente nesses planetas… mas é preciso não esquecer que hoje já há pessoas que passam seis ou sete meses em barcos, a transportar mercadorias da Índia para a América. Não é uma coisa incomum passar muito tempo em viagem. Estas viagens no Espaço vão permitir de, alguma forma, transportar a humanidade… que deixará de não estar confinada a um único planeta, que poderá ser destruído caso caia um asteroide ou o ecossistema terrestre seja destruído e leve à morta de toda humanidade.
A Moon Express é a única empresa com autorização para explorar a Lua. Que tipo de missões vão lançar em 2017?
Somos a única companhia que tem a autorização para viajar em órbita e aterrar na Lua… no próximo ano, vamos lançar duas missões. O nosso objetivo é fazer negócio e não só ciência. A primeira missão terá como objetivo testar todo o hardware e software que permitam uma alunagem. Uma vez que consigamos fazer isso, ficaremos em condições para explorar recursos na Lua ao mesmo tempo que procuramos os locais mais indicados para nos instalarmos, os locais onde há água, a partir da qual poderemos fazer a eletrólise para produzir hidrogénio… as nossas missões estarão constantemente em busca de duas coisas: encontrar recursos e gerar os recursos que permitam viver lá (na Lua).
Durante essas missões, vão usar veículos espaciais autónomos ou pilotados por humanos?
Há seis meses foi aprovada uma lei nos EUA, que nos permite trazer para a Terra e ficar com toda matéria-prima que encontremos na Lua.
Basicamente, os EUA passam a ser proprietários da Lua…
Não, não, e não! Se olhar para as águias internacionais… verificamos que não são detidas por nenhum país, mas qualquer país ou empresa pode ir lá pescar, apesar de não ter a propriedade dessa água. Do mesmo modo, nós não vamos ter a propriedade da Lua, mas seremos donos dos recursos que explorarmos lá.
Que recursos podem ser encontrados na Lua?
A NASA tem vindo a estudar a Lua pormenorizadamente nos últimos 50 anos… sabemos que todos os asteroides que têm colidido com a Lua são ricos em derivados da platina, como o ouro. A lua também está cheia de radiação solar que produz Hélio 3, que é o melhor recurso renovável para produzir energia. E não é radioativo. Uma pequena quantidade de Hélio 3 pode gerar energia necessária para suportar várias gerações. Temos de pensar como é que tornamos este país melhor ao mesmo tempo que tentamos encontrar forma de sair deste planeta.
A exploração da Lua não tem de respeitar restrições do ponto vista do equilíbrio planetário e ecológico?
Quando olhamos para a Lua, vemos imensas crateras. Os asteroides colidem e deixam uma grande quantidade de materiais que ficam na Lua. Nós apenas queremos recolher esses materiais, não estamos a falar de fazer buracos na Lua. É dos asteroides que vem a riqueza.
E acredita que vai conseguir ter todos os meios necessários para fazer esses voos experimentais?
Claro.
Quanto é que custam as missões do próximo ano?
A evolução tecnológica tem permitido reduzir significativamente custos das missões de exploração espacial. Há seis anos, o custo destas missões seria de centenas de milhões de dólares. Na primeira vez que se foi à Lua (em 1969), foi exigido um investimento na ordem dos milhares de milhões de dólares. No próximo ano, prevemos que cada missão tenha um custo inferior a sete milhões de dólares. E vai ainda descer mais… Um rocket pode ter um custo de quatro milhões hoje, mas vai descer para um milhão de dólares. O que significa que cada uma das nossas missões pode vir a custa dois milhões de dólares. Nos próximos, cinco anos já poderemos usar foguetões reutilizáveis. Logo, o único custo a suportar será o do combustível. O que será na ordem das centenas de milhares de euros. O que vai alterar completamente o paradigma.
Esses valor não têm em conta os custos da exploração e de criar infraestruturas na Lua…
Esqueça a Lua. Hoje, para explorar minérios na Terra já temos de gastar milhares de milhões de dólares… mas estamos a destruir o nosso planeta, estamos a ir a profundidades cada vez maiores. Imaginem que se consegue ter uma quantidade superior (de minérios) com custos bastante inferiores. E será bastante fácil trazer esses materiais porque a gravidade será nossa amiga. Apenas vamos explorar o material que vem com os asteroides… não vai ser necessário explorar matéria-prima na Lua, porque estes asteroides são tão ricos…
… com tantos asteroides a colidirem na Lua, como é que se pode garantir a segurança de todos os turistas, que segundo a sua previsão, não tardarão a ir à Lua?
Vai ser possível viver dentro da bioesfera… Podemos viver naqueles habitáculos insufláveis criados pela humanidade. Além disso, podemos contar com os tubos criados pela lava dos vulcões… há um enorme número de tubos de lava na Lua. São túneis, que foram criados pelos fluxos de lava. Imaginem que, a longo prazo, encontramos vida. A natureza é espantosa… e dá-nos resposta para muitos problemas. Imaginemos então que encontramos vida bacteriana, que pode querer consumir radiação como fonte de energia. Agora, imaginemos que pegamos no material genético dessas bactérias e a usamos para modificar o nosso material genético. Logo, poderíamos retirar o material genético dessas bactéria que sabem como viver com a radiação e inseri-la nos humanos para que possamos também viver no meio da radiação sem sermos destruídos.
Presumo que para um investidor seja difícil aceitar de ânimo leve essas previsões e aplicar dinheiro num projeto com tantas reticências…
Isto está já a acontecer. Os empreendedores estão a trabalhar em todas as coisas que são necessárias, e a carneirada acabará por segui-los. Sabe quem é carneirada neste caso? São os investidores de capital de risco? Quando se lhes mostra que é possível eles seguem-nos como carneirinhos.
É provavelmente o investimento mais arriscado que pode encontrar…
Não, não há risco nenhum. O dinheiro corre se houver uma possibilidade de negócio.
Elon Musk aposta em Marte… Como é que vê este projeto?
Não há uma questão de ou se vai a Marte ou se vai a outro lado… ir a Marte é a coisa mais certa para se fazer. A questão é qual é que vai ser o principal o objetivo prioritário. A NASA disse claramente e os Europeus também: ir à lua é que deve ser o principal objetivo… também tem reduzida atmosfera, grande exposição às radiações, e baixa gravidade… então por que é que não descobrimos uma forma de nos estabelecermos na Lua. Uma vez que tenhamos feito isso, podemos então levar a essa tecnologia para Marte.
O que acha de projetos como o Mars One?
É uma boa ideia com má implementação. A exploração do Espaço tem de ser feita com empreendedorismo e não com crowdfunding (Mars One é também uma iniciativa de um empresário holandês que tem por base um reality show).
Qual a vossa relação com as agências espaciais governamentais?
Nós já trabalhamos com a NASA… A NASA já nos deu o correspondente a 10 milhões de dólares pelos nossos conhecimentos e também nos dá dinheiro pelos nossos dados… na última semana, a NASA também propôs que as missões de empresas privadas levem as suas experiências científicas para a Lua… ter uma parceria com a NASA, é como ter uma parceria com a SpaceX.
Ainda não deu para perceber bem: a Moon Express pretende ser uma empresa de transporte ou uma empresa de exploração de recursos naturais?
A plataforma que estamos a criar pode ser usada para levar pessoas à Lua, ou para transportar carga para a Terra… há vários tipos de uso. Podem ser adicionadas várias utilizações possíveis… permitiremos que outros implementem soluções e até criem o próximo Pokémon Go (na Lua).
Quanto é que custará uma viagem à Lua?
Diria que, em 2050, o preço de ir à Lua não será superior do preço que se paga de uma viagem de Nova Iorque a Sidney. Qualquer coisa como um par de milhares de dólares. Vai ser muito barato.
E será também seguro?
Bastante seguro.